inovação

O jurídico 4.0 como influenciador de novos negócios

Soluções de baixo custo para implementação rápida e reposicionamento de marca do departamento

jurídico 4.0
Crédito: Unsplash

Publicamos no JOTA os resultados da pesquisa Enterprise Legal Reputation Report[1], relatório que tem por objetivo demonstrar como uma gestão orientada a dados é algo importante para gerar insights e posicionar um departamento jurídico mais protagonista na organização. “Contra dados não há argumentos” reuniu reflexões e motivos pelos quais a gestão estratégica do jurídico deve ser data-driven e indicadores de performance. 

O artigo referenciado acima convidou o leitor para uma verdadeira transformação na percepção do jurídico, afirmando que as mudanças somente ocorrerão quando se reúne indivíduos comprometidos com uma única causa: a de mudar a realidade a partir do momento presente. Não queremos criticar o movimento futurista, mas não podemos esquecer que o futuro é construído no cotidiano, por meio de pequenas iniciativas disruptivas.  

A transformação de uma cultura pró-inovação se inicia quando se adota a criatividade como um comportamento, fomentando novas ideias, questionando o status quo e buscando a melhoria contínua todos os dias. Pensando assim, a inovação vira um processo e, o espírito crítico e criativo voltado à melhoria de processos – sempre com respaldo nos dados – acabam por colocar os advogados e os demais colaboradores na era da inovação exponencial. 

O objetivo deste texto complementar é demonstrar que o departamento deve ser um incentivador de parcerias, promovendo a cultura agregadora da conexão, atuando assim como uma verdadeira ponte entre estruturação e execução de novos negócios. Os advogados precisam desenvolver algo que a educação jurídica universitária não estimula em muitas instituições: a visão empreendedora de futuro, com iniciativas práticas a serem executadas a partir de hoje[2].  

Buscando a otimização, o jurídico se consolida como o elo entre as áreas funcionais e de negócios. É importante ser um catalisador de soluções que viabilizam a atividade empresarial de forma segura e eficiente, tendo como alvo a redução de custo operacional para a maximização de resultados. Essa forma de agir reverbera em uma nova imagem do jurídico — que aí sim vira o Business Partner que tanto se fala —, impactando positivamente em uma cultura organizacional comprometida com o sucesso do business.  

Mas… A transformação cultural é apenas o início. O jurídico passa a ser um influenciador de novos negócios quando propõe e colabora com iniciativas práticas, ajudando a melhorar a rotina dos seus clientes internos. Não precisa de altos investimentos ou soluções disruptivas para começar a colecionar exemplos de sucesso – toma-se emprestado o conceito de quick wins[3], muito utilizado na gestão de projetos de tecnologia, no qual pequenas entregas são realizadas em curto prazo para começar a entregar valor mesmo sem o projeto maior estar finalizado. Reunimos algumas sugestões de baixo custo e rápida implementação a seguir:  

