Coronavírus

Mandetta diz que atitudes mais rígidas serão tomadas ‘no momento certo’

Ministro minimizou participação de Bolsonaro em protestos e descartou fechamento de fronteiras e restrições a voos

Mandetta
Ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta | Crédito: Fábio Rodrigues Pozzembom / Agência Brasil

O ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta disse, na segunda-feira (16/3), que não vê motivos para fechamento de fronteiras do Brasil, restrição de voos ou medir temperatura de pessoas que chegam do exterior nos aeroportos para conter o avanço do coronavírus (covid-19) no país. O ministro ainda minimizou o comportamento do presidente Jair Bolsonaro de ter saído às ruas de Brasília durante a manifestação do último domingo (15/3), e cumprimentado centenas de apoiadores – disse que não está na hora de ficar “apontando os dedos”.

Mandetta esteve no Supremo Tribunal Federal (STF) onde se reuniu com ministros da Corte e os chefes do Legislativo, para discutir o funcionamento dos tribunais, da Câmara dos Deputados e do Senado. Disse que não fez recomendações sobre a suspensão das atividades, apenas mostrou o cenário do coronavírus no Brasil.

“Eu acho que o presidente, vocês estão todos focando e apontando ali. O presidente teve a sua passagem que vocês podem questionar, agora ontem a praia tava super lotada no Rio de Janeiro, os bares do Leblon, eu os conheço, tenho amigos meus que mandaram várias fotos brindando. Nós precisamos coletivamente, ao invés de apontar o dedo, ‘olha o que esse fez’, eu acho que é hora de todo mundo entender que a gente vai ter [a partir] do comportamento coletivo mais ou menos intensidade dos casos. Neste momento, nós precisamos que as pessoas façam sua parte”, disse Mandetta.

O ministro defendeu Bolsonaro ao dizer que “a primeira coisa que o presidente fez foi deixar o Ministério da Saúde trabalhar com a equipe técnica que há mais de 30 anos ele não tem”, e disse que não analisa atitude individual.

“Eu tô dizendo que a sociedade, como um todo, vocês, da imprensa, quando se aglutinam todos aqui, um do lado do outro, falando, ele no seu ouvido como você está aí na frente, vocês estão muito longe de ter um comportamento que possa falar ‘esse é um comportamento correto’. Eu tenho as minhas maneiras também, tenho minhas falhas, cometo meus erros de comportamento. Agora, não é por isso que a gente vai ficar apontando os dedos”, disse.

Para Mandetta, é importante proteger os chefes das instituições, e o meio eletrônico pode ser usado como alternativa. “Eu desenho cenários, eu oriento. A gente orienta e faz recomendações. O Ministério da Saúde ainda não faz determinações, ele só fará determinações se as situações assim exigirem e ainda assim na companhia de outros órgãos”, falou.

Fronteiras

Questionado sobre o que pensa a respeito de fechamento de fronteiras e restrições de voos, a exemplo do que têm feito outros países como Itália, Portugal, Espanha, Argentina e Colômbia, o ministro disse que ainda é muito cedo para pensar nisso.

“As pessoas têm que ter muitos elementos, muita calma, reunir com os especialistas, tomar as melhores atitudes, bem respaldado. Não banalizar essa questão de ‘vou fechar uma fronteira’, e as pessoas continuarem indo e vindo, perde completamente a autoridade. No momento certo, se houver necessidade, com os quadros se impondo, você toma atitudes que sejam mais rígidas, mais duras, mas não se pode sair tomando atitudes preventivas. Nós não somos uma ostra, nós não estamos fechados”, falou.

Para o ministro, não se pode desconsiderar que muitos insumos hospitalares e medicamentos usados no país vêm do exterior.

Ressaltou, porém, que poderia haver restrições na fronteira com a Venezuela. “Nós temos a questão da Venezuela que é uma das que mais me preocupa, a única que eu vejo como realmente fática é a fronteira com Roraima. A gente não tem nenhuma informação que gere qualquer credibilidade. Por mais difícil que seja, por exemplo, no Paraguai, ou na Bolívia, mas eu consigo pegar o telefone e conversar com ministros da saúde desses países, tem informação minimamente qualificada. Mas com a Venezuela é um vazio. Então ali, do ponto de vista de saúde, é uma fronteira que eu recomendo que a gente faça restrições”, afirmou Mandetta.

Em relação às restrições em aeroportos, Mandetta também disse não ver necessidade, no momento, de adotar protocolos mais rígidos:

“Primeiro precisamos saber se o tráfego de aeronaves é um componente de formação. Você tem casos, depois contaminação sustentada, cada etapa dessa você mede. Será que é trânsito de pessoas o elemento principal? Isso é uma coisa que a gente tem que discutir. Por isso eu tenho um comitê. Eu não vejo hoje ‘vamos fechar o Brasil pro mundo, fecha tudo, péra, não tem mais avião, não tem mais nada, fechem todas as fronteiras ninguém sai e ninguém entra’. O que isso significa nas coisas? Analisem como foi o comportamento fora do Brasil”, disse.

O ministro ainda falou que os estados podem tomar atitudes, e que não é para o Ministério da Saúde centralizar tudo. “Não é daqui que vai sair: ‘vamos proibir os eventos’. Você já imaginou o Ministério da Saúde tendo que pautar o que vai acontecer no dia a dia das pessoas de Norte a Sul do pais?”, questionou.

Por fim, falou também que “não está convencido” de que fazer a testagem de todo mundo seria o gasto mais inteligente, mas que é algo em discussão dentro do Ministério da Saúde.