Se depender apenas do esforço de articulação do governo Bolsonaro, os afagos das forças de segurança darão o tom do último esforço concentrado do Congresso antes da eleição. O calendário de votações está previsto para ocorrer uma semana antes dos atos de 7 de setembro, compreendidos com mais apreensão pelo mundo político pelo temor golpista depois que o presidente da República prometeu comparecer ao desfile militar em seu reduto eleitoral, no Rio de Janeiro.
Há de se ponderar que a meta em falar para convertidos tem alto risco de ser frustrada, já que em três anos e meio o Executivo não conseguiu avançar como desejava na chamada pauta de costumes, mesmo cedendo aos parlamentares a fatia do orçamento público via emendas do relator. Mas, ainda que fracasse, a intenção expõe a limitação dos planos de operadores políticos do centrão em baixar a fervura institucional até os protestos.
Bem posicionado como nunca antes para crescer no Legislativo a partir de 2023, o bloco tem trabalhado nos bastidores na expectativa de que a chegada do ministro Alexandre de Moraes à presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no próximo dia 16, possa representar uma inflexão na relação da Corte eleitoral com o Planalto. Espera-se, por exemplo, que o magistrado atenda algumas demandas que possam oferecer a narrativa de que os militares foram contemplados em parte dos pedidos relacionadas à auditoria de urnas eletrônicas. Em troca, o centrão se posicionaria como o amortecedor capaz de contornar a ofensiva golpista de Bolsonaro, vislumbrando um salvo-conduto depois da eleição, em caso de derrota do incumbente.
O Senado tratou de colocar o bode na sala ao resgatar tratativas por uma proposta para criar a figura do senador vitalício, mas o foco dos políticos empenhados nas negociações seria um desfecho em que os inquéritos relacionados aos atos antidemocráticos saíssem das mãos do futuro presidente do TSE. Tudo isso repousa na cabeça de personagens que, em um eventual governo Lula, chegarão atrasados para se acomodar na coalizão governista.
Esperar êxito nas negociações também esbarra na sintonia de vozes do centrão com a ofensiva de bolsonaristas contra o Supremo Tribunal Federal (STF). É comum ouvir nas conversas reservadas com integrantes do bloco declarações que se assemelham às manifestações públicas do presidente da República contra o que dizem ser excesso de ativismo político da corte.
Todas essas arestas estarão em confronto até outubro. A questão é saber se, para quem domina o jogo político atualmente em Brasília, ameaça mais a democracia em risco ou o protagonismo do Judiciário na resolução do conflito.
Na semana passada, a decisão do ministro Luís Roberto Barroso de manter a condenação de policiais envolvidos no massacre do Carandiru, em meio ao avanço de um projeto na Câmara que propõe justamente o contrário, foi suficiente para dar força à articulação para acelerar a votação em plenário. O tema virou candidato a avançar em regime de urgência entre deputados, às vésperas do Dia da Independência.