  1. Legal Design: é a aplicação do Design Thinking no Direito. O Visual Law, espécie do gênero “Legal Design”, é ferramenta muito importante para a comunicação assertiva. Use a linguagem simples para dar o recado, utilizando recursos e elementos visuais como o canal. Se não houver recursos para contratar uma empresa especializada (e existem muitas startups com preços ótimos), sugerimos o Canvas. Há modelos gratuitos de linhas do tempo, infográficos, guias orientativos e fluxos ilustrados que você pode adaptar internamente e reinventar a forma como os pareceres são entregues aos clientes. 
  2. Automação de monitoramento: existem empresas que cobram um valor irrisório para monitoramento de CNPJ a partir de consulta de dados públicos. Contratando esse monitoramento, seu time poderá garantir a apresentação de defesa administrativa em caso de autuações em tempo hábil e até mesmo evitar esforço intelectual para emissão de guias para pagamento. Deixe o robô com o trabalho operacional para liberar os humanos focarem o tempo na tarefa intelectual e estratégica. 
  3. Orientação por indicadores: consolidar as informações do departamento de forma estruturada pode permitir, por mais simples que seja, a coleta de dados operacionais. Entender quais tipos de indicadores auxiliam na gestão do jurídico e operação da empresa é fundamental para começar a seguir no caminho certo da análise de dados. Criar uma rotina para alimentar os gráficos ou buscar uma startup que faça esse trabalho é muito mais barato do que se imagina. Com isso, realizar uma gestão orientada por dados, portanto, passa a ser uma decisão. 
  4. Integração do sistema de contratos (CLM) com o sistema de vendas (CRM): se possível, o jurídico deve estar no mesmo lugar que o seu cliente interno. Se a empresa já possui um CRM[4] consolidado e em pleno uso, deve-se pensar nas possibilidades de adicionar o jurídico como parte do fluxo, podendo gerar contratos de forma automática (CLM) com informações do sistema de vendas. Ainda, ter um abridor de chamados para o jurídico, assinar contratos de forma eletrônica e usar a ferramenta como repositório único para gestão dos contratos comerciais é a definição de integração em prol de resultados e... Tudo isso já aproveitando a própria estrutura do time comercial. 
  5. Criação de um portal interno: pode parecer algo simples, mas muitos times jurídicos não possuem uma página interna com suas minutas de contrato, principais recomendações, compilado das certidões e licenças vigentes ou links para as demais ferramentas. Os colaboradores devem saber onde estão o contrato social e as procurações atualizadas. Criar um portal atualizado (seja o próprio Drive, a Intranet do time de Finanças/RH ou até mesmo uma FAQ[5]) e divulgá-lo é garantia de eficiência (e o fim de dúvidas recorrentes sobre as informações que estão lá).

As dicas acima, em sua maioria, podem ser executadas com o apoio de uma startup. Contratar pequenas empresas, além de ser um investimento de baixo custo, certamente é uma iniciativa de responsabilidade social, prática que fomenta a agenda corporativa ESG ao apoiar o pequeno empreendedor.  

O que se deve ter em mente é que o conceito “jurídico 4.0” carrega consigo uma série de facilidades para tornar a atividade dos advogados mais eficientes e agregadoras. Recursos como as sugestões de baixo custo mencionadas neste artigo ou iniciativas mais complexas (que necessitam de recursos mais elevados) como aprendizado de máquina e inteligência artificial decisivamente vieram para ficar e estão cada vez mais presentes no dia a dia dos departamentos jurídicos. O avanço destas tecnologias e aplicação nas mais diversas áreas estão difundindo seu uso e fazendo com que o acesso por áreas como o jurídico venha aumentando. No passado isto pode ter sido um sonho distante, mas que já se tornou uma realidade também no universo dos advogados.  

O reposicionamento de marca para fomentar uma cultura protagonista e mais integrada ao negócio pode começar com iniciativas simples. Segundo o físico alemão Albert Einstein, há uma força motriz mais poderosa que o vapor, a eletricidade e a energia atômica: a vontade. Instigue nas advogadas e nos advogados do seu time a vontade de mudar como principal força motriz. Somente atuando de forma diferente será possível conquistar resultados diferentes e ressignificando o time como verdadeiros influenciadores de novos negócios.


[1] O relatório “The Enterprise Legal Reputation Report” foi desenvolvido pela empresa de desenvolvimento de softwares Onit em janeiro de 2022, prometendo dissertar sobre o relacionamento entre departamentos Jurídicos e clientes internos, criando uma fonte de informações, desafios e oportunidades para acelerar o crescimento das empresas. Disponível em < https://www.onit.com/elr/?utm_source=securedocs-elr-chapter1>.  Acesso em 12/10/2022. 

[2] Geralmente os cursos de graduação para o Direito tendem a reforçar a parte da técnica e prática jurídica – focando no conteúdo da prova da Ordem. Enquanto a grade extracurricular, de forma opcional, podem apresentar iniciativas voltadas à inovação, intersecção entre direito e tecnologia, inovação e ao empreendedorismo.

[3] Ganhos rápidos, em tradução livre.

[4] “[Sistema de] Gestão de Relacionamento com o Cliente” em tradução livre.

[5] Perguntas feitas frequentementes, em tradução livre.