O Supremo Tribunal Federal (STF) divulgou nota nesta quinta-feira (13/7) em que afirma que a fala “nós derrotamos a ditadura e o bolsonarismo” dita pelo presidente interino da Corte, ministro Luís Roberto Barroso, durante o Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) na quarta-feira (12/7) referia-se ao voto popular e não à atuação de qualquer instituição, seja o STF ou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Durante o evento, Barroso discursou para uma plateia de estudantes e alguns estenderam faixas contra ele e a favor do piso da enfermagem. Em uma das faixas estava escrito: “Barroso: inimigo da enfermagem e articulador do golpe de 2016. Que vergonha, direção da UNE”. No ano passado, o ministro suspendeu o pagamento do piso salarial da enfermagem aprovado pelo Congresso Nacional por falta de detalhamento das fontes de custeio. No entanto, por meio do referendo de uma liminar, o piso voltou em junho para profissionais de saúde do setor público. No setor privado, deve haver negociação.
Ao discursar e ao ser vaiado por uma parcela dos presentes, o ministro disse: “Nada do que está me acontecendo aqui é estranho. Já enfrentei a ditadura e já enfrentei o bolsonarismo e mais do que isso, fui eu quem consegui o dinheiro da enfermagem porque não tinha dinheiro”.
Na sequência, afirmou: “Estar aqui [no Congresso na UNE] é reencontrar o meu próprio passado de enfrentamento contra o autoritarismo, a intolerância e de gente que grita em vez de ouvir, de gente que xinga em vez de botar argumentos na mesa. Isso é do bolsonarismo, de gente que não tem argumento”.
O ministro também disse: “Nós percorremos um longo caminho para que as pessoas pudessem se manifestar de qualquer maneira que quisessem, nós vivemos a democracia no Brasil”.
Ainda segundo o STF, Barroso, que estava acompanhado do ministro da Justiça, Flávio Dino, e do deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), foi aplaudido. As vaias “que fazem parte da democracia” vieram de um pequeno grupo ligado ao Partido Comunista Brasileiro (PCdoB), que faz oposição à atual gestão da UNE.
Por meio de nota, Barroso afirmou que utilizou a expressão “Derrotamos o Bolsonarismo”, quando na verdade se referia “ao extremismo golpista e violento que se manifestou no 8 de janeiro e que corresponde a uma minoria. Jamais pretendi ofender os 58 milhões de eleitores do ex-Presidente nem criticar uma visão de mundo conservadora e democrática, que é perfeitamente legítima. Tenho o maior respeito por todos os eleitores e por todos os políticos democratas, sejam eles conservadores, liberais ou progressistas”.
A fala do ministro foi interpretada por bolsonaristas como uma prova de que o ex-presidente Jair Bolsonaro teria sido perseguido pelos ministros do STF e TSE. O deputado da oposição, Nikolas Ferreira (PL-MG), escreveu em seu Twitter que a oposição pedirá o impeachment de Barroso por cometer crime de atividade político-partidária, previsto no artigo 39, da Lei 1079/50. “Se, por um milagre, houver justiça nesse país, a perda do cargo é inegável”, disse o parlamentar.
A presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Bruna Brelaz, divulgou nota e afirmou que “repudia” a atitude antidemocrática de grupos minoritários, que na abertura do 59º Congresso da entidade desrespeitou a fala dos familiares de Honestino Guimarães e do ministro do STF Luís Roberto Barroso.
“A UNE é uma instituição quase centenária, que em toda sua história se propôs a reunir amplos setores sociais em defesa da democracia, da educação e do Brasil. Procuramos neste momento reafirmar esse compromisso, ao receber pela primeira vez desde a redemocratização um ministro do STF em nosso congresso, onde colocamos a nossa defesa pela prisão de todos aqueles que atentaram ao estado democrático recentemente, principalmente, o que foi o principal arquiteto deste ataque, o Bolsonaro”, diz o texto.