Quando comparamos os índices de avaliação popular atribuídos ao presidente Jair Bolsonaro, logo chegamos apressadamente à conclusão de que, apesar dos últimos esforços de sua equipe, Bolsonaro deve deixar o Planalto sendo o presidente mais impopular da história do país. Pelo menos é o que as sondagens indicam quando comparamos os presidentes do período para o qual existem dados disponíveis.
Olhando apenas para os índices de aprovação, Bolsonaro tem hoje um índice de ótimo/bom de apenas 24%. Já o índice de rejeição é mais do que o dobro (53%), sendo que outros 21% dos eleitores classificam o mandatário como regular. Esses números são do Agregador de Popularidade do JOTA.
Nenhum presidente eleito na era das pesquisas, além de Fernando Collor, teve uma taxa de aprovação líquida negativa tão baixa quanto Bolsonaro desde que assumiu a Presidência. As figuras abaixo remontam os índices de aprovação dos presidentes até o presente momento, usando o consenso de todas as pesquisas disponíveis estimado pelo agregador:
Os índices de popularidade de Bolsonaro são visivelmente mais baixos do que a média dos presidentes anteriores no primeiro mandato. Entretanto, acredito que o fator que mais importa não é como sua taxa de aprovação se compara historicamente, mas como ele – Bolsonaro – se compara com as expectativas dos eleitores. Esta é uma distinção importante porque pode haver aí uma variável extra que deveríamos considerar antes de tudo.
Temos ouvido muita gente (boa) falando sobre polarização política no Brasil, mas a maioria dos comentaristas e analistas na mídia realmente não conseguiu avaliar qual é o impacto da polarização para além dos grupos de família no WhatsApp.
A polarização significa que os presidentes têm tetos mais baixos para sua aprovação – porque eles têm mais opositores que são difíceis de serem influenciados por novos eventos e ações do governo. Por outro lado, a polarização também significa que os presidentes têm pisos mais altos para sua aprovação, não importa o que aconteça nos governos.
Por exemplo, antes mesmo de ver qualquer resultado de sondagem, era previsível que os índices de aprovação de Bolsonaro seriam menores do que, por exemplo, Dilma I, Lula I ou FHC I, apenas em virtude de ter uma base maior de opositores convictos.
Outra maneira de dizer isso é que, como cada vez há menos eleitores indecisos, é bem mais difícil agora que um presidente consiga conquistar 60 ou 65% dos brasileiros do que era 20 anos atrás. Consequentemente, também é menos desastroso agora se um presidente alcançar taxa de aprovação de apenas 30% ou 40%. Isso porque a parcela que os aprova tem muito mais probabilidade de votar nele na próxima eleição do que seria observado no passado.
Considere a matemática que relaciona a aprovação de um presidente e a probabilidade de votar nele. Em épocas menos polarizadas, os presidentes podem ter contado com o apoio de 70% dos eleitores que aprovavam o seu governo, 50% dos que acham o seu governo regular e apenas 20% dos que rejeitam o seu governo. Isso significa que um presidente com 45% de aprovação, 25% de desaprovação e 30% dos eleitores achando o governo regular ganharia aproximadamente 51,5% dos votos (0,7 * 0,45 + 0,5 * 0,30 + 0,2 * 0,25 = 51,5%).
Mas em tempos de intensa polarização, eles podem ganhar 90% de seus apoiadores e apenas 10% de seus opositores, mantendo a mesma probabilidade de voto entre os que avaliam o governo como regular. Isso equivale a 58% dos votos (0,9 * 0,45 + 0,5 * 0,30 + 0,1 * 0,25 = 58%).
Mesmo que a probabilidade de voto entre os que consideram o governo regular fosse um pouco mais desfavorável – por exemplo, 40% – e entre os opositores a probabilidade fosse de apenas 5% de optar pelo mandatário que desaprova, ainda assim um presidente poderia obter 53,75% dos votos (0,9 * 0,45 + 0,4 * 0,30 + 0,1 * 0,25 = 53,75%).
Ou seja, a polarização, em resumo, significa que Bolsonaro pode ser um candidato à reeleição muito competitivo, mesmo com índices de aprovação mais baixos do que poderíamos imaginar com base apenas na relação histórica entre aprovação e votação.
Essas são apenas demonstrações hipotéticas, mas acho que são bastante razoáveis para demonstrar um bom argumento para confiar menos em comparações históricas de popularidade presidencial – e prestar mais atenção a modelos quantitativos que podem ajustar as taxas de intenção de voto ao grau de polarização no eleitorado atual.
No que diz respeito a Bolsonaro, o resultado é que ele não precisa de um índice de aprovação de 45% a 55% para ser reeleito. Obviamente, ele preferiria ter uma taxa de aprovação mais alta – e pode acreditar que ele está fazendo o possível para chegar lá –, mas, dependendo de seu apoio entre os indecisos e da falta de aprovação entre os eleitores que rejeitam hoje, um índice de aprovação em torno de 35% e desaprovação em torno de 45% poderia funcionar muito bem, o que poderia render 46% dos votos (0,9 * 0,35 + 0,5 * 0,20 + 0,1 * 0,45 = 46%).