Energia eólica

Setor de eólicas negocia no Congresso medidas para conter crise de novos contratos

Ao JOTA, presidente da Abeeólica afirmou que regulamentação da MP da TUST e TUSD e aprovação de PLs podem reaquecer setor

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Parque Eólico Chafariz, em Santa Luzia (PB) / Crédito: Ricardo Stuckert/PR

Em crise pela falta de novos contratos, empresas de produção de energia eólica negociam com governo e parlamentares respostas de curto prazo para reaquecer o setor. Ao JOTA, a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum, afirmou que entre as possíveis respostas para a crise estão a regulamentação da medida provisória que estendeu prazos de incentivos da TUST/TUSD e prevê redução da tarifa de energia, além da aprovação de projetos de leis, como o que regulamenta o mercado de carbono, o marco do hidrogênio verde e o marco das eólicas offshore.

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“No curtíssimo prazo, a regulamentação da MP da TUST e da TUSD permite que imediatamente seja assinada uma série de contratos de projetos no Nordeste. Essa regulamentação é fundamental. Temos também que revisitar as condições de financiamento do BNDES, porque nós estamos falando de uma indústria nacional que gera emprego para brasileiros. Então, precisamos ter uma condição de financiamento melhor, que seja adequada a uma cadeia de produção nacional e isso pode ser feito rapidamente”, diz.

Além disso, o setor discute a inclusão de baterias em um leilão de reserva de capacidade de energia, que permite que o setor apresente soluções de eólica com bateria. “Também estamos trabalhando na aprovação do PL da eólica offshore e do PL de hidrogênio, porque esses dois projetos vão impulsionar também investimentos novos na indústria e vão trazer uma expectativa muito favorável para o Brasil em termos de retomada de investimento”, acrescenta.

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A regulamentação do mercado de carbono, segundo Gannoum, também tem efeito prático no médio prazo e é relevante para a economia brasileira. O texto estabelece um limite de emissão de carbono para cada indústria. Aquela que ultrapassar seu teto poderá comprar cotas de quem não atingir o teto e colocar o excedente à venda. “O Brasil está seguindo, do ponto de vista teórico, uma trajetória muito adequada na medida em que apresenta uma política industrial, que é um plano de transformação ecológica. Agora, as coisas precisam sair do papel.”

Crise de demanda

De acordo com Gannoum, o setor está passando por uma crise de novos contratos há cerca de três anos, com forte redução de contratos de novos parques e de demanda por energia nova. Os efeitos negativos, explica, são reflexo de uma economia nacional que não está crescendo e do impacto do avanço da energia fotovoltaica distribuída.

“A energia solar no Brasil cresceu em uma velocidade muito rápida e acabou ocupando também o espaço da energia eólica de grande porte. Além disso, nós não estamos sendo demandados para novos contratos, e são os novos contratos que sustentam a cadeia de produção, a infraestrutura de forma geral. No caso da energia eólica, o ciclo é de dois a três anos. Isso significa que se eu contrato hoje, em 2024, o pedido chega no chão de fábrica a partir de 2025, e em 2026, o chão de fábrica fica lotado. Então, fica empregando para produzir as turbinas eólicas até 2027. Esse ciclo de três anos é fundamental e ele se reativa a cada ano com novos contratos”, diz.

Sem esse ciclo rodando, algumas empresas já começaram a deixar o país ou estudar outras alternativas. É o caso da Aeris Energy, fabricante de pás eólicas, que vai começar a fabricar nos Estados Unidos; da Acciona, que reduziu a produção, e da GE Renewable Energy, que interrompeu a venda de geradores de energia no Brasil.

“Tudo isso é consequência do desmantelamento da cadeia produtiva de energia eólica. Essa crise está resultando na redução de fabricantes de aerogeradores no Brasil, e essa redução de fabricação causa impacto na cadeia de componentes, que é a cadeia de fornecedores de um aerogerador de turbina eólica. São cerca de mil fornecedores, então tem o fornecedor da pá, do parafuso, da torre, da barra, de ancoragem, da engenharia. É uma indústria complexa, bem nacionalizada: 80% de uma turbina é fabricada no Brasil. É uma indústria que gera muito emprego e renda para o país e que se consolidou ao longo dos últimos dez, 15 anos”, pontua.