5) Em termos gerais, qual o principal problema do país hoje?
João Amoêdo
Estamos passando por uma grave crise de confiança. O brasileiro não acredita mais nas instituições públicas porque percebe que o Estado, em vez de criar oportunidades econômicas, se transformou em um protetor de privilégios. Para recuperarmos a confiança em nossa República, será necessário um equilíbrio das contas públicas e uma reforma política aliada à reforma do Estado. Precisamos fazer um ajuste fiscal sustentável e justo, cortar privilégios e burocracia. Só assim seremos capazes de restaurar o crescimento produtivo de nossa economia e a confiança em nossas instituições democráticas.
Henrique Meirelles
Principal problema do Brasil hoje é o desequilíbrio fiscal. Temos um déficit primário de 1,5% do PIB e uma dívida que caminha para 75% do PIB. Gastamos 13% do PIB e 57% do orçamento federal com previdência e temos apenas 9% da população com 65 anos ou mais. Países que têm esta porcentagem de idosos gastam, em média, 4,5% do PIB com previdência e assistência social. Finalmente, a população está envelhecendo rapidamente. Esta situação é insustentável. O governo atual aprovou o teto para o crescimento do gasto, o que foi um primeiro passo na direção de retornar a uma trajetória de equilíbrio fiscal. Mas a reforma da previdência social é fundamental para sustentar o teto. Além da previdência, o país tem uma renúncia fiscal de R$ 300 bilhões, mais de 4% do PIB. Será fundamental rediscutir esta renúncia fiscal e, ao mesmo tempo, redefinir o processo orçamentário de tal forma a tornar a discussão do orçamento mais flexível e compatível com as necessidades atuais do país.
Alvaro Dias
Evidentemente são muitos os problemas do Brasil. Os desafios do próximo presidentes são enormes. Assim, há as questões mais prementes, que devem ser atacadas com urgência, como é o caso da questão fiscal. É o que chamo em meu programa de “Estrutura Fiscal Eficiente”, que visa a resolver o quiproquó fiscal. Mas há outras questões, de médio e longo prazo, que também devem ser enfrentadas, de modo que o Brasil entre e permaneça em novo patamar de desenvolvimento econômico, social e humano. A produtividade brasileira, como venho sempre observando, é baixa e permanece em patamares baixos há trinta anos. Exemplifico, por fim, com elementos extraídos de meu programa de governo: emprego para todos, educação do futuro, verde-água e saneamento 100%, menos impostos já, capital para a previdência social, indústria 4.I e infraestrutura para o século XXI. Enfim, são grandes os desafios e muitas as frentes a serem atacadas.
Guilherme Boulos
Nossa prioridade é combater a extrema desigualdade social do Brasil. Estamos falando, por exemplo, de acesso à moradia, saúde, educação, emprego e aposentadoria digna. Mas, para isso, é preciso enfrentar privilégios. E onde a desigualdade se expressa de forma mais cruel é no sistema tributário brasileiro. Ele tem uma lógica Robin Hood ao contrário: tira dos mais pobres e dá para os mais ricos. Quem sustenta o Estado é pobre e classe média, que é quem paga imposto de verdade. Existe uma hipertributação do consumo e uma subtributação da renda, patrimônio e operações financeiras. As distorções se refletem no número reduzido de faixas do Imposto de Renda e na isenção de tributos sobre lucros e dividendos. Segundo especialistas, a cobrança só desse imposto poderia gerar em torno de R$ 60 bilhões por ano ao país. Há também uma enorme quantidade de recursos que deixou de ser arrecadada pelo Estado como instrumento de incentivo econômico, as chamadas renúncias fiscais. Se incluem também a tímida taxação de fortunas e os altos índices de sonegação tributária, que atingiram R$ 500 bilhões ano passado. Ou seja, mais privilégios para quem mais ganha. Enquanto não mexermos nisso e fizermos uma grande reforma, o Brasil vai seguir com os problemas de desigualdade. Esse debate precisa ser travado sem medo. Apoiamos uma reforma tributária progressiva, com elevação da tributação sobre renda, patrimônio, grandes fortunas, lucros e dividendos. Pretendemos, além de atualizar a tabela de valores do imposto de renda de pessoa física, o que permitiria que um número grande de famílias entrasse na faixa de isenção, criar mais uma faixa superior. Seria uma alíquota em torno de 35% para rendimentos acima de 325 mil reais ao ano. Com essa reforma, a União passaria a arrecadar cerca de 130 bilhões anuais que seriam reinvestidos em programa de geração de emprego e políticas sociais.