Com a falta de regulamentação das relações governamentais, entender o perfil dos profissionais da área é um desafio. No Brasil, estima-se que existam cerca de 96 mil deles, de acordo com a pesquisa realizada pelo Pensar Relgov, atualizada em 2018. Mas afinal, Quem são? Onde atuam? O que fazem? E qual a sua faixa salarial?
Desde 2019, a Relação Governamental é uma atividade reconhecida pelo Ministério do Trabalho, mas ainda não foi regulamentada. Apesar da estimativa de profissionais de RelGov no país, apenas 8 mil pessoas se autodeclaram como atuantes na área.
Isso acontece porque os nomes dos cargos variam de relações governamentais a políticas públicas, passando por assuntos estratégicos, CEO ou assuntos regulatórios. Porém, todos têm algo em comum: a finalidade de influenciar políticas públicas para defender interesses. (Leia a íntegra da pesquisa)
Eduardo Galvão, diretor de relações governamentais da agência BCW e professor de relações institucionais do IBMEC, explica que uma das razões para a diferença entre os números ocorre por se tratar de uma carreira que foi reconhecida recentemente – o que faz com que os os cadastros não estejam totalmente atualizados. Além disso, “muitas pessoas desconhecem o que de fato é a atividade de lobby, e fazem uma associação equivocada com a corrupção”, e acabam alterando o nome de suas funções. Todos esses pontos acabam se tornando barreiras quando o objetivo é entender o perfil desses profissionais.
O que fazem e quanto ganham?
Lobistas não atuam sozinhos. É mais comum que existam consultorias e equipes de profissionais de relações governamentais que atuem juntos para os setores. Existindo cargos de gerente, analista, coordenador e diretor. O JOTA ouviu dez profissionais para entender as principais dificuldades das mulheres que atuam em RelGov.
De acordo com a descrição resumida pelo Ministério do Trabalho, os lobistas atuam no “processo de decisão política, participam da formulação de políticas públicas, elaboram e estabelecem estratégias de relações governamentais, analisam os riscos regulatórios ou normativos e defendem os interesses dos representados”. São atividades trabalhosas e complexas, que exigem uma divisão entre o time, sendo muito difícil uma pessoa efetuar tudo sozinha.
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O lobista com cargo de gerência tem o trabalho de controlar as atividades do time. A remuneração, em geral, está entre R$ 12 mil e R$ 20 mil, podendo variar de acordo com cada instituição.
De acordo com a pesquisa, as empresas privadas são as que melhor remuneram os lobistas com cargo de gerência, com um valor que varia de R$ 10 mil a R$ 35 mil. Em segundo lugar, está a empresa pública ou sociedade de economia mista, com um salário médio de R$ 25 mil. Os órgãos públicos remuneram, em média, no valor de R$ 20 mil. Já escritórios de advocacia, entre R$ 10 mil e R$ 15 mil.
A atuação do analista consiste em realizar notas técnicas, monitoramento de temas relevantes, análise de impacto normativo e antecipação de cenários. A remuneração está entre R$ 5 mil e R$ 12 mil, podendo variar de acordo com o tipo de instituição, sendo a empresa privada a que melhor remunera, com um salário que varia de R$ 6 mil a R$ 25 mil.
Quem ocupa o cargo de diretoria tem o trabalho de definir os objetivos do time, conduzir a elaboração dos planos e tomar decisões. A remuneração, de forma geral, é acima de R$ 15 mil, podendo superar os R$ 40 mil, como é o caso de escritórios de advocacia, empresas privadas e associações de classe.
Já o coordenador atua na parte de inteligência política, estratégia e representação institucional. De forma geral, a remuneração varia de R$ 8 mil a R$ 18 mil. A exemplo de outros cargos, as melhores remunerações são encontradas no setor privado – média de R$ 6 mil a R$ 25 mil.
Onde atuam?
De acordo com a pesquisa da Pensar Relgov, os setores que mais demandam profissionais de RelGov são: Farmacêutico (14,8%), Tecnologia da Informação (14,1%), Biotecnologia (11,7%) e Alimentos (10,2%).
Para Galvão, coordenador da pesquisa, existem duas explicações possíveis para esse resultado. “A primeira é que esses são setores altamente regulados. O segundo elemento que eu identifico é que os três setores têm novos produtos sendo incluídos no mercado, o que movimenta os interesses que dialogam com o poder público”.
Além disso, os profissionais concentram-se em São Paulo (29%), Minas Gerais (11%) e Rio de Janeiro (8%). O Distrito Federal aparece em 8º lugar da lista, com 2,70%. Isso acontece em razão da localização das empresas e indústrias.
Quem são?
Dos profissionais de lobby, 23% são graduados em Direito, 21% em Ciência Política e 20% em Relações Internacionais. Apenas 8,9% são graduados em Comunicação e 9,6%, em Economia. É o que indica a pesquisa.
Em uma divisão por gênero, a pesquisa identificou 58,1% de homens e 41% de mulheres que atuam como lobistas. De acordo com Galvão, isso acontece porque o ambiente político é majoritariamente masculino e ainda pouco representativo.
Apesar da diferença não ser tanta, os cargos de liderança são majoritariamente ocupados por homens. Por exemplo, o gênero masculino domina as seguintes posições: coordenador (65,8%); assessor (52,6%); diretor (69,7%); e consultor/advogado (62,1%). Já os cargos dominados por mulheres são de assistente (60%) e analista (58%).