
O ex-ministro da Justiça e ex-secretário de segurança pública Anderson Torres prestou depoimento na Polícia Federal nesta quinta-feira (2/2) e em depoimento afirmou que não tomou providências em relação à minuta de golpe por considerá-la totalmente “descartável”, além de se tratar de um documento sem viabilidade jurídica. Torres também disse que o documento é “muito ruim”, com “erros de português”, e “sem fundamento legal, divorciado da capacidade dos assistentes do Ministério da Justiça em produzir o documento”.
Questionado como a minuta golpista foi parar na estante de sua residência, Torres afirmou que devido à sobrecarga de trabalho, levava alguns documentos para a casa. Explicou que a sua assessoria separava duas pastas de documentos para sua análise: uma se referia à agenda do dia seguinte, e a outra continha documentos gerais do ministério e outros para análise.
Ainda segundo Torres, da sua casa, os documentos importantes eram despachados e retornavam ao ministério e os demais eram descartados. Ele informou que não sabe como o documento foi parar na estante de sua casa, mas acredita que “possa ter sido sua funcionária ao arrumar a casa”.
Torres disse à PF que não deixou o seu aparelho celular nos Estados Unidos, mas que o perdeu. Mas se a polícia quiser, ele pode fornecer o login e senha da nuvem. O ex-ministro da Justiça disse também que não participou da suposta reunião denunciada pelo senador Marcos do Val com Daniel Silveira e Bolsonaro sobre um possível golpe de estado.
Atos antidemocráticos
Sobre os ataques do dia de 8 de janeiro que resultaram da invasão e depredação dos prédios da Praça dos Três Poderes em Brasília quando ocupava o cargo de secretário de segurança pública do Distrito Federal, Anderson Torres negou que Flávio Dino, atual ministro da Justiça, o tenha alertado, no dia 6 de janeiro, sobre a possível ocorrência de um atentado em Brasília. Informou que não recebeu as informações da inteligência que informaram sobre possíveis invasões em prédios públicos. Disse ainda que não teve ingerência sobre a nomeação do comandante da PMDF, Fábio Augusto Vieira, tanto que nem tinha o seu contato telefônico.
Torres disse à polícia que antes de viajar passou para a sua equipe o protocolo de ações integradas de segurança e informou ao secretário interino Fernando de Sousa Oliveira que quaisquer problemas mais graves deveria ser reportados ao governador do DF, Ibaneis Rocha.
Torres afirmou que estava em Miami viajando com a família de férias e que a viagem não tem nenhuma relação com o ex-presidente Jair Bolsonaro, inclusive, eles não se encontraram em território americano.
A relação de Torres com Jair Bolsonaro
No depoimento à PF, Torres disse que nunca houve uma conversa entre ele e Bolsonaro sobre a alternância de poder, mas ouviu uma entrevista dele dizendo que caso perdesse a eleição iria respeitar o resultado das urnas.
Perguntado se Bolsonaro conversava com ele e com aliados a respeito de eventual fraude no processo eleitoral, Torres respondeu que durante o mandato o ex-presidente questionava o método de apuração, que deveria ser mais transparente, mas que após a eleição ele percebeu que o ex-presidente passou por um processo de aceitação de sua derrota.
Torres disse ainda que após a eleição, Bolsonaro passou a ficar introspectivo e aparentemente depressivo. Desenvolveu, inclusive, erisipela e passou por um tratamento de saúde prolongado, por isso, quase não recebia mais assessores e ministros.
Quando questionado pela PF se Bolsonaro ficou inconformado com a derrota nas urnas, Torres limitou-se a dizer que, na verdade, ele “ficou decepcionado com a derrota e não inconformado”.