A saúde pública no Brasil carece de medidas emergenciais. Uma pesquisa do antigo Ibope Inteligência, realizada antes da pandemia com 2.002 pessoas em 143 municípios, revelou que a falta de orientação é mais um agravante à situação. De acordo com o instituto, 20% dos entrevistados possuem doenças crônicas como hipertensão e diabetes. No entanto, mais da metade (53%) não segue à risca as recomendações clínicas ou não costuma concluir os tratamentos.
Como representante do varejo farmacêutico, sei o quanto este resultado justifica o relevante papel dos profissionais que atuam no setor. Mas com a deflagração da pandemia, o protagonismo dos farmacêuticos ficou escancarado e eles, definitivamente, converteram-se em agentes transformadores da saúde brasileira. O futuro, que antes da Covid-19 chegaria em ao menos cinco anos, tornou-se realidade em menos de dois.
A valorização da categoria farmacêutica já é parte de um compromisso histórico da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma). Porém ganhou ainda mais ênfase com a iniciativa de implementar o projeto de Assistência Farmacêutica Avançada, em 2016. O modelo contempla a realização de uma gama de serviços de orientação clínica nas redes associadas, desde a imunização, testes rápidos, medição de pressão e glicemia, e até orientações contra tabagismo e obesidade, entre outros males. As farmácias atuam como um importante ator para solução dos problemas de saúde e da adesão ao tratamento.
Os serviços atendem às principais necessidades da população por meio dos programas como hipertensão em dia, diabetes em dia, colesterol em dia, revisão da medicação, autocuidado, imunização, parar de fumar e perda de peso. Eles são oferecidos em um espaço privativo e confortável dentro da farmácia.
O modelo foi claramente inspirado nas drugstores norte-americanas, nas farmácias canadenses e inglesas, que contam com clínicas que oferecem atendimento básico de saúde e, caso necessário, encaminhamento aos médicos especializados. Sua adoção, sem dúvida, traz grandes benefícios aos consumidores brasileiros e ao Estado. A população brasileira tem, nas farmácias, um ponto estratégico para ampliar seu acesso à saúde e possibilitar a continuidade do tratamento clínico.
Ao mesmo tempo, contribui para desafogar o sistema de saúde pública, ao desestimular a procura por salas de emergências de hospitais em ocasiões que não demandam urgência, e reduzirá custos para pacientes e governo. Também é um grande reforço para campanhas de conscientização e imunização.
A oferta só foi possível com a sanção da Lei 13.021/14, que além de abranger a aplicação de vacinas, colocou o farmacêutico em evidência, concedendo ao profissional mais autonomia e segurança para exercício de sua função. Um bom exemplo é o respaldo legal que o especialista tem atualmente para manter o histórico do paciente, a fim de orientá-lo acerca de como interagir com sua doença. Entretanto, a lei que amplia e valoriza o papel do farmacêutico ainda depende de regulamentação infralegal da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quanto à utilização de mais testes rápidos e outros serviços nesses estabelecimentos.
É dessa maneira que o grande varejo farmacêutico nacional enxerga o futuro do segmento. Os empresários passaram a entender as farmácias muito além de um simples canal de venda de remédios. Mas é importante frisar que as transformações dos estabelecimentos farmacêuticos jamais ambicionarão a substituição do papel dos médicos, como por exemplo, na prescrição de receitas.
Não à toa, cresce o volume de farmacêuticos atuantes nas grandes redes do setor. Do total de 142,3 mil funcionários e colaboradores, mais de 28,6 mil (20%) são farmacêuticos. Há dois anos, esse percentual era de 18%, o que demonstra um incremento gradual na procura por mão de obra especializada e contribui para a valorização da profissão.
Números referentes aos serviços clínicos também atestam esse novo momento. Desde abril de 2020 até a primeira quinzena de janeiro deste ano, os farmacêuticos realizaram mais de 13,8 milhões de testes rápidos para detecção da Covid-19. Esse montante equivale a 22 mil atendimentos por dia. São milhares de brasileiros que passaram a recorrer a esses profissionais como principal canal de atenção primária em saúde.
Não podemos ignorar a abrangência física das grandes redes de farmácias, que possuem mais de 8.700 lojas em todas as unidades da Federação, alcançando regiões carentes em assistência médica e até mesmo com pouca atuação do governo. Tenho a certeza de que, em um território imenso como o brasileiro, os farmacêuticos são parte da solução e podem realizar ações preventivas, de diagnóstico precoce, e suporte para tratamentos, agindo como zeladores do bem-estar populacional.