Deputado federal de primeiro mandato, André Janones (Avante-MG) aposta na força das redes sociais e na projeção como um “outsider” da política em Brasília para alavancar a pré-candidatura à Presidência da República nas eleições de 2022.
Se comparado a outros pré-candidatos mais experientes, conhecidos ou que têm uma forte máquina partidária por trás, André Janones não faz feio nas pesquisas eleitorais. Ele chega, inclusive, a rivalizar com Simone Tebet (MDB) na faixa dos 2% das intenções de voto. Se considerada a margem de erro, já chegou a empatar tecnicamente com Ciro Gomes (PDT) e o já não mais candidato a presidente Sergio Moro (União Brasil).
Seus números de seguidores nas redes sociais também chamam atenção para quem não integra a elite política nacional. No Facebook, são 7,9 milhões de seguidores. No Instagram, 2 milhões. Já no YouTube, são 1,39 milhão de inscritos em seu canal.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) conta com 14,5 milhões de seguidores no Facebook enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acumula 4,9 milhões seguidores na rede social, por exemplo. Contudo, só a popularidade online não basta e um dos maiores desafios de André Janones agora é converter esse número de seguidores em votos. Até o momento, não conseguiu decolar na corrida ao Planalto polarizada por Bolsonaro e Lula.
Quem é André Janones: mineiro de Ituiutaba e ex-cobrador de ônibus
André Luis Gaspar Janones tem 38 anos, completados em 5 de maio, de forma que é um dos mais jovens entre os atuais pré-candidatos o posto de Presidente da República. Ele nasceu em Ituiutaba, cidade mineira próxima a Uberlândia e perto da divisa com Goiás.
A mãe do político era empregada doméstica. Da escola pública, Janones conseguiu bolsa de estudos de 50% da mensalidade para cursar Direito na então Fundação Educacional de Ituiutaba, segundo informações de seu site político.
Antes de virar deputado federal, Janones foi advogado e cobrador de ônibus da empresa Paranaíba Transportes na cidade natal.
Greve dos caminhoneiros e a ascensão de André Janones
O mineiro começou a se envolver na política por meio da advocacia e do movimento social “Por Amor a Ituiutaba”, que trabalhou, por exemplo, pela instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde municipal para apurar supostas irregularidades em 2014.
Na época, foi ainda colaborador do programa independente “Circulando”, veiculado pela Rede Vitoriosa, emissora afiliada ao SBT em Ituiutaba, em que tirava dúvidas de telespectadores sobre direitos do consumidor e tratava de assuntos locais.
André Janones se candidatou à prefeitura de Ituiutaba pelo PSC em 2016, mas perdeu o pleito para Fued Dib, candidato do MDB, tendo ficado em segundo lugar com 13.759 votos (24,4% dos votos válidos). Fued Dib arrematou 29.388 votos (52,11%).
A projeção à política nacional veio ao longo da greve dos caminhoneiros de maio de 2018. Janones defendeu os grevistas que pediam melhores condições de trabalho e redução nos preços dos combustíveis, além de encampar as vozes pela saída do então presidente Michel Temer (MDB) do poder – o que não aconteceu.
Ainda assim, a greve de 10 dias foi parcialmente bem-sucedida e causou preocupações ao governo federal. Por causa de lives, vídeos em aplicativos de mensagens e da própria articulação junto aos caminhoneiros, virou uma espécie de porta-voz informal do movimento.
Em reportagem do jornal “Folha de S.Paulo” durante a greve, Janones disse que o número de seguidores de sua página no Facebook havia saltado de 75 mil para 661 mil pessoas. À época, também afirmou à Folha que, num só dia, havia recebido mais de 1 milhão de mensagens no WhatsApp.
Nas eleições daquele ano, na esteira da popularidade gerada com a participação na greve, Janones se lançou a deputado federal pelo Avante e foi o terceiro mais votado ao cargo em Minas Gerais, com 178.660 votos. O primeiro lugar ficou com Marcelo Álvaro Antônio, ex-ministro do Turismo de Jair Bolsonaro, que conseguiu 230.008 votos.
Em entrevista coletiva, já disse ter votado em Fernando Haddad (PT) no primeiro e no segundo turno das eleições de 2018 em repreensão a Jair Bolsonaro.
Alvo no Conselho de Ética da Câmara
Na Câmara dos Deputados, Janones nunca fez parte dos parlamentares mais influentes ou com mais acesso à elite política de Brasília. Pelo contrário, é integrante do grupo apelidado informalmente de baixo clero.
Janones busca apresentar essa situação como uma vantagem ao dizer que sua pauta é formulada com base no que o povo quer, e não nos interesses dos caciques políticos. A maioria de suas propostas é relacionada aos temas de administração pública, trabalho, previdência e assistência, e direitos humanos.
Em 2019, o partido Solidariedade entrou com representação contra Janones no Conselho de Ética da Câmara por suposta quebra de decoro porque o parlamentar havia dito numa rede social que iria mostrar “canalhas” e “vagabundos” da Casa. O processo acabou arquivado.
Três votos na eleição ao comando da Câmara
No ano passado, André Janones lançou o próprio nome na eleição interna à Presidência da Câmara. Seu slogan foi “a pauta é o povo”. Ficou em sexto lugar de um total de oito candidatos e conseguiu três votos. Não contou nem com o apoio do próprio partido, o Avante, que decidiu integrar o bloco de apoio a Arthur Lira (PP-AL), vencedor do pleito.
No caminho da corrida presidencial, o lançamento da pré-candidatura de André Janones ao Planalto aconteceu em Recife, Pernambuco, em 29 de janeiro deste ano. No discurso, defendeu um programa de renda mínima, chamou discussões ideológicas de “secundárias” para parte da população e criticou a polarização política entre esquerda e direita.
Os discursos e postagens do parlamentar focam emprego, saúde e comida na mesa como preocupações mais urgentes para a maioria dos brasileiros, sem deixar a retórica anticorrupção de lado.
André Janones se posiciona contra a política de preços da Petrobras e argumenta que uma reforma tributária tem que diminuir a desigualdade social. Quando da discussão da manutenção do auxílio emergencial pelo Congresso Nacional em R$ 600, em setembro de 2020, o deputado defendeu taxar grandes fortunas e lucros e dividendos para que o valor fosse preservado.
Na época, uma de suas lives sobre o auxílio emergencial foi tida como a mais comentada do mundo ocidental no Facebook, de acordo com o pesquisador Fabio Malini, do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo, com base em dados do CrowdTangle – ferramenta do Facebook. Foram 302 mil compartilhamentos, 177 mil comentários e 3,3 milhões de visualizações, segundo Malini, horas após a live.
Em entrevista à GloboNews em abril deste ano, André Janones disse que o presidente da Argentina é Emmanuel Macron, que, na verdade, é presidente da França. Mais tarde, disse ter confundido Macron com Mauricio Macri, que deixou a Casa Rosada em 2019. O atual presidente argentino é Alberto Fernández.
Sem aliança forte
Nas pesquisas eleitorais de intenção de voto ao Planalto divulgadas recentemente, Janones continua não passando da faixa de 2% a 3% das intenções de voto, desconsideradas as margens de erro.
A pré-candidatura de Janones não tem uma aliança forte para impulsioná-la. Partido pequeno, o Avante contabilizava, até o fim de abril, seis deputados federais e nenhum senador. Também não indica formar uma federação com outra legenda até o momento.
Ex-homem forte da campanha de Bolsonaro nas eleições de 2018, o empresário Paulo Marinho tem apoiado a equipe de Janones para tentar concretizar seu eventual potencial de crescimento. O movimento indica que o deputado deve investir em grupos onde não é tão conhecido, como a classe A e o mercado financeiro.
Denúncia de suposta rachadinha em gabinete de André Janones
No final do ano passado, um ex-assessor de André Janones, Fabrício Ferreira, fez denúncia de suposta prática de rachadinha no gabinete do deputado federal. O caso é investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Procurado pela reportagem, André Janones afirmou que “Não existe processo investigatório. Quinze dias depois ser mandado embora, um ex-assessor iniciou esse falatório na imprensa. Falas vazias, sem materialidade e sem nenhuma prova”. A PGR informou que o caso está sob sigilo e, por isso, não pode passar informações adicionais.