Paulista raiz, político e técnico, gestor experiente. Estes são alguns dos adjetivos escolhidos pelo governador de São Paulo Rodrigo Garcia (PSDB) e sua equipe para convencer o eleitorado de que ele merece continuar chefiando o Palácio dos Bandeirantes. Aos 48 anos, sendo 30 deles de vida política, Garcia nunca teve destaque nas disputas eleitorais. Esta é sua primeira tentativa a um cargo majoritário.
Garcia se apresenta como ‘terceira via’ contra a polarização do petismo com o bolsonarismo — apesar de compor o grupo que comanda o estado há quase três décadas polarizando contra o PT.
O governador é pouco conhecido do eleitor, mas tido como político habilidoso. Foi deputado estadual e federal, além de secretário de pastas estaduais e municipais. Ele chegou ao Bandeirantes como vice do ex-governador João Doria, que desistiu do cargo numa fracassada tentativa de concorrer à Presidência da República.
A ascensão mostra a habilidade do paulista de Tanabi, cidade do noroeste paulista, próxima de São José do Rio Preto, que iniciou na política como assistente-técnico na Câmara dos Deputados em 1992 e, hoje, comanda o estado mais rico do país. Ele é advogado de formação, casado e pai de três filhos.
Covas e Pitta
Novato no PSDB, no qual se filiou em maio do ano passado, após décadas no DEM, o governador buscou num tucano simbólico um atestado para colar no eleitor tradicional da legenda: o ex-governador Mário Covas, morto em 2001, e responsável por levar o PSDB ao comando do estado a partir de 1995.
Garcia gosta de dizer que trabalhou “ao lado” de Covas, como subsecretário de Agricultura entre 1995 e 1996. Mas não conta que também esteve ao lado do ex-prefeito da capital Celso Pitta, falecido em 2009. Ele foi chefe de gabinete na secretaria municipal de Planejamento, em 1997. A pasta era liderada, à época, por Gilberto Kassab (PSD), que posteriormente seria eleito prefeito e que daria cargo de secretário a Garcia.
Pitta não é lembrado por ter respondido a uma série de acusações de corrupção, depois de deixar a prefeitura, sendo preso durante a Operação Satiagraha da Polícia Federal, em 2008.
Opositores e mesmo aliados dizem que Garcia “esconde” Doria, cuja popularidade desabou ao longo do mandato. O ex-governador deixou o cargo e rachou o PSDB em nível nacional ao insistir na candidatura ao Planalto. “Doria não é mais parte da equação. Fica um caminho muito mais aberto para o Rodrigo sem ele”, avalia ao JOTA um interlocutor da executiva nacional do partido.
“Quem sabe, sabe”
Já um dos secretários de Garcia o define ao JOTA como gestor “muito tranquilo”, que “orbita entre o político e o técnico” nas conversas. ”Ele não altera o tom de voz. Consegue dialogar com o técnico [da secretaria] e com o [líder] político.”
O ‘estilo mineiro’ do governador foi posto à prova em 2011, durante discussão com seu padrinho político, o ex-prefeito Kassab. Ambos estavam no DEM naquela ocasião.
Kassab articulava a criação do PSD e Garcia teria, supostamente, vazado para imprensa informações sobre fraude no processo de coleta de assinaturas. O portal iG publicou uma reportagem dizendo que o então prefeito invadiu o gabinete de Garcia, na secretaria estadual de Desenvolvimento Social, e disparou: “Se você quiser me destruir, vou te destruir primeiro.”
Garcia e Kassab mantêm hoje uma relação “protocolar e institucional”, segundo disse ao JOTA um interlocutor do ex-prefeito. A distância é enorme se observado o fato de que eles formaram chapa na eleição de 1998.
Naquele ano o jingle “Quem sabe, sabe…vota comigo: federal é Kassad, estadual é Rodrigo” ajudou a eleger ambos. Hoje, o PSD criado por Kassab apoia o ex-ministro Tarcísio Freitas (PL) na disputa estadual contra Garcia.
Legado e ‘terceira via’
O governador tem pela frente o desafio de defender a história do PSDB no estado. São Paulo e Rio Grande do Sul tornaram-se os últimos bastões tucanos. Manter o poder nos estados é prioridade para a legenda se manter viva.
A estratégia da empreitada, porém, passa por evitar em nível local repetir a polarização entre petismo e bolsonarismo. A estratégia adotada, até o momento, é a de se apresentar como ‘terceira via’ ante o líder das pesquisas Fernando Haddad (PT) e o segundo colocado Tarcísio.
A grande arma tucana é o tempo de propaganda na TV de 4 minutos e 18 segundos, como resultado da coligação envolvendo dez partidos. É quase a soma do tempo de Tarcísio (2 minutos e 22 segundos) e Haddad (2 minutos e 15 segundos).
A expectativa da campanha é enfrentar o PT no segundo turno, considerando como aliados a rejeição elevada de Haddad e o antipetismo mais forte no interior paulista.
A estratégia para ultrapassar Tarcísio é apelar para o sentimento paulista. O ex-ministro da Infraestrutura é visto como outsider por ser um carioca radicado em Goiás e Brasília, que transferiu o título eleitoral para o estado como parte da estratégia do presidente Jair Bolsonaro (PL) para ter palanque em São Paulo.
A campanha espera atrair eleitores bolsonaristas. “O eleitor conservador sempre foi PSDB, o bolsonarismo veio depois. Mas a ideia é o Rodrigo ficar no meio, sem extremismo”, diz o secretário ouvido pelo JOTA.
Garcia aparece em terceiro lugar na corrida eleitoral, após crescer três pontos percentuais entre julho e agosto. Na última pesquisa realizada no início deste mês pela TV Record/Real Time Big Data, ele aparece com 19% das intenções de voto, Tarcísio tem 20% e Haddad 33%. Está em terceiro também na rejeição (32%). Haddad é rejeitado por 48% dos eleitores e Tarcísio por 41%.
O chefe da campanha tucana, Wilson Pedroso, indica que o sentimento paulista é a arma publicitária para ultrapassar Tarcísio. “Ele vai apresentar a sua história de 28 anos como gestor público, que nasceu em São Paulo e ajudou a construir o estado que é a locomotiva do país”, afirma ao JOTA.
Embora oficialmente o discurso seja outro, a campanha também vai evitar associar Garcia a Doria, com quem ele quase rompeu quando o então governador ameaçou continuar no cargo para desistir da corrida pelo Palácio do Planalto, caso o PSDB não se mantivesse unido. “Doria foi um grande governador que não conseguiu se viabilizar dentro do partido para ser candidato a presidente”, pondera Pedroso.
O aliado afirma haver cerca de 500 dos 645 prefeitos paulistas alinhados com Garcia. Ele construiu uma coligação com União Brasil, MDB, Podemos, Cidadania, Solidariedade, Pros, Avante, Patriota e PP. “O Rodrigo é a ‘terceira via’ que deu certo”, avalia o chefe de campanha, ressaltando que na composição há partidos com candidatos próprios ao Planalto.
O deputado federal Geninho Zuliani (União Brasil) foi escolhido como vice, abrindo uma fissura na articulação com o prefeito da capital Ricardo Nunes (MDB), que defendia a indicação do ex-secretário municipal de Saúde Edson Aparecido, que disputará o Senado.
A escolha de Zuliani foi pessoal. O governador e o deputado são amigos e nasceram na mesma região do noroeste do estado. A tendência é que as arestas com o MDB sejam fechadas com a promessa de cargos aos emedebistas.