O presidente Jair Bolsonaro (PL) começa a enfrentar dificuldades para governar e fazer campanha em tempos de inflação, desemprego e piora nas condições econômicas da população. Ele programou uma extensa agenda de inaugurações e atos políticos no Nordeste, região em que ele tem os piores índices de aprovação e perde com larga margem para o ex-presidente Lula, mas o resultado foi frustrante para os aliados dele, principalmente ministros e congressistas do centrão.
Além de cometer gafes e usar termos preconceituosos para se referir aos nordestinos, o presidente não conseguiu empolgar com seu discurso ideológico e anti-PT. Os próprios auxiliares do governo sentiram dificuldade de mobilizar público para os eventos dos quais Bolsonaro participou, exceto pessoas da militância mais fiel e inflamada.
E o pior para o presidente: alguns desses atores importantes da ala política do Planalto começam a fazer “jogo duplo” no Nordeste, pois temem que a associação ao presidente seja prejudicial nas urnas para seus projetos locais e regionais.
Na candidatura de João Doria (PSDB), mais crise. A cada semana, há um candidato da “terceira via” que passa por turbulências, o que mostra o enorme desafio que existe para viabilizar uma candidatura que seja alternativa à polarização Lula-Bolsonaro.
O governador de São Paulo enfrenta uma rebelião entre os que foram derrotados por ele nas prévias do PSDB. Esse grupo, que é muito forte na direção do partido, mas tem pouco apelo eleitoral, quer discutir uma troca de candidatura ou até mesmo uma aliança com outras siglas.
É uma operação muito delicada, pois Doria, apesar do desempenho ruim nas pesquisas até agora, participou de uma disputa interna e vem seguindo o protocolo da candidatura: buscando aliados, consolidando suas marcas na gestão paulista e preparando o terreno para a renúncia, em março.
Por fim, nesta semana, foi relevante a posição do Judiciário validando e dando mais prazo para as chamadas federações partidárias, que, na prática, foram um mecanismo criado pra driblar o fim das coligações e salvar partidos de menor porte, que teriam imensas dificuldades de superar a cláusula de desempenho nas próximas eleições.
Há articulações no campo da esquerda, encabeçadas pelo PT, e no campo do centro, lideradas pelo PSDB, para levar adiante federações. No entanto, as dificuldades são expressivas. A lógica de sobrevivência dos partidos é a base territorial dos seus parlamentares e caciques. E criar federações significa, em muitos casos, abrir mão dessas lideranças regionais em favor de projetos nacionais.
Pode acontecer? Sim, especialmente com partidos pequenos que podem se associar a outros maiores para escapar da guilhotina. Mas grandes acordos com siglas maiores são muito complicadas e dificilmente sairão do papel.
As análises completas de Fabio Zambelli, analista-chefe do JOTA, sobre a semana para o governo estão disponíveis também no perfil do JOTA no Instagram (@jotaflash) às sexta-feiras.