
No pleito de 2022 foram efetivados 9.415 pedidos de candidaturas de mulheres, ou seja, 33% dos concorrentes a uma vaga nas eleições eram do sexo feminino.
Embora com número recorde de candidaturas de mulheres e a maior bancada feminina da história da Câmara dos Deputados, esse crescimento está longe da igualdade de representação necessária. Passamos de 15% de mulheres deputadas na Câmara para 18%. De acordo com o TSE, 4 estados não elegeram nenhuma mulher deputada federal (Alagoas, Amazonas, Paraíba e Tocantins). Das deputadas federais eleitas no país, 64% são brancas, 32% são negras e 4% são indígenas.
Neste mês a Constituição Federal completou 34 anos. É visível que a nossa jovem democracia ainda carrega os vestígios de um país colonizado e construído sobre as bases da escravização de pessoas negras. Esse retrato é expresso na cara que ganha os nossos Legislativos e Executivos.
O segundo inciso do artigo 5º da Constituição prevê que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”. Mas como podemos falar em igualdade entre homens e mulheres quando, entre outras questões, elas são as mais afetadas pelo desemprego, pela insegurança alimentar, pela violência e pelas desigualdades salariais e de posição no mercado de trabalho?
Um outro dado bastante crítico destas eleições é que aproximadamente um quarto das mulheres eleitas na Câmara dos Deputados está ligada a cônjuges políticos – isso significa que 21 das 93 mulheres eleitas se elegeram com contribuição da base política de seus maridos ou ex-maridos. Esse é o caso de Detinha (PL), eleita pelo Maranhão, esposa de Josimar Maranhãozinho (PL), deputado federal reeleito; também é o caso da Daniela do Waguinho (União Brasil), eleita no Rio de Janeiro com 213 mil votos, esposa do prefeito de Belford Roxo, Wagner dos Santos Carneiro; e o caso de Rejane Dias (PT), esposa do ex-governador do Piauí Wellington Dias, eleito para o Senado.
Mas por que isso seria um problema, quando a luta é por mais mulheres na política?
Diante da cota de 30% para as chapas proporcionais, estabelecida pela legislação eleitoral, partidos que não estão comprometidos com a agenda de igualdade de gênero tendem a incluir mulheres de suas famílias e candidaturas laranjas nas chapas. Essa conjuntura também pode ser explicada pelo papel que assumem, em sua grande maioria, a primeira-dama dos Executivos e as esposas de parlamentares – geralmente, referências em ações assistencialistas e vistas como parte da imagem do representante político.
A eleição de mulheres deste perfil, em detrimento de mulheres que estão entrando na política e que não possuem vínculos familiares, evidencia um terceiro problema: a desigualdade socioeconômica, que impacta diretamente o financiamento da campanha – mesmo com a cota para mulheres no repasse do fundo eleitoral – e na projeção de imagem (estratégica para o alcance mais eleitores).
Nesse sentido, investir em iniciativas da sociedade civil que promovam formações e mentorias para mulheres candidatas é fundamental para tornar a corrida eleitoral mais justa e a representação política igualitária. Nesse contexto, surgiu a Todaz na Política – iniciativa nacional, suprapartidária e voluntária, cuja missão é fortalecer as campanhas de mulheres por meio da formação em comunicação política, visando a eleição de mulheres negras, LGBTs, periféricas e de comunidades tradicionais.
Em 2022, das 30 alunas formadas pelo programa, 15 efetivaram sua candidatura e 2 mulheres foram eleitas, uma deputada estadual pelo Rio de Janeiro e outra deputada federal por Minas Gerais. Para nós, fundadores, não há caminho fácil ou atalhos para alcançar a igualdade de gênero na política. O caminho é longo, mas a luta é cada dia mais coletiva e mobilizadora.