A eleição não está no Nordeste, está no Sudeste, de acordo com a lógica de operadores políticos do centrão. A dez dias do início das convenções partidárias, o núcleo político da campanha de Jair Bolsonaro parece mais preocupado em resgatar o voto de cerca de 10 milhões de eleitores na região que, a despeito do apoio dado ao então candidato do PSL em 2018, resistem a repetir a escolha em outubro.
A lógica nasce de duas premissas. A principal relacionada à vantagem do PT no Nordeste, superlativa o suficiente para os bolsonaristas apegarem-se ao fato de que, até o momento, o presidente da República conquistou a intenção de voto de cerca de 1 milhão de nordestinos a mais do que obteve no resultado do pleito passado. Com a eventual promulgação da PEC que, entre outras medidas dobra o vale-gás e eleva o Auxílio Brasil para R$ 600, que deve ocorrer ainda nesta semana e viabilizar os pagamentos a partir do fim de julho, a aposta é de que a medida ajude Bolsonaro a crescer na região, atingindo pelo menos 30% dos votos, de acordo com a lógica mais otimista.
A discrepância na vantagem para o ex-presidente Lula, portanto, teria de ser compensada na região que abriga os dois maiores colégios eleitorais do Brasil, São Paulo e Minas Gerais, além do reduto eleitoral de Bolsonaro, o Rio de Janeiro, que abrigará o lançamento oficial da candidatura no próximo dia 24. A fórmula dos profissionais da política no entorno de Bolsonaro em busca do voto perdido passa pela economia e pela profissionalização da campanha. Em outras palavras, saber comunicar melhor as entregas do governo ao longo desses três anos e meio ao invés de distrações infundadas relacionadas à segurança do processo eleitoral, que só interessam à base mais radical.
É nessa equação para falar aos que não estão mais convertidos no Sudeste que se inserem os combustíveis. A redução do preço, registrada nas últimas semanas, em decorrência da aprovação da lei federal que impôs um teto à incidência do ICMS, dobrando a resistência inicial dos governadores, é uma inegável vitória do bolsonarismo, que pretende faturar ainda mais eleitoralmente ao exigir, através de decreto, que os postos terão de indicar o preço anterior à aprovação da legislação. O PT vai à Justiça para bloquear a manobra, mas o arsenal do Executivo não para por aí.
É um consenso no centrão que a chegada de Caio Paes de Andrade ao comando da Petrobras representa uma garantia contra qualquer reajuste de preço até a eleição. Mas isso não parece suficiente para frear a ofensiva do bloco majoritário no Congresso contra a estatal, diante da noção de que o tema será definidor para o sucesso da estratégia. É nesse contexto que surgiu na semana passada o PL 1916/2022, de autoria do relator do Orçamento de 2022, deputado Hugo Leal (PSD-RJ). O texto prevê aumento da tributação sobre os lucros da empresa.
O avanço da medida mira um eleitorado que sentiu no bolso o impacto dos sucessivos reajustes de preço dos combustíveis enquanto a Petrobras registrava lucros recordes. Seria um novo passo na percepção de um candidato que se mostra sensível ao papel social da estatal, ainda maculada pela memória dos escândalos de corrupção nos governos petistas, mesmo que eventual incremento na arrecadação não possa ser revertido em medidas imediatas para a população, devido às restrições com o teto de gastos. Ou pelo menos na teoria, já que o Congresso se mostrou disposto a ignorar os impedimentos legais para turbinar benefícios eleitorais a menos de três meses da eleição.
A exemplo da mudança constitucional, o plano é um novo desdobramento da lógica de que, com Bolsonaro, a agenda liberal é suficientemente flexível para fazer política de proteção social.