A campanha eleitoral começou oficialmente nesta terça-feira (16/8) e, com ela, os principais candidatos ao Planalto colocam à prova estratégias para potencializar as rejeições do rival. Enquanto o PT busca disseminar o pânico na população mais carente alegando que a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) ameaça a manutenção dos programas de transferência de renda, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lida com a já consolidada ofensiva do presidente na trincheira religiosa, que também é um revival de eleições passadas.
Na agenda social, o PT adotou mecanismo semelhante para tirar votos do PSDB no Nordeste e Norte em várias eleições nacionais. Candidatos tucanos, sempre que desembarcavam nessas regiões, passavam boa parte de suas programações tendo que negar as notícias de que acabariam com o Bolsa Família. Geraldo Alckmin, em 2006, José Serra, em 2010, e Aécio Neves, em 2014, enfrentaram a mesma dificuldade.
O PT também foi vítima de campanhas com forte viés religioso e de costumes. A mais controversa delas foi a que tangenciou a possível liberação do aborto, que levou a então candidata Dilma Rousseff a fazer uma incursão por igrejas católicas e evangélicas em 2010 a fim de rechaçar tal hipótese.
A novidade, em 2022, é que a cristalizada polarização e a ausência de opções de centro no xadrez eleitoral antecipam a desconstrução do oponente para o pontapé inicial da campanha — algo que ocorreria apenas num possível segundo turno já aparece na largada da corrida presidencial.
Desde sábado, estrategistas petistas buscam uma resposta jurídica e de comunicação à fake news que ganha corpo em igrejas pentecostais dando conta de que uma possível terceira gestão de Lula significaria fechamento de templos. Um dos parlamentares bolsonaristas mais influentes do meio, pastor Marco Feliciano (PL-SP), decidiu encampar a ofensiva.
A iminente judicialização do tema, contudo, é vista como uma vitória de Bolsonaro, cuja campanha ganha tração em meios ditos “alternativos”, como os aplicativos de troca de mensagens, de difícil controle no âmbito da Justiça Eleitoral.
A simples introdução do assunto no debate eleitoral já produz efeito positivo sobre a formação de opinião em especial entre os evangélicos, segmento que é uma das fortalezas eleitorais de Bolsonaro.
Em contraponto, a live em que Lula e o neoaliado André Janones fizeram no sábado para alertar os eleitores de que Bolsonaro vai “acabar com o auxílio emergencial” em dezembro ganhou alcance surpreendente e animou os marqueteiros do PT.
Com base nesse diagnóstico, a campanha lulista prepara uma abertura de palanque eletrônico na TV abusando das comparações econômicas entre os governos anteriores e o atual. A ideia é maximizar a percepção de “fartura” versus “escassez”.
Na balança
Bolsonaro aparece hoje liderando o quesito rejeição, com patamares próximos de 51%-55%, segundo a média das pesquisas. Lula tem uma rejeição alta também, mas ela oscila entre 42%-45%.
O que o QG bolsonarista acredita é que esse índice do petista estaria subdimensionado, em especial nas regiões Centro-Sul-Sudeste, onde o ex-presidente se apresenta neste momento da campanha como um articulador político que faz gestos ao centro e defende a democracia.
Para elevar essa taxa, além da pauta de comportamentos e religião, a aposta de Bolsonaro é a lista de escândalos dos governos petistas — sobretudo Mensalão e Petrolão—, além da aliança com regimes de esquerda que hoje sofrem com grave crise econômica e política.