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Após crise, saúde suplementar mira em ampliar população coberta por planos

Ampliação do número de beneficiários e diversificação da oferta de planos estão entre os desafios de operadoras de saúde e hospitais privados

Foto: Unsplash

Atualmente, estima-se que 54 milhões de brasileiros estejam cobertos pelos serviços de saúde suplementar. Ou seja, por operadoras de planos e seguros privados de assistência médica à saúde contratados em planos individuais, coletivos ou por meio empresarial. 

Após enfrentar uma série de desafios sem precedentes nos últimos anos, principalmente devido à pandemia de Covid-19, representantes do setor projetam que 2024 será um ano de maior estabilidade e que os maiores desafios para os próximos anos são: ampliar o número de usuários e melhorar a comunicação de saúde em diferentes frentes. 

Em painel da Casa JOTA, nesta quinta-feira (22/2), em parceria com a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), estiveram presentes o diretor presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Paulo Rebello; o presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), Renato Casarotti; e Antônio Britto, diretor executivo da Anahp.

Eles discutiram questões que envolvem o atual cenário, os desafios e as perspectivas futuras para a saúde suplementar. 

“Nos últimos três anos, que coincidem com a minha gestão, a única constante foi a mudança. Tivemos dificuldade de projetar o que iria acontecer por conta de muitas mudanças: boom de covid, fortalecimento da telemedicina e muitos reajustes nos preços. Isso trouxe um desafio grande para o setor que foi investir na busca de um equilíbrio financeiro. Tivemos um aumento de despesas, que é normal que aconteça, mas uma diminuição de receitas. Passamos por uma grande tempestade”, comentou Renato Casarotti.

Já para 2024, a expectativa do presidente da Abramge é de que a área passe por um período de maior estabilidade, seguindo a tendência de 2023 quando o setor de saúde suplementar começou a se reequilibrar.

Segundo ele, a perspectiva de recuperação econômica do país e as melhorias de gestão nos planos de saúde podem ajudar a reduzir as tensões com beneficiários e com os prestadores de serviços.

Paulo Rebello, diretor presidente da ANS, compartilhou do mesmo otimismo e disse que a prioridade para 2024 é o cumprimento da Agenda Regulatória 2023-2025.

Entre as ações prioritárias estão: melhoria do relacionamento entre operadoras e usuários de planos, melhoria do acesso dos usuários a informações e a serviços (portabilidade entre uma operadora e outra, por exemplo), aprimoramento do sistema de saúde complementar com o SUS, registro nacional de dados em saúde, troca de informações entre os setores de saúde privado e público, reelaboração de regras econômico-financeiras dentro do setor. 

“Nos últimos anos, temos mantido interlocução permanente com os interessados no setor, evoluindo muito na transparência, no diálogo. Estamos trabalhando muito em transformar os dados que temos em informações para facilitar o entendimento do consumidor para que assim ele consiga entender mais sobre o seu plano e seus direitos”, contou ele. 

Principais desafios da área

Um dos maiores desafios a médio e a longo prazo é a ampliação do número de pessoas atendidas pela rede de serviços de saúde complementar.  O que impede esse crescimento, principalmente nos planos individuais, é a dificuldade e a resistência das pessoas para pagar um plano. As empresas também têm dificuldades financeiras e estruturais para contratar os planos para funcionários. 

“Temos que sair do patamar dos 50 milhões de usuários, estamos há muito tempo rodeando esse número. O que nos impede de termos 70 milhões se a maioria dos brasileiros quer ter um plano? Precisamos pensar nisso e agir”, apontou Antônio Britto, diretor executivo da Anahp. 

Uma das possibilidades levantadas por eles durante o evento foi a de que a oferta de planos, com diferentes níveis de coberturas, seja ampliada. Assim, por exemplo, um cliente poderia aderir a um plano ambulatorial com cobertura apenas para consultas e exames, por exemplo. 

