O mercado de Relações Institucionais e Governamentais (RIG) está crescendo na América Latina, ainda que em ritmo menor em comparação com os últimos anos. É o que mostra a 5ª edição do Anuário Origem Latam 2023, lançado nesta quinta-feira (23/11) em evento em São Paulo.
Segundo o anuário, a expansão dos recursos e das equipes no mundo corporativo arrefeceu, embora os indicadores sigam sendo de crescimento. Para 27,1% dos líderes de RIG nas empresas, o orçamento em 2023 cresceu 3,6 pontos percentuais a menos que no ano passado. Já os que apontaram que o orçamento ficou estável saltaram 4,1 pontos percentuais e atingiram 58,9% dos participantes.
Na contratação de profissionais para as equipes de RIG, o efeito foi o mesmo: houve crescimento, mas menos intenso que no ano anterior. Em 2023, 43,7% dos respondentes da pesquisa disseram ter ampliado a equipe, mas só 18,5% disseram ter contratado profissionais de nível gerencial ou superior, uma queda frente aos 24,7% que disseram tê-lo feito na pesquisa do ano passado.
O anuário atribui essa desaceleração a um quadro econômico global de incertezas, que teria levado as empresas a apertar custos e segurar investimentos. “Ao contrário do que aconteceu de 2021 para 2022, o crescimento da disponibilidade de recursos para a área neste ano foi reduzido”, afirma a publicação.
O movimento de redução foi sentido até nas empresas com receitas superiores a R$ 1 bilhão por ano. Cerca de 33% dos respondentes disseram que não contam com orçamento acima de R$ 1 milhão ao ano para gerir a área, ante os 27,3% de profissionais de empresas que responderam o mesmo no ano passado.
Relação público-privado
Idealizado pela Consult-Master, LEC e VITTORE, o anuário contou com a participação de 480 líderes da área com atuação em empresas, associações de classe e entidades do terceiro setor, além de consultorias e escritórios de advocacia.
“O anuário vem ajudando ano a ano a tornar este setor mais conhecido junto aos diversos públicos, promovendo legitimidade e transparência na relação público-privada”, diz Rodrigo Navarro, um dos idealizadores da publicação.
Os principais setores participantes foram saúde (15,5%), alimentos e bebidas (9,7%), tecnologia (8,9%), agronegócio (7,8%) e energia (7,4%). A maioria das empresas participantes do anuário (72,6%) possuem faturamento de R$ 1 bilhão ou mais. Em relação ao número de funcionários, 46% possuem 5000 ou mais empregados.
O secretário de relações institucionais do governo federal, Paulo Pereira, participou do evento de lançamento e ressaltou a importância dos profissionais da área. Segundo Pereira, um governo que fica encastelado não tem chance de ser bem-sucedido.
“Sem interação entre público e privado, estaríamos mais longe de boas propostas de educação, meio ambiente e ciência e tecnologia”, disse o secretário, acrescentando que “se o mundo de relações institucionais se fortalecer, o Brasil vai se beneficiar muito”.
Perfil profissional
Na lista da 5ª edição do anuário, foram listados 500 profissionais brasileiros e outros 100 que atuam com relações institucionais e governamentais nos demais países da América Latina. Na liderança, cresceu a participação feminina. No Brasil, de 2019 a 2023, o número de mulheres líderes da área em empresas subiu de 31,5% para 42,9%.
Quanto à área de formação, direito segue sendo o curso com maior número de representantes na área de RIG. Em 2023, 40% dos profissionais eram advogados, contra 42,2% em 2022. Neste ano, houve um aumento na participação de profissionais formados em administração (20,2%), relações internacionais (15,7%), jornalismo e relações públicas (13,2%) e ciências políticas (11%).
Tendências para os próximos 5 anos
A 5ª edição do Anuário Origem Latam 2023 trouxe uma lista de cinco tendências para os profissionais da área para os próximos cinco anos. Confira um resumo abaixo:
1 – Incorporação de tecnologias no dia a dia do profissional
Com um alto volume de informações, ficou praticamente impossível fazer um mapeamento das informações circulantes sem o uso de tecnologia. Apenas no Congresso Nacional, são cerca de 400 mil projetos tramitando atualmente. Segundo o anuário, a inteligência artificial pode ajudar a mapear os interlocutores que serão mais ou menos favoráveis aos interesses dos profissionais.
2 – Robustecimento da área
Segundo o anuário, as áreas de RIG serão cada vez mais importantes, numerosas e inclusivas. “A robustez da área se dará não só pela ampliação da equipe mas
também pela subida na hierarquia da área no organograma das empresas, inclusive com mais pontos de contatos no exterior para o alinhamento
de campanhas globais de ambiente regulatório.”
3 – Capacitação
A publicação destaca que no futuro próximo será essencial ter conhecimento específico da área de RIG, especialmente agora com os muitos instrumentos de capacitação existentes. Conhecimentos de negociação, estratégia e comunicação, além de habilidades como empatia, conexão e autoliderança são apontadas como essenciais para o profissional da área.
4 – Clusterização de interesses
O anuário aponta também que estratégias setoriais e cross-setoriais serão mais frequentes. Para os profissionais, será importante saber fazer a defesa
de interesses com base em uma estratégia mais ampla, alinhada a outros atores, sejam empresas do mesmo setor ou até de outros, o que demanda uma capacidade diferente de articulação e composição.
5 – Ligar os pontos
Por último, a publicação aponta que o profissional de RIG precisa continuar antenado com tudo o que está acontecendo no país e no mundo e saber conectar pontos que possam ser de interesse da sua organização. “Enxergar oportunidades e riscos será fundamental para manter a estratégia de RIG em linha com os acontecimentos que podem moldar o ambiente de negócios”, afirma.
O anuário completo pode ser acessado gratuitamente no site da Origem.