Inclusão

Educação financeira precisa se adequar à realidade da população de baixa renda

Setor privado pode ser parceiro do poder público para a democratização da educação financeira, dizem especialistas na Casa JOTA

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Crédito: Raphael Ribeiro/BCB

A inadimplência da população brasileira está crescendo a cada mês desde o ano passado. As contas em atraso afetam mais as camadas de baixa renda, que também encontram maiores dificuldades em acessar informação sobre como sair do vermelho – e manter a situação saudável a partir de então. Uma das ferramentas para mudar essa trajetória a longo prazo é o letramento financeiro.

“Quando não temos uma boa relação com dinheiro e pouco entendimento sobre o setor financeiro, é mais provável tomar decisões ruins. Isso só atrasa uma população que já tem menos recursos e menos acesso, o que aumenta a desigualdade”, afirma Bia Santos, CEO e fundadora da startup de educação financeira Barkus.

Ela participou de webinar da Casa JOTA que, nesta quinta-feira (8/12), discutiu a necessidade de democratização do acesso à educação financeira, especialmente nas classes C, D e E e moradoras das periferias de grandes cidades brasileiras. O evento foi patrocinado pela 99, que conta com a carteira digital 99Pay.

Na perspectiva da educadora financeira, a informação acessível e disponibilizada de acordo com os diferentes perfis da população, incluindo as de baixa renda, mulheres e negros, seria fundamental para garantir a inclusão financeira – uma segunda etapa após o aumento da bancarização dos brasileiros, que cresceu durante a pandemia.

O primeiro passo seria romper o estigma de que o conhecimento sobre finanças somente atenderia a pessoas de alto poder aquisitivo, que visam ampliar patrimônio, ou a quem já tem conhecimento sólido em matemática.

“Precisamos mostrar como usar os princípios financeiros a cada realidade. É muito importante oferecer essa educação para a população como um todo, mas especialmente para grupos mais vulneráveis e de modo que eles possam entender que essa também é uma ferramenta para eles”, diz Bia Santos.

Para ela, o setor privado, inclusive as instituições financeiras, teriam também essa responsabilidade de contribuir para educar a população. “Ele também se beneficia com o aumento da educação financeira”, adiciona.

Na visão de Anselmo Baccarini, diretor de comunicação da 99Pay, a educação financeira é sobre como lidar melhor com os recursos que se tem e esticar as possibilidades, mais do enriquecer milagrosamente.

Baccarini também considera que o setor privado pode ser um aliado do setor público para implementar políticas políticas com o fim de democratizar a educação financeira. “Às vezes, a iniciativa privada consegue ser mais veloz em testar soluções e fazer parcerias. Ela é capaz de sair sair um pouco na frente e testar o que dá ou não certo,”, avalia. “Isso contribui para ampliar as possibilidades que podem ser usadas pelo setor público”.

Recentemente a Barkus e a 99Pay lançaram uma iniciativa focada em promover a educação financeira para a população de baixa renda. Inicialmente, serão disponibilizadas 100 mil vagas para moradores das periferias de São Paulo para participar de um curso via WhatsApp. O conteúdo é interativo e traz informações sobre orçamento familiar, endividamento, crédito e investimentos.

Segundo Baccarini, a maior parte dos usuários da carteira digital é das classes C, D e E, que historicamente não têm acesso è educação financeira. Por isso, o foco nesse grupo. “A iniciativa privada poderia fazer mais, olhando para a realidade dos seus clientes, explicando conceitos para que os usuários se tornem mais conscientes e seguros”, diz.

Para que esse processo seja eficaz, ao apresentar informação, seria preciso encontrar formas de se conectar com o dia a dia das pessoas, com personalização. “Não adianta falar para uma pessoa que está inadimplente e sem emprego que ela precisa poupar 30% da sua renda mensal; assim, ela irá desistir”, recomenda Bia Santos.

Além disso, há a necessidade de adequação às possibilidades e aos limites de quem vive à margem para apresentar a informação. “Para a população carente, há ainda o fator sobrevivência. Na pandemia, sabemos que muita gente perdeu emprego ou depende da informalidade. As pessoas ficam exauridas emocionalmente, o que dificulta tomar as melhores decisões”, alerta Baccarini.

Assista ao webinar sobre a importância da democratização da educação financeira