Os desafios impostos pelo coronavírus exigem organização das redes de colaboração do setor público, de maneira que as lideranças políticas assumam um papel de facilitadoras. A avaliação é de Sandro Cabral, professor da área de estratégia do Insper, que participou nesta terça-feira (14/4) do webinar que o JOTA vem promovendo em parceria com Centro de Gestão e Políticas Públicas (CGPP) do Insper para discutir a crise do coronavírus.
“Uma ação de colaboração, qualquer que seja, exige o reconhecimento de que há complementaridades a serem exploradas”, diz. “Temos hoje uma situação em que o conhecimento, os recursos e todo o aprendizado acumulados da pandemia estão dispersos entre cientistas e autoridades sanitárias”.
Para o professor, é necessário que “uma linguagem comum de mediação dite as ações, e essa linguagem é a ciência”. “Precisamos de menos ‘eu acho’ e de mais ciência, mais colaboração”.
Sandro Cabral explica que depois de as interações serem estabelecidas, “é preciso ter um mecanismo para elas serem compartilhadas”.
Nesse contexto, a principal tarefa dos líderes é a de atuarem como facilitadores e despertarem a confiança do setor privado. “Os governantes têm a função de gerar confiança para que as pessoas colaborem”.
Doutor em Administração pela Universidade Federal da Bahia, ele dá como exemplo o diálogo que está ocorrendo no estado entre o governador, Rui Costa (PT-BA), e o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM-BA). “Eles são rivais politicamente, mas estão conversando nessa crise, e isso gera a confiança no setor privado”, analisa.
Segundo o professor, o que não pode ocorrer por parte das autoridades é a postura de que “os fatos estão errados se não correspondem às minhas expectativas”. “Estamos desperdiçando energia com ações que não agregam, sinais contraditórios estão roubando nosso tempo”, diz. “Embora a gente possa ter lideranças locais, isso fica limitado, porque somos muito dependentes do governo federal”.
No pós-pandemia, a avaliação é a de que será um momento em que os governos vão precisar estar mais presentes. “Os governos vão precisar gerir as relações entre externos e internos. Será necessário estimular o setor privado a investir, com estabilidade e regras do jogo”, explica. “Precisaremos ter a flexibilização do ator privado, agindo pelo bem coletivo”.
Cabral entende que as parcerias público-privadas (PPPs) serão fundamentais na retomada. Ao ser questionado sobre como garantir segurança jurídica aos funcionários públicos que participam dos processos, e que temem sanções futuras, ele lembrou do “dilema do ordenador de despesas”. “Vamos ter que trazer os órgãos de controle para o debate no começo do processo. Somente a partir do diálogo haverá avanço”, destacou. “O setor privado precisa se sentir seguro para investir. Quanto maior a percepção de risco, mais caro vai ficar o financiamento, e mais cara vai ser a contraprestação paga pelo poder público”. Para o professor, “nós precisamos que o Estado pare de gerar custos para ele mesmo”.