Guilherme Araújo

Guilherme Tocci

Paulo Samico

O tradicional discurso de um mundo em rápida transformação já está batido. Para nós, brasileiros, ainda leremos muitos artigos com essa frase, sobretudo com a chegada do 5G nas principais cidades do país, e como sua nova forma de conexão permitirá a aceleração de vários setores da economia. No mundo, a Coreia do Sul foi o primeiro país a adotar o 5G de forma comercial<a href="#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a>. A Bulgária tem a fama de país com essa maior velocidade de conexão e Oslo<a href="#_ftn2" name="_ftnref2">[2]</a>, a capital norueguesa, é a cidade com o 5G de maior estabilidade até o momento, com conexão móvel de download a 500 mbps (algo 20 vezes a média da conexão brasileira).
Aproveitando o momento de conexão hiperacelerada, as big techs estão investindo em novos produtos que certamente aumentarão a popularidade da Internet das Coisas. A Amazon<a href="#_ftn3" name="_ftnref3">[3]</a> aposta na integração de dispositivos, e Google<a href="#_ftn4" name="_ftnref4">[4]</a> e Xiaomi<a href="#_ftn5" name="_ftnref5">[5]</a>, outras gigantes da tecnologia, também investem no segmento da robotização e da inteligência artificial para ganhar a atenção dos consumidores nesse contexto da revolução tecnológica.
Para acompanhar essa evolução, não importa o setor, o Jurídico vem se mostrando um aliado da tecnologia e da correta utilização dos dados que possui a seu favor. Com essa postura, os advogados internos vêm ganhando, ainda, destaque como promotores do negócio, utilizando a técnica jurídica como ferramenta para a tomada de decisão estratégica.
<a href="https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/o-departamento-juridico-como-referencia-no-atendimento-aos-clientes-internos-25072022">Na reunião sobre como ser referência em atendimento para os clientes internos </a>promovida pelo grupo de Departamentos Jurídicos da Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L), a palestrante Karina Tronkos<a href="#_ftn6" name="_ftnref6">[6]</a> trouxe dados de uma pesquisa realizada com mais de 4.000 colaboradores, de empresas sediadas nos Estados Unidos, França, Reino Unido e Alemanha. Sabemos que o mercado jurídico brasileiro é um universo à parte, mas por meio da leitura da referida pesquisa conseguimos extrair bons insights para melhorar o comportamento dos advogados corporativos no nosso país.
O estudo em questão é o Enterprise Legal Reputation Report<a href="#_ftn7" name="_ftnref7">[7]</a>, relatório que tem por objetivo demonstrar como uma gestão orientada a dados e insights é importante para promover uma posição estratégica do Departamento Jurídico na organização. Em muitas empresas, essa missão já é atribuída à área de Legal Operations ou de Eficiência Jurídica, quando na verdade todos os advogados internos – não importa a área – já deveriam estar absorvidos por essa mentalidade.
Os dados podem ser assustadores. Cerca de 3 em cada 4 respondentes não consideram o Jurídico como um bom business partner (73%), com especial destaque para a França, que revela uma lamentável interação com o Jurídico (lá, apenas 16% classificam os advogados internos como bons parceiros). Quando aberta por função, as áreas de Recursos Humanos e de Finanças se destacam como as principais fãs dos advogados:
<img class="aligncenter wp-image-393340 size-full" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2022/09/captura-de-tela-2022-09-23-as-17-18-10.png" alt="" width="1241" height="638" />
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Na lanterna, apenas 37% dos profissionais entrevistados das áreas de Procurement e Marketing entendem que o Jurídico é sinônimo de parceria – não distante está a área de Vendas, com 43%. Esse resultado pode ser interpretado pelo fato de serem áreas que precisam de uma agilidade que o Jurídico nem sempre é capaz de oferecer. Caso precise repaginar a fama do seu time, talvez seja uma boa ideia começar por esses clientes.
Cerca de 61% dos entrevistados consideram o Jurídico inacessível, reativo, bloqueador de novas ideias, ineficiente e coberto de burocracias. A tradução deste resultado é apelidar o Jurídico como o “Departamento do Não”. Estes dados não melhoram quando 79% dos entrevistados entendem que o Jurídico não molda seus times para terem uma atuação moderna, culminando em cultura organizacional rígida e inflexível (48% de pessoas acreditam nisso, reforçando que os advogados deveriam ser mais claros ao criar padrões de riscos aceitáveis, com base em dados).
