A Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda aproveitou a divulgação dos dados do PIB de 2022 para entrar na cruzada para que o Banco Central reveja sua política de juros. Em nota informativa sobre o crescimento de 2,9% no ano passado, com queda de 0,2% no último trimestre, a SPE diz que há um cenário de retomada se delineando por conta de medidas de estímulo como o novo programa social, o reajuste real do salário mínimo e a correção da tabela do Imposto de Renda, além de uma elevada safra agrícola, mas aponta que o aperto monetário joga contra.
“Prospectivamente, vale citar como vetor negativo para o crescimento prospectivo a política monetária no campo significativamente contracionista. Como consequência das elevadas taxas de juros, observa-se trajetória ascendente para os spreads e para o custo de crédito, além de desaceleração acentuada nas concessões de crédito livre”, diz o órgão comandado pelo economista Guilherme Mello, que estima que a desaceleração no fim do ano passado acabou levando a um carregamento estatístico de apenas 0,2 ponto porcentual para o PIB de 2023.
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Em outro trecho, a nota reforça essa mensagem sobre o problema dos juros, colocando também como uma questão internacional. “Por outro lado, podem pesar negativamente para a atividade o aumento da rigidez da política monetária a nível mundial, reduzindo o ritmo de crescimento da economia global e, consequentemente, a contribuição do setor externo para a atividade doméstica e a piora das condições de crédito bancário e não-bancário decorrente das altas taxas de juros domésticas, dificultando a rolagem de dívidas e o acesso a capital de giro pelas empresas”, diz a nota.
O governo tem criticado recorrentemente os juros praticados pelo BC. Os ataques vão desde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) até o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mesmo com esse último tentando fazer um papel de amortecedor da relação entre governo, PT e BC. Haddad inclusive insuflou parlamentares a baterem nos juros elevados praticados no Brasil, como mostrou o JOTA, após anunciar a recomposição da tributação da gasolina.
Em entrevista nesta quinta-feira (2/3) ao Metrópoles, a presidente do PT e personagem bastante influente no governo, Gleisi Hoffmann, subiu o tom dos ataques a Roberto Campos Neto, presidente do BC, sugerindo que ele inclusive peça demissão do cargo, para o qual tem mandato até 2024.
O governo espera que na próxima reunião o Copom já mude a política, pelo menos sinalizando que a queda da taxa básica (Selic) entrou no radar. Esse foi um dos motivos para que Haddad jogasse duro para ter os R$ 28,9 bilhões esperados de arrecadação com a reoneração dos combustíveis. Uma ala do governo também defende, e Haddad avalia se será possível, antecipar a apresentação do novo arcabouço fiscal antes da reunião do Copom, prevista para 22 de março.
Seja como for, o BC pode até tentar fazer um gesto, mas está em um dilema entre tentar conter os ímpetos e ataques do governo e não perder credibilidade, que ocorreria em caso de um cavalo-de-pau em sua política.