A nova configuração do Congresso consolidou o semipresidencialismo no Brasil. Com Lula ou Bolsonaro na Presidência da República, é o centrão que dará as diretrizes da agenda do país pelos próximos quatro anos. O empoderamento do bloco surpreendeu até mesmo seus representantes. Antes da abertura das urnas, as projeções do PL de Valdemar Costa Neto estimavam, nas contas mais otimistas, uma bancada de 78 deputados, 21 a menos do que o resultado oficial. No Senado, a bancada saiu de 7 para 13 nomes, quebrando a hegemonia do MDB em obter, desde a redemocratização, o maior número de cadeiras.
O orçamento secreto, via emendas do relator do orçamento federal, é apenas uma das explicações para o tsunami ocorrido no Legislativo. O inchaço está atrelado ao fato de que o bolsonarismo se consolidou, nos últimos anos, como a principal força política do país. E agora, está acomodado entre os profissionais da política. É uma subversão da primeira eleição de Jair Bolsonaro, em que a chegada ao poder era atribuída pela classe política à disrupção lavajatista que desaguou em rejeição à política.
A constatação só ficou evidente na cabeça de expoentes do bloco depois da divulgação do resultado do primeiro turno. Na véspera, avolumavam-se reclamações de operadores políticos sobre o que entendiam como erro estratégico do candidato à reeleição no Planalto em decidir pela pulverização de palanques nos estados, insistindo em nomes com perfil “bolsonarista raiz”, o que poderia atrapalhar a viabilidade de candidaturas mais neutras, gestadas inclusive dentro de um centrão até então resistente a colar a imagem no presidente. “Bolsonaro está tentando reeditar 2018, mas essa é a eleição da política”, calculavam.
Tudo isso ruiu. A eleição de nomes como Damares Alves (DF), Marcos Pontes (SP), Hamilton Mourão (RS), Cleitinho (MG) – todos agasalhados em siglas do centrão – são um recado do eleitor de que a política deve ser ideológica. Como consequência, o país deve se preparar para o avanço de uma agenda conservadora no comportamento e, sobretudo, de enfrentamento ao Judiciário. Na economia, a tendência é pela preservação de um norte liberal à moda centrão, com avanço de agendas pontuais sem perder o apetite pela elevação de gastos públicos e controle do orçamento.
Antes disso, o próprio bloco fisiológico buscará se reacomodar. A avaliação é de que a concentração bolsonarista no PL deixou a sigla poderosa demais para a ocupação de espaços na próxima eleição para as Mesas da Câmara e do Senado. O resultado deve intensificar as tratativas para que PP e União Brasil busquem formalizar uma aliança depois do segundo turno, ainda que a fusão seja transformada em bloco partidário. Se isso se confirmar, será consolidada uma bancada na Câmara de 106 parlamentares, além de 19 senadores.
São sinais que levam a crer que, nas próximas quatro semanas, o Brasil terá de decidir qual presidente da República vai dividir o poder com o centrão.