As delações dos ex