O anúncio, nesta terça-feira (2/8), de que a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) será candidata a vice-presidente na chapa da também senadora Simone Tebet (MDB-MS) foi o desfecho de uma longa negociação e incerteza sobre a candidatura da chamada “terceira via” ao Planalto. Mas, faltando poucos dias para o fim do prazo de registro das candidaturas, quase metade dos postulantes a presidente ainda está sem vice definido.
Somados, dos 13 pré-candidatos e candidatos já oficializados, seis ainda estão sem um vice para chamar de seu. Segundo especialistas ouvidos pelo JOTA, isso tem a ver com a fragilidade de candidaturas, os critérios de complementariedade e o jogo de alianças em andamento.
O período para a oficialização das candidaturas termina em 15 de agosto, de acordo com o calendário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A data final para as convenções partidárias é no dia 5 do mesmo mês. Apesar da proximidade, somente o presidente da República Jair Bolsonaro (PL), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Simone Tebet (PSDB), Felipe D’Avila (Novo), Leonardo Péricles (UP), Sofia Manzano (PCB) e Vera Lúcia (PSTU) anunciaram os vices de suas chapas até o momento.
Cabe ressaltar ainda que somente Lula — que trouxe o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB-SP) — e Tebet formaram chapas resultantes de alianças eleitorais. As demais chapas são as chamadas “puro sangue”, isto é, com dois postulantes do mesmo partido. Bolsonaro, apesar de sua aliança com o centrão, preferiu trazer para sua chapa o general Walter Braga Neto, também do PL.
Já o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), o deputado federal André Janones (Avante), Pablo Marçal (Pros), o ex-deputado federal Eymael (DC) devem apresentar nos próximos dias um candidato a vice ou terão de abandonar a corrida. A Constituição não prevê a possibilidade de candidatura solo.
Além disso, o deputado federal Luciano Bivar (União Brasil) anunciou a desistência de sua candidatura, mas afirmou que a senadora Soraya Thronicke, de Mato Grosso do Sul, representará seu partido na corrida pelo Planalto. Ainda não se sabe quem será seu vice. Para completar, nesta segunda-feira (1/8), o PTB lançou Roberto Jefferson como candidato à Presidência. Jefferson está, desde janeiro deste ano em prisão domiciliar, por, segundo o MPF, atuar numa milícia digital que atenta contra a democracia. Também não foi divulgado quem será o vice de Jefferson.
Já Janones, que tem conversado com o PT e tem reunião agendada com Lula para esta semana, também pode acabar desistindo de seus planos para apoiar o ex-presidente.
Para Antonio Lavareda, cientista político e presidente do conselho científico do Ipespe, a dificuldade em encontrar um vice está ligada à capacidade de atração que candidatos apresentam para que partidos lhes forneçam um nome interessante. Segundo o especialista, a regra que norteia a escolha de um vice é a complementariedade, a qual pode se dar diversas formas, como no tempo de televisão e na diversidade de gênero, etária, étnica e ideológica.
“Candidatos fortes nas pesquisas têm uma capacidade de atração maior de aliados e, como tal, maior possibilidade de identificação de bons nomes para ocupar a vice candidatura,” explicou Lavareda. “Isso é normal, é histórico. Quando um candidato presidencial é muito competitivo, vários partidos oferecem nomes para esse lugar na chapa. Quando o candidato é pouco competitivo, obviamente se escasseia a oferta.”
A análise do cientista político da FGV EAESP Claudio Couto vai na mesma linha. A fragilidade das candidaturas de Ciro Gomes e de Simone Tebet, por exemplo, explicaria o motivo de uma caminhada solitária prolongada. Dados do Agregador Eleitoral do JOTA mostram que o pedetista tem 8% das intenções de voto e Tebet, 3,4%, enquanto Lula e Bolsonaro estão com 43,7% e 33,4%, respectivamente.
A despeito disso, ressalvou Couto, Ciro Gomes e Simone Tebet ainda têm a pretensão de ampliar suas alianças. É o que os diferencia de Felipe D’Avila, do Novo, e Leonardo Péricles, da UP. Ciro Gomes e Simone Tebet são nomes frágeis, “mas ainda são candidaturas com alguma seriedade, que podemos tratar como candidaturas a sério, enquanto outras, do Péricles e mesmo a candidatura do D’Avila pelo Novo, nem sequer dão para levar muito a sério”. Elas têm objetivos distintos e buscam afirmar e defender a posição do partido — não vencer as eleições.
Como algumas negociações estão em curso, observou Carolina de Paula, diretora-executiva do DataIESP, esse pode ser um dos motivos para algumas indefinições. É o caso do União Brasil, que não fechou por completo seus palanques. Partidos e candidatos estão vendendo caro o “passe”, em um jogo que pode se estender até os últimos dias antes do prazo final.
O vice tem um lugar importante, avalia de Paula, porque se algo der errado e a chapa não for cassada como um todo, ele vai assumir o lugar do presidente. “Isso deu ao lugar do vice um destaque nos últimos tempos, coisa que a gente não olhava muito. E o eleitor tem ficado mais atento a isso. Percebemos, nas pesquisas de opinião qualitativas, que as pessoas observam isso”.
Além disso, as campanhas eleitorais tornaram-se mais segmentadas. A figura do vice pode servir de cabo eleitoral para angariar mais votos. A pesquisadora deu o exemplo de Geraldo Alckmin (PSB), que esteve ao lado, não de Lula, seu companheiro de chapa, mas de Fernando Haddad (PT) e Márcio França (PSB) no estado de São Paulo.
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De Paula criticou, no entanto, o oportunismo criado ao redor de vices mulheres, dada a baixa representatividade feminina na política e a necessidade de engajar esse eleitorado. “É muitas vezes para dar uma sinalização de que eles são abertos, preocupados com a representatividade de mulheres. Muitas vezes é só uma posição protocolar. Essa mulher não vai ter poder de decisão na campanha e mesmo num eventual mandato.”