Risco Político

Lula e Haddad buscam associar aumento de impostos à ‘herança maldita’ de Bolsonaro

Governo responde às críticas do ex-presidente e procura ligá-lo às novas medidas que reoneram os combustíveis

Fernando Haddad e Lula (PT) em campanha | Foto: Diogo Zacarias
logo do jota pro poder, na cor azul royal

A engenharia política montada pela equipe de ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o Planalto para justificar a retomada da cobrança de PIS/Cofins sobre a gasolina e a taxação da exportação de óleo cru visa atribuir as manobras adotadas para evitar uma explosão do preço nas bombas ao que o governo do PT chama de “herança maldita” de Jair Bolsonaro (PL).

Trata-se de uma “vacina” aplicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao movimento que ganha corpo em setores mais organizados da oposição e que tenta impingir na largada da atual gestão as marcas do aumento de impostos e da penalização do consumidor final, “combo” tido como sensível e com potencial significativo de prejuízo à popularidade do presidente.

Expressões como “fim da demagogia” e “bomba fiscal”, usadas por Haddad no anúncio das novas medidas, seguem o protocolo combinado com Lula e o QG político do Executivo, em especial o ministro Rui Costa (Casa Civil).

O chefe da Casa Civil vinha se manifestando internamente em linha com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que veio a público na sexta-feira defender a extensão dos subsídios pelo menos até abril, alegando que qualquer medida que onerasse os consumidores seria interpretada como “quebra de compromisso de campanha”.

A ofensiva de responsabilização da gestão anterior se soma a outras mensagens difundidas pelo governo Lula, que novamente chamou seu antecessor de “psicopata” em discurso feito para o relançamento do Conselho Federal de Segurança Alimentar, nesta terça-feira.

Gleisi, hoje uma das mais influentes petistas no Planalto, se prontificou a sinalizar que o grupo político foi ouvido na decisão final e evitou mencionar Haddad em seu tuíte em que analisa o desfecho para a guerra dos combustíveis. “O presidente Lula teve sensibilidade para diminuir o impacto da reoneração de combustíveis no bolso do consumidor, com redução de alíquotas dos impostos e do preço na refinaria. Importante também a taxação na exportação do óleo cru”, escreveu a dirigente partidária.

Onde pega

Lula se incomodou sobretudo com a declaração de Bolsonaro, em suas redes sociais, lamentando o aumento de impostos recém-divulgado.

O ex-presidente, que viajou para os Estados Unidos na véspera de deixar o mandato, escreveu: “Em nosso governo reduzimos o IPI de 4.000 produtos, impostos de muitos outros. O gás de cozinha, diesel, etanol e gasolina zeramos o imposto federal (PIS/Cofins). Mesmo assim, mês a mês, vínhamos batendo recordes de arrecadação. Inaceitável o aumento dos combustíveis ora anunciado pelo atual governo”.

Em paralelo, operadores ligados ao bolsonarismo têm replicado esse recado, o que chamou a atenção da equipe petista que monitora o ambiente das redes sociais. Aliados de Lula identificaram um crescimento exponencial do interesse digital acerca do tema “aumento de impostos” nos últimos dias, patrocinado em grande escala pelos influenciadores da bolha de direita no país.

“É importante que fique claro para as pessoas que tudo isso só está acontecendo porque o governo Bolsonaro provocou. Foi deixada uma armadilha e é preciso dar nome aos bois”, afirmou ao JOTA um dos interlocutores de Lula que vem participando das conversas sobre o tema.

Segundo essa mesma fonte, o governo deve se posicionar de forma contundente para evitar que ocorra uma “contaminação” do Congresso, cuja configuração hoje dá maioria aos parlamentares de centro-direita.

Isso porque o debate sobre a arrecadação e o ajuste fiscal fica mais quente simultaneamente ao início das atividades do Grupo de Trabalho criado pela Câmara dos Deputados para discutir a reforma tributária.

Os deputados devem divulgar o plano de trabalho nesta quarta-feira, mas ganha intensidade no colegiado a apreensão com as demandas do governo, principalmente para o capítulo que será reservado à discussão de medidas que representem inicialmente aumento de carga sobre setores de serviços, como saúde, educação e tecnologia —com efeito natural no bolso dos consumidores.