Abertura dos trabalhos

‘O povo brasileiro não quer conflito entre as instituições’, diz Lula no STF

Abertura do ano Judiciário de 2023, realizada no Plenário reformado do STF, contou com todos os chefes dos Três Poderes

Lula STF
O presidente Lula e a primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, chegam no STF / Crédito: Antonio Cruz/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, durante a cerimônia de abertura do ano Judiciário de 2023 nesta quarta-feira (1/2), que o povo não quer mais conflito entre as instituições.  Além da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, a cerimônia contou com a presença do chefe do Executivo e com o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Rosa Weber destacou que todos aqueles que conceberam, praticaram e financiaram os atos de vandalismo do dia 8 de janeiro serão responsabilizados. No discurso, Lula também condenou a depredação dos prédios públicos e falou sobre a relação que pretende manter com o Judiciário. 

“Tenho a certeza de que, assim como em meus mandatos anteriores, a relação entre o Executivo Federal e a Suprema Corte, o Poder Judiciário como um todo, terá como alicerce o respeito institucional. O povo brasileiro não quer conflito entre as instituições”, ressaltou o presidente.

Em seu discurso, Lula relembrou sua fala na abertura do ano Judiciário de 2010, quando afirmou que a geração de governantes da época tinha a missão de deixar para os que estão por vir um ambiente democrático ainda mais sólido do que aquele que encontraram quando ingressaram em suas funções. O presidente destacou que, naquele momento, ninguém imaginava a escalada antidemocrática que culminou na depredação da Esplanada dos Ministérios no dia 8 de janeiro deste ano. 

“Não foi um episódio nascido por geração espontânea, mas cultivado em sucessivas investidas contra o Direito e a Constituição, com o objetivo de sustentar um projeto autoritário de poder”, declarou Lula.

O presidente reafirmou a importância do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no combate aos ataques antidemocráticos. “Daqui desta sala, contra a qual se voltou o mais concentrado ódio dos agressores, partiram decisões corajosas e absolutamente necessárias para enfrentar e deter o retrocesso, o negacionismo e a violência política”, disse.

Em seu discurso, a presidente do Supremo observou que “não sabiam os agressores de 8 de janeiro que o prédio-sede do STF, na leveza de suas linhas e na transparência de seus vidros, enquanto símbolo da democracia constitucional é absolutamente intangível à ignorância crassa da força bruta”. E continuou: “Concebida em cerâmica de Petrópolis por Alfredo Ceschiatti na escultura também vandalizada que orna a parte frontal desta Corte, a Justiça sobreleva e perdura pois habita o espírito das instituições democráticas, e não a argamassa ou os tijolos de seus prédios”. (Leia a íntegra do discurso de Rosa Weber)

A ministra ainda destacou que haverá responsabilização dos que participaram e financiaram os atos de vandalismo: “Só assim se estará a reafirmar a ordem constitucional, sempre com observância ao devido processo legal, resguardadas, a todos os envolvidos, as garantias do contraditório e da ampla defesa, como exige e prevê o processo penal de índole democrática”.

Para Lula, a fome, a desigualdade, a falta de oportunidades, o extremismo e a violência política, a destruição ambiental e a crise climática; são os verdadeiros inimigos do povo. “Tenho a certeza de que juntos vamos enfrentá-los e de que, juntos, poderemos superá-los. Numa nação historicamente marcada pelas desigualdades a tarefa de superá-las deve ser compartilhada entre todas as pessoas e instituições com responsabilidade pelo destino do país”, disse.

O presidente afirmou que o STF é ator fundamental na luta contra as desigualdades e citou decisões da Corte que exemplificam sua fala, como a da Lei de Cotas no acesso às universidades, da titulação das terras e comunidades quilombolas, da união estável entre pessoas homoafetivas, da pesquisa com células tronco, entre outros.

Lula cita também a atuação do STF “durante a pandemia para tirar da inação um governo que se recusava a atender as necessidades básicas da população”. Esse foi mais um discurso do atual presidente com críticas ao antecessor, Jair Bolsonaro.

“[O STF] Atuou para enfrentar a indústria de mentiras no submundo das redes sociais e para coibir os mais notórios propagadores do ódio político. Atuou, por meio de seus representantes na Justiça eleitoral, para garantir nosso avançado processo eletrônico de votação e a própria realização das eleições do último ano. Esta Corte atuou e continua atuando para identificar e responsabilizar por seus crimes aqueles que atentaram de maneira selvagem contra a vontade das urnas. A história há de registrar e reconhecer essa página heróica do judiciário brasileiro”, destacou.

O presidente concluiu sua fala afirmando que o Poder Executivo estará à disposição do STF e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para o diálogo e a construção de uma agenda institucional que aprimore a garantia e a materialização de direitos deste país. “Só assim a democracia será sempre defendida por aqueles que dela necessitam, ou seja, a maioria da população brasileira. Uma democracia para poucos jamais será uma verdadeira democracia”, afirmou.