Chegamos finalmente no dado mais crítico da pesquisa. Cerca de 65% dos participantes alegam by-pass e admitem não envolver o Jurídico nos projetos e iniciativas, mesmo sabendo que estão agindo em desconformidade às políticas internas. Alegam, em suas razões, o fato do jurídico “desacelerar” e “tirar a tração” das entregas. Dos países entrevistados, a França lidera o ranking de insatisfação com 73% de colaboradores que admitem esse comportamento.
Lentidão, burocracia e perda de oportunidade comercial não podem ser justificativas para descumprimento de nenhuma política interna. Da mesma forma, o Jurídico corporativo não consegue exercer sua missão de otimizar riscos do negócio enquanto mais de dois terços da organização evitam envolvê-lo com tais justificativas. É um ciclo vicioso que deixa a empresa em situações não mapeadas.
Diante dos dados apresentados, reunimos algumas áreas de oportunidade que podem ser úteis para superar as ineficiências, evoluindo a imagem de marca aos olhos dos clientes internos e impactando positivamente no negócio. É necessária cada vez mais uma gestão jurídica orientada por dados e por indicadores de performance (KPIs), que podem ser estimulados com base nas reflexões presentes nos tópicos abaixo:
<ol>
<li>Agilidade: você sabe qual é o seu tempo-médio de resposta das suas consultas? E dos contratos? Possui níveis de serviço acordado com os clientes e critérios de priorização (SLA)? Consegue precisar as ações do Jurídico para investimento em uma cultura ágil?</li>
<li>Marketing: você já realizou alguma ação interna para explicar quem são as pessoas e como funcionam as áreas do Jurídico, demonstrando a importância do time para a organização? Como o Jurídico é apresentado para os novos colaboradores da empresa?</li>
<li>Matriz de riscos: você consegue nivelar o conhecimento sobre o core business com os colaboradores de outras áreas? Já explicou os limites regulatórios e delimitou claramente a área de atuação do segmento de negócio para a operação? Construiu uma matriz de riscos e explicou o que é aceitável e o que não é, com base em jurisprudência e na letra de lei?</li>
<li>Indicadores compartilhados: os indicadores do Jurídico estão diretamente relacionados com as metas da empresa? Como isso é deliberado? Quais são as métricas voltadas para a viabilização de receita e para a gestão operacional? Existem reuniões periódicas entre os times que suportam a liderança para discutir a evolução de tais dados?</li>
<li>Legal Operations e Eficiência Jurídica: estes núcleos estão estruturados para atender igualmente com autonomia todos os times do Jurídico e não somente ao contencioso? E as demais áreas da empresa conseguem perceber os impactos desses núcleos? Há uma mentalidade de ecossistema na organização? Os objetivos estão alinhados com as competências do CLOC, quando cabível?</li>
<li>Pesquisa de satisfação: o Jurídico perdeu o medo de ser avaliado e roda periodicamente uma pesquisa de satisfação com seus principais clientes? Essa avaliação ocorre de modo a evitar a subjetividade dos clientes internos, visando entender o que é melhor para a empresa e não apenas para uma negociação específica?</li>
<li>Tecnologia: o Departamento possui sistemas de gestão de ações judiciais, de contratos, de assinatura eletrônica e de consultoria? Os indicadores são demonstrados facilmente com o apoio de dashboards automatizados, sem que os colaboradores percam tempo para a construção das informações manualmente?</li>
<li>Legal Design: consegue exemplificar as ações de simplificação da informação jurídica para a organização? Suas políticas, guidelines, contratos e procedimentos são construídos de forma intuitiva e disponibilizados com facilidade para todas as pessoas?</li>
<li>ESG e D&amp;I: você sabe se os seus fornecedores cumprem a famosa cláusula de apoio à cultura de diversidade? Quais são as ações praticadas pelos parceiros? O Jurídico possui uma agenda estruturada e compartilhada junto à área de ESG?</li>
<li>Apoio interdisciplinar: quanto o seu jurídico investe em capacitação? Há momentos de educação interdisciplinar, onde outras áreas trazem conhecimento e novas hard e soft skills ao Jurídico? E o Jurídico, contabiliza quantos treinamentos e capacitações provê para a organização ao longo do ano, como sobre privacidade de dados, gestão de contratos, compliance, cuidados trabalhistas junto aos fornecedores, entre outros?</li>
</ol>
Os advogados entrevistados alegam que os fatores que impedem o Jurídico de ser melhor avaliado são:
