Apesar do isolamento na solenidade de posse de Alexandre de Moraes no TSE e dos reveses institucionais que vem sofrendo desde que procurou embaixadores para expor sua desconfiança sobre as urnas eletrônicas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) não dá indicativos de que desistirá das críticas ao sistema eleitoral, em especial até os atos previstos para 7 de Setembro.
O presidente, embora tenha demonstrado contrariedade com o tom de Moraes no ato simbólico de transição de comando na Corte eleitoral, diz a interlocutores que pretende seguir colocando interrogações sobre a transparência e a legitimidade do modelo eletrônico de votação e apuração.
Assessores do Planalto disseram ao JOTA que Bolsonaro evitou aplausos a Moraes no seu discurso entusiasmado em defesa do sistema liderado pelo TSE exatamente para demarcar diferença entre o gesto simbólico de respeito às instituições ao confirmar presença na cerimônia e a sua conduta de permanente questionamento às urnas.
“O presidente tem direito de questionar, de ter dúvidas. E isso não se confunde com sua postura de estadista, de prestigiar a posse de um magistrado na corte eleitoral. Não há problema nisso”, afirma essa fonte do governo.
Efeito colateral
Os auxiliares bolsonaristas, contudo, admitem que o chefe do Executivo está colhendo o resultado do encontro que promoveu com diplomatas no Alvorada em que reforçou que não aceitaria o resultado da eleição, caso o TSE não acolhesse as sugestões feitas por uma comissão das Forças Armadas.
Em primeiro lugar, a resposta foi também no âmbito das relações internacionais, visto que representantes dos governos dos EUA e do Reino Unido saíram em defesa do TSE e prometeram reconhecer o eleito pelas urnas eletrônicas.
Ato contínuo, entidades representativas do PIB nacional, como a Febraban e a Fiesp, passaram a endossar manifestações em defesa do sistema eleitoral brasileiro, o que surpreendeu o Planalto. Isso porque os setores (bancos e indústrias) são altamente regulados e normalmente alinhados aos governantes de plantão.
Nesse roteiro de resposta de atores políticos, econômicos e diplomáticos, o evento que Moraes tomou a dianteira do Tribunal Superior Eleitoral fechou o cerco institucional a Bolsonaro, numa mensagem de respaldo dos poderes instituídos às urnas eletrônicas.
“Foi Brasília dizendo ao presidente que respeita as urnas. E, de certa forma, Bolsonaro compreendeu, ao seu jeito. Muito embora ele não se sinta parte desse sistema, certamente entende bem os recados”, resume um aliado da chamada “ala política” do governo Bolsonaro.
Fatos e versões
Esse mesmo grupo afirma que Bolsonaro poderá usar o suposto “isolamento” na festa de Moraes como trunfo político de mobilização para as manifestações programadas para o Dia da Independência.
Aliados do presidente alegam que ele poderá alegar ser vítima de uma articulação do establishment e que, como representante direto da população, precisará do respaldo das ruas para enfrentar o “sistema político”.