Embora publicamente o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, tenha desdenhado da adesão de banqueiros ao manifesto em defesa da democracia que vem sendo gestado por juristas e empresários, atribuindo-a a um suposto descontentamento do sistema financeiro nacional com o advento do PIX, o núcleo da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) demonstra apreensão com o avanço de iniciativas semelhantes envolvendo setores organizados da economia.
A avaliação no QG bolsonarista é a de que a reunião da semana passada com embaixadores, durante a qual o presidente deixou claro que não aceitará o resultado da eleição caso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não acolha as sugestões de transparência ao processo feitas por uma comissão das Forças Armadas, catalisou energias de forças políticas e do setor produtivo que vinham se mantendo distantes e neutras na corrida presidencial.
Além da manifestação objetiva dos governos dos EUA e do Reino Unido, que referendaram confiança no sistema eleitoral brasileiro, o que melindrou militares do entorno de Bolsonaro, o discurso do chefe do Executivo contra as urnas eletrônicas despertou reação de dirigentes partidários de centro e de entidades representativas do PIB nacional.
Aliados do presidente mencionam especialmente a desenvoltura de Michel Temer na operação para levar o MDB ao bloco de Lula ainda no primeiro turno e a disposição de associações classistas, como a Fiesp, maior representação industrial do continente, em endossar manifestos pró-democracia e estado democrático de direito.
“Primeiro foi o Temer. Agora até a Fiesp. Esse tipo de movimentação não acontece por acaso. É o establishment econômico, inclusive aquele que flertou com o bolsonarismo, tomando posições. Ninguém com negócios e investimentos no país vai embarcar numa aventura de ruptura institucional”, afirmou ao JOTA um interlocutor do governo que tem aconselhado Bolsonaro a mudar a pauta da sua campanha, evitando novos ataques às urnas eletrônicas.
Todos por um
“Não vamos nos omitir, obviamente. Toda iniciativa reafirmando a confiança nas instituições e no estado democrático de direito terá nosso respaldo”, disse ao JOTA um importante líder empresarial, envolvido nas tratativas de um documento de amplo alcance setorial contra eventuais rompantes golpistas.
Esse dirigente defende que as notas e cartas se proliferem e criem uma convergência de múltiplos atores contra quaisquer pregações de desrespeito ao ordenamento jurídico brasileiro.
“É até melhor que tenhamos várias entidades, vários organismos se manifestando, expressando a confiança no TSE. É um movimento que precisa contagiar a sociedade e o empresariado. Só assim será possível sensibilizar a classe política, em especial no Congresso, que está capturada pelo governo”, completa essa fonte.
Timing
O diagnóstico de integrantes do centrão que atuam no front bolsonarista é o de que as pressões do empresariado, caso ganhem tração, podem potencializar o que chamam de “Risco Bolsonaro” no mercado às vésperas dos protestos de 7 de setembro, tirando do presidente o discurso ideológico que associa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a esquerda à crise enfrentada por países como Argentina e Venezuela.
No entendimento dos operadores do Planalto, tal ofensiva colocaria em xeque a percepção de melhora nos fundamentos econômicos, notadamente o comportamento da inflação e do emprego, projetando um ruído institucional com impacto no câmbio e na alocação de recursos de investidores estrangeiros.