<img class="aligncenter wp-image-393342 size-full" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2022/09/captura-de-tela-2022-09-23-as-17-20-23.png" alt="" width="1193" height="607" />A leitura desses dados nos leva a crer que a alta gestão precisa ser capacitada sobre as novas tecnologias disruptivas. Contudo, antes mesmo de se falar em investimento em tecnologia, é preciso se investir mais em pessoas, numa cultura que promova o aprendizado, a orientação a dados, valorize o planejamento, criatividade, adaptabilidade, entre outras soft skills que cada vez mais são buscadas nos profissionais em diversas áreas do conhecimento. Isto porque, a inovação não está na tecnologia propriamente dita, está nas pessoas, e este é um dos principais fatores que nos levam a direções diversas, acreditando que para inovar é necessário investir em ferramentas.
Nem todos os indicadores são ruins: 47% dos entrevistados veem o Jurídico como um aliado da inovação, destacando o papel dos advogados nas áreas de pesquisa, propriedade intelectual e desenvolvimento de novos produtos e serviços. Com o apoio da automação e da inteligência artificial, os advogados entrevistados revelam que o departamento se tornou 25% mais ágil.
A hora de mudar e de ser proativo é agora. O Jurídico pode – e deve – ser mais que um corpo de advogados. Assumindo um papel de parceiro de negócios, com legítimo interesse de tirar as iniciativas do papel, o Jurídico passa a exercer a missão de influenciador de novos negócios, gerando valor para a sua cadeira e criando uma vantagem competitiva diferenciada para a organização.
Na condição de gestor, promova sempre uma cultura orientada a dados, utilizando métodos claros e indicadores pré-acordados para embasar sua opinião. Cultive um time multidisciplinar, estimulando a capacitação voltada a conteúdos técnicos fora do segmento jurídico, como os de análise e mineração de dados. A verdadeira transformação na percepção do Jurídico para os clientes somente ocorrerá quando se reúne indivíduos comprometidos com uma única causa: a de mudar a realidade a partir de agora. Você está pronto para iniciar essa mudança e colocar os advogados na era da inovação exponencial?
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<a href="#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> 5G no Mundo. Disponível em &lt;<a href="https://canaltech.com.br/casa-conectada/5g-no-mundo-12-paises-que-ja-operam-nas-redes-de-quinta-geracao-202292/">https://canaltech.com.br/casa-conectada/5g-no-mundo-12-paises-que-ja-operam-nas-redes-de-quinta-geracao-202292/</a>&gt;. Acesso em 28/08/2022.
<a href="#_ftnref2" name="_ftn2">[2]</a> Idem.
<a href="#_ftnref3" name="_ftn3">[3]</a> Robô doméstico da Amazon e casas inteligentes. Disponível em &lt; <a href="https://www.startse.com/artigos/astro-robo-amazon-casas-inteligentes/?utm_source=app&amp;utm_medium=link&amp;utm_campaign=artigo&amp;utm_term=26082022">https://www.startse.com/artigos/astro-robo-amazon-casas-inteligentes/?utm_source=app&amp;utm_medium=link&amp;utm_campaign=artigo&amp;utm_term=26082022</a>&gt;. Acesso em 28/08/2022.
<a href="#_ftnref4" name="_ftn4">[4]</a> Google testa o robô PaLM-SayCan, que responde ao comando humano. Disponível em &lt;<a href="https://gizmodo.uol.com.br/google-testa-o-robo-palm-saycan-que-responde-ao-comando-humano/">https://gizmodo.uol.com.br/google-testa-o-robo-palm-saycan-que-responde-ao-comando-humano/</a>&gt;. Acesso em 28/08/2022.
<a href="#_ftnref5" name="_ftn5">[5]</a> Xiaomi lança robô humanoide. Disponível em &lt;<a href="https://www.startse.com/artigos/xiaomi-robo-humanoide/?utm_source=app&amp;utm_medium=link&amp;utm_campaign=artigo&amp;utm_term=26082022">https://www.startse.com/artigos/xiaomi-robo-humanoide/?utm_source=app&amp;utm_medium=link&amp;utm_campaign=artigo&amp;utm_term=26082022</a>&gt;. Acesso em 28/08/2022.
<a href="#_ftnref6" name="_ftn6">[6]</a> Influenciadora digital e criadora do Nina Talks, canal de tecnologia que fomenta conteúdo voltado para UX Designers. Karina também é UX Designer na Accenture. Disponível em &lt;<a href="https://instagram.com/nina_talks?igshid=ZWQxOWIzNTU=">https://instagram.com/nina_talks?igshid=ZWQxOWIzNTU=</a>&gt;.  Acesso em 28/08/2022.
<a href="#_ftnref7" name="_ftn7">[7]</a> O relatório "The Enterprise Legal Reputation Report" foi desenvolvido pela empresa de desenvolvimento de softwares Onit em janeiro de 2022, prometendo dissertar sobre o relacionamento entre Departamentos Jurídicos e clientes internos, criando uma fonte de informações, desafios e oportunidades para acelerar o crescimento das empresas. Disponível em &lt; <a href="https://www.onit.com/elr/?utm_source=securedocs-elr-chapter1">https://www.onit.com/elr/?utm_source=securedocs-elr-chapter1</a>&gt;.  Acesso em 28/08/2022.

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JOTA

Motivos pelos quais a gestão estratégica do Jurídico deve ser orientada por dados e indicadores de performance

Contra dados não há argumentos

O Jurídico pode – e deve – ser mais que um corpo de advogados. Na condição de gestor, promova sempre uma cultura orientada a dados