Neste limiar de 2023, é evidente que o Brasil precisa de uma visão e de transformações estruturais que guiem sua recuperação, o aprofundamento da democracia e seu desenvolvimento no longo prazo.
Esses elementos devem promover uma redução sustentada da pobreza e da desigualdade, dar oportunidades do século 21 para seus jovens e os inserir na economia do conhecimento, proteger o patrimônio ambiental, criar valor por meio da inovação e promover uma mudança estrutural da economia e da sociedade. Nos últimos três artigos nesta coluna, procuramos mostrar que o rumo deve passar necessariamente pela internacionalização.
Como alertamos no artigo inaugural, “…pouco conectado com o mundo, o país não será competitivo e verdadeiramente próspero”. Para conectar nossa economia e sociedade ao mundo, precisamos de uma estratégia contemporânea de internacionalização, apontamos em um segundo artigo.
Tal estratégia deve considerar múltiplas dimensões, não apenas a participação das exportações e importações sobre o PIB, uma forma limitada através da qual muitos analistas econômicos olham o tema. Por “internacionalização”, portanto, estamos nos referindo ao processo por meio do qual o país, as empresas, as universidades, os órgãos de governo, e as pessoas expandem o seu engajamento com o exterior. O incremento das relações, contatos e trocas com o exterior deve levar a negócios e projetos, permitir oxigenar a sociedade e modernizar instituições e indivíduos.
A exposição ao exterior cria oportunidades, demanda sofisticação empresarial e qualifica as iniciativas dentro do país, inclusive no setor público. Ela é também uma das chaves fundamentais para o aumento da produtividade e, evidentemente, da competitividade das empresas e do país. Permite colocar “ativos brasileiros” para “render em escala mundia”, e pode oportunizar que as empresas brasileiras e a nossa economia acessem recursos no mundo – talento, infraestruturas, competências, capitais, etc.
Internacionalização deve ser um elemento central em uma nova agenda, pública e privada, de recuperação, crescimento e desenvolvimento de longo prazo. A questão que se põe é: como fazê-lo?
Primeiro, é necessário construir clareza estratégica no centro do governo a respeito da necessidade de internacionalizar e uma visão compartilhada com atores chave da sociedade sobre o tema.
Segundo, exige-se estruturar e colocar em execução uma agenda com iniciativas concretas em diferentes frentes: legislação (imigratória, tributária, trabalhista…), apoio ao investimento, organização do setor público, organização e gestão do sistema universitário público, educação, etc.
Para avançar em internacionalização, será preciso também, e de forma urgente, tratar da organização, das carreiras e da avaliação do desempenho das universidades públicas.
Terceiro, de forma conexa com as anteriores, é preciso investir no desenvolvimento de longo e médio prazo de relações e competências dos brasileiros para operar em escala global. Isso passa por expandir significativamente a quantidade de jovens brasileiros com proficiência em inglês, chinês e outras línguas.
Inclui, ainda, enviar muito mais estudantes para estudar fora do país e acolher muito mais estrangeiros em solo brasileiro – não esqueçamos que a falta de conexão dos brasileiros com o exterior é um calcanhar de Aquiles da economia.
Quarto, é preciso incluir um componente de internacionalização em todos e quaisquer programas de inovação e desenvolvimento econômico, e vice-versa.
A internacionalização precisa ser uma agenda da sociedade, não uma iniciativa limitada ao setor público – e, na esfera pública, precisa ir além do Poder Executivo. Somente conseguiremos conectar com o exterior de forma efetivamente produtiva se essa for uma agenda de todos. Para tanto, é necessária a instalação de um novo modelo mental em nossa sociedade. Talvez seja esse nosso grande desafio.
Pano rápido e voltamos à Anitta. É preciso ter ambição global! Anitta mostra que é possível fazer bem e grande. Acima de tudo, sugere que temos (empresas, governo, pessoas) que superar nosso “déficit de ambição global”. Dá para fazer. A escolha é nossa.