
Com os primeiros resultados práticos da operação que visa conter a escalada dos preços dos combustíveis, a ordem no Planalto é impedir que os governadores colham os dividendos políticos decorrentes da redução do ICMS, aplicada em pelo menos 21 estados.
Após analisar dados positivos de monitoramento de redes no final de semana, a equipe do presidente Jair Bolsonaro (PL) quer carimbar a medida como “conquista do governo federal” e orientou os partidos da base de apoio ao Executivo que explorem regionalmente as declarações do presidente quanto ao tema.
A ideia é associar a figura de Bolsonaro ao barateamento da gasolina, diesel e gás de cozinha, em contraponto aos governantes estaduais, que resistiram até o último momento a diminuir a arrecadação em ano eleitoral.
O presidente se queixou em especial do que chamou de “uso político” da medida pelo tucano Rodrigo Garcia, em São Paulo. Ele foi o primeiro a anunciar a adesão à alíquota máxima de 18%, que permitirá ao consumidor final economia que deve oscilar entre R$ 0,20 e R$ 0,30 por litro.
Candidato à reeleição, o governador paulista chegou a acionar o Procon para fiscalizar o valor cobrado nos postos, exemplo que foi seguido pelo colega de partido, Reinaldo Azambuja, do Mato Grosso do Sul.
A preocupação com São Paulo decorre dos entraves que os bolsonaristas vêm enfrentando no maior colégio eleitoral do país. Não à toa, o presidente pediu ao PL, seu partido, que organize na capital paulista o ato de lançamento oficial da candidatura à reeleição, possivelmente no próximo dia 23.
‘Nome aos bois’
Bolsonaro cobrou dos estrategistas de sua campanha e dos assessores do Planalto uma resposta “rápida e firme”, mas não está satisfeito com a comunicação das iniciativas de sua gestão. Ele defende que seja feita uma ofensiva de marketing, apesar das restrições da lei eleitoral, para “dar nome aos bois”.
Incomodado com a dificuldade de sua equipe em abraçar com sucesso a causa, o presidente afirmou em Salvador (BA) que o Brasil terá um dos combustíveis mais baratos do mundo devido às medidas de redução de impostos defendidas pelo governo. “Teremos brevemente, assim como já baixei ou zerei a maioria dos impostos federais, o combustível, um dos combustíveis mais baratos do mundo”, disse em discurso no Farol da Barra.
“O presidente está cobrando os governadores e mobilizando o Congresso há mais de um ano. Quando sai a redução do ICMS, ele fica atrás e os adversários é que aparecem como salvadores da Pátria? É natural que exista esse estresse”, afirma ao JOTA um interlocutor do governo que está envolvido na operação de redução de danos.
Enquanto não ganha tração a estratégia da campanha, os integrantes da ala ideológica do governo improvisam uma mobilização nacional chamada “Obrigado, Bolsonaro!”. Trata-se de uma convocação geral de postagem de fotos e vídeos de placas de postos de combustíveis com os preços praticados antes e depois da mudança no ICMS — bandeira do presidente.
Há no QG político de Bolsonaro uma inquietação com a demora, pois a tendência de alta do petróleo bruto pode ameaçar os ganhos para os consumidores. A expectativa do governo é de que o novo comando da Petrobras retarde ao máximo a aplicação automática de novos reajustes, mas ministros temem que o novo presidente, Caio Paes de Andrade, não consiga domar as pressões que virão de acionistas minoritários, via diretoria e conselho da companhia.