“Quando você olha para os usuários do SUS, o principal gargalo está nas consultas e nos exames. Uma mamografia, por exemplo, pode demorar muitos meses para ser marcada. Poderíamos entrar nesse espaço, mas a comunicação de venda tem que ser muito bem feita para que a pessoa saiba que esse plano não cobre tudo”, explicou Renato. “A ampliação de acesso à saúde suplementar nesse patamar é mais fácil do que tentarmos baratear os planos que são muito abrangentes”.

Segundo ele, do ponto de vista de mercado, é impossível que um serviço que invista em melhorias, em novas tecnologias e na ampliação da cobertura consiga diminuir seu preço para o usuário final. Assim sendo, a única possibilidade é investir em uma boa gestão de recursos e redução de custos burocráticos para que os ajustes sejam menos elevados, pois é inevitável que eles aconteçam.

“Não cabe à ANS estabelecer qual é o tamanho do sistema de saúde suplementar, mas acredito que podemos sim investir em encontrar produtos outros para a população. Já temos casos de clínicas populares com planos de consultas e exames e isso pode ser ampliado. É um desejo da população estar dentro do setor de saúde suplementar, então temos que trabalhar para aumentar esse acesso”, complementou Rebello, da ANS. 

Parceria público-privada para melhoria dos serviços

Um dos assuntos discutidos neste painel da Casa JOTA foi a relação entre o setor público e privado no que diz respeito aos serviços de saúde complementar. Um dos aspectos levantados por Rebello foi sobre as regras de incorporação de novas tecnologias. 

“Vivemos em um mundo em transição em que as mudanças tecnológicas chegam rápido. Por isso, nosso desafio é imenso e permanente. A ANS tem um processo de revisão em que as propostas de mudanças são avaliadas tecnicamente para garantir que as novas incorporações sejam realmente úteis para a saúde dos pacientes. Recentemente, houve uma mudança legislativa para que o prazo diminuísse e isso foi bastante benéfico”, disse o diretor presidente da ANS.

Entretanto, ele enfatizou que não é apenas a incorporação de tecnologia que vai melhorar a sustentabilidade do setor, sendo necessário que as operadoras façam uma gestão em que a saúde do paciente esteja sempre no centro.

Na prática, é essencial, na visão dele, que haja campanhas de conscientização sobre prevenção de doenças e de diagnóstico precoce, o que pode evitar gastos financeiros e a deterioração da saúde das pessoas. 

O mesmo ponto também foi trazido por Britto, da Anahp, que avalia como cultural e prejudicial o foco no enfrentamento de doenças em vez da gestão de saúde. “A população brasileira está envelhecendo mal. Nosso desafio é como sociedade, não apenas como agência ou plano de saúde. Se fizermos uma administração da saúde, com exames preventivos e correções, as doenças irão diminuir e o custo de enfrentá-las também. O dever de casa das operadoras é pensar no que pode ser feito de estímulo econômico e financeiro para que seja feita essa gestão da saúde”, sugeriu ele.

Por fim, eles salientaram que existe um grande desafio de comunicação na área da saúde. O ponto principal disso seria a elaboração de um prontuário único de saúde, no qual todo o histórico médico de cada cidadão ficasse salvo e que pudesse ser compartilhado entre o SUS e os planos de saúde privados.

No caso de migração de planos particulares, que são bastante frequentes, esse prontuário também poderia ser utilizado para que as informações não se perdessem.

Segundo eles, a comunicação também é a chave para diminuir o desgaste gerado pelos casos de judicialização. “Não está aumentando tanto o volume de ações, mas o valor de cada uma. O que pode estar ocasionando isso é o aumento da complexidade das ações e também os muitos casos envolvendo medicamentos, que podem ter um custo altíssimo. Juiz não é médico, e vimos que muitos casos considerados urgentes não eram de fato urgentes”, contou Renato Casarotti.

Como solução para isso, Paulo Rebello pretende investir em ações de educação e comunicação. “A Agência Nacional de Saúde Suplementar quer organizar eventos nos tribunais de justiça do país para que os magistrados tenham maior entendimento do que fazemos. A agência tem esse papel de transmitir conhecimento de modo geral e estamos investindo nisso”. 

O painel está disponível na íntegra no YouTube:

 

 

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