Mirielle Carvalho
Como dizem os tuiteiros, o vira-lata caramelo já pode ser considerado uma instituição nacional. Em 2020, por exemplo, a campanha para que o simpático cachorrinho estampasse a nota de R$ 200 foi um dos memes de sucesso do ano — a ponto de fazer com que o Banco Central usasse o vira-lata para anunciar a cédula com o lobo-guará. Agora o reconhecimento do cãozinho chegou à Câmara dos Deputados: o deputado Felipe Becari (União Brasil-SP) apresentou um projeto para transformar a expressão “vira-lata caramelo” numa manifestação cultural imaterial brasileira.
Na justificativa do Projeto de Lei (PL) 1897/2023, Becari afirma que a expressão está arraigada na cultura do Brasil. “O que torna esses animais especiais é a sua mistura de raças, que resulta em uma grande variedade de características físicas e comportamentais. Além de serem muito bonitos, os vira-latas caramelo são também conhecidos pela sua inteligência e carinho”, lê-se na justificativa do projeto.
Além disso, afirma o deputado na justificativa do PL, “podemos dizer que os vira-latas caramelo são uma parte importante da cultura brasileira e representam muito mais do que apenas um tipo de cachorro. Eles são símbolos de lealdade, amor e respeito aos animais, e ajudam a mostrar que a diversidade é uma das nossas maiores riquezas”.
O projeto, que na visão de Becari poderia estimular adoções, aguarda despacho do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Leia o que o deputado Fellipe Becari diz sobre o projeto:
Por que o senhor decidiu propor um projeto para reconhecer a expressão ”vira-lata caramelo” como manifestação cultural imaterial brasileira?
Sou um defensor da causa animal e fui eleito pelas pessoas que amam o meio ambiente e os animais, consequentemente os cachorros. Só no instituto que sou apoiador temos quase mil animais à espera de adoção. Somam-se a eles outros milhares de vira-latas Brasil afora que aguardam um lar e o carinho dos seus tutores. Trata-se de um problema a ser enfrentado pelo país e o Parlamento é o espaço para estas discussões.
De que forma um cachorro é uma manifestação cultural?
A manifestação cultural, neste caso, é a expressão ”vira-lata caramelo” e não aplicável ao animal em si.
Como ficam os vira-latas de outras cores?
Os outros vira-latas ficam simbolicamente abraçados por esta iniciativa, que visa conscientizar e incentivar a adoção de animais maltratados e abandonados em geral, e também desestimular a compra de animais.
Na justificativa do PL, o senhor diz que os vira-latas ainda sofrem com o preconceito de algumas pessoas, que os consideram menos nobres do que os cães de raça. Como o projeto poderia mudar isso?
A cultura da adoção historicamente vem se desenvolvendo cada dia mais em nossa sociedade, e assim temos que continuar. Então, todas as iniciativas que colaborem nesse sentido serão positivas. Promovemos, paralelamente, campanhas em redes sociais, palestras em escolas e outros espaços públicos para conscientizar as pessoas sobre a importância de adotar o animal ao invés de comprar.
Por que apresentar uma proposta para tornar a expressão uma manifestação cultural nacional e não apostar em outra medida mais protetiva aos animais abandonados?
A iniciativa não é isolada. Existem vários projetos tramitando no Congresso Nacional com o objetivo de proteger os nosso animais. Sou relator do Projeto de Lei 4705/2020, que visa proibir o comércio de espécimes da fauna silvestre em qualquer situação.
Além disso, também protocolei no início do ano o PL 752/2023, que aumenta todas as penas para os crimes cometidos contra a fauna, e o PL 1529/2023, para dispor sobre a dedução das despesas com alimentação animal e de tratamento médico-veterinário no Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF), o que também é uma iniciativa que visa incentivar as adoções na medida em que as pessoas terão maiores condições de arcar com estes custos.
Outras medidas vem sendo tomadas, portanto, para incentivar a adoção dos vira-latas e que bom que tivemos a oportunidade agora de apresentá-las. Cabe lembrar, também, que tramita na Justiça uma ação promovida por entidades de defesa animal que objetiva a proibição da comercialização de animais pela OLX, Mercado Livre e sites similares, o que também se soma na luta pela adoção de animais abandonados no país.
