Palestra

Moraes chama plano golpista de ‘tentativa de uma operação tabajara’

Ministro disse que plano relatado por Do Val mostra ‘o quão ridículo chegamos na tentativa de um golpe de Estado no Brasil’

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, durante palestra na Brazil Conference, do Lide - Reprodução

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), falou nesta sexta-feira (3/02), durante palestra na Brazil Conference, do Lide, em Lisboa, sobre o que foi relatado pelo senador Marcos Do Val (Podemos-ES), de que havia um plano para gravá-lo ilegalmente para comprometê-lo.  Na primeira vez em que comenta o tema, Moraes chamou o plano golpista de “tentativa de operação tabajara”.

“Foi exatamente essa a tentativa de uma operação tabajara que mostra o quão ridículo chegamos a tentativa de um golpe de Estado no Brasil”, destacou Moraes.

O ministro relata que o senador solicitou uma audiência, como é praxe parlamentares fazerem e que, na conversa, Do Val contou a Moraes que o então deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) o teria procurado para uma reunião com o ex-presidente da República Jair Bolsonaro.

“A ideia genial que tiveram foi colocar escuta no senador, para que ele, que não tem nenhuma intimidade comigo, eu conversei exatamente três vezes com esse senador, pudesse me gravar, e, a partir dessa gravação, e aí até onde chegou o senador, pudesse solicitar minha retirada da presidência dos inquéritos”, contou Moraes, relator de inquéritos como os que apuram as fake news e os antidemocráticos.

Em seguida, o ministro perguntou ao senador se ele passaria o relato para o papel para que Moraes tomasse o depoimento. Após a negativa, sob justificativa de ser “uma questão de inteligência”, a conversa terminou. “Eu me levantei, me despedi do senador, agradeci a presença, até porque até porque o que não é oficial, para mim não existe”, afirma o ministro.

‘Lavagem cerebral’

Durante sua fala, Moraes declarou gasta-se, atualmente, muita energia para defender a democracia, algo que se entendia estar consolidado, ao invés de dedicar tempo a outros temas:

“Nós estamos num impasse, não é só o Brasil. [Estamos] gastando muita energia para defender algo que todos entendiam estar consolidado: as instituições democráticas. E essa energia, que deveria ser utilizada para o desenvolvimento econômico, social, educacional do país, essa energia do Legislativo, de parte do Poder Judiciário, principalmente, acabam sendo utilizadas para conter os arroubos ditatoriais, em vários locais do mundo, do Poder Executivo, ou de políticos populistas. É, essencialmente, uma perda de energia institucional, econômica, social que demorará, senão regularizarmos isso, décadas para ser solucionado”, afirmou.

Moraes falou sobre o uso das redes sociais como algo bom e democrático e que foi capturado principalmente pela extrema-direita para fazer justamente o contrário. Para ele, esses meios são usados como forma de lavagem cerebral. Em sua fala, o ministro afirmou que as pessoas chegaram ao absurdo de cantar o Hino Nacional para pneus. A cena de bolsonaristas que protestaram dessa forma após vitória de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência viralizou nas redes sociais.

“Essa lavagem cerebral transformou pessoas em zumbis, pessoas repetindo ideais absurdas, pessoas cantando Hino Nacional para pneus, pessoas esperando que ETs viessem ao Brasil resolver o suposto problema da urna eletrônica. O que poderia ser uma comédia, é uma tragédia que resultou numa tentativa frustrada de golpe no dia 8 de janeiro”, declarou.

O ministro pontuou que há mecanismos para proteger a democracia de ameaças externas, mas não há essas medidas para de essa corrosão ser interna, partindo de políticos populistas.

Hostilidades

Questionado sobre as hostilidades vividas no último Lide Brazil Conference, que aconteceu em Nova Iorque, em novembro de 2022, Moraes ressaltou que “as pessoas têm todo o direito de criticar o STF e as decisões dos ministros do STF. Ninguém tem o direito de agredir verbal ou fisicamente um ministro, de xingar, de ameaçar as famílias dos ministros do STF”, afirmou e continuou:

“São coisas diversas, esses vândalos e golpistas passaram a confundir a liberdade de expressão de poder criticar as instituições e os próprios ministros, com a liberdade de agressão de poder aparecer na porta da casa dos ministros, ameaçá-los de morte e achar que isso é normal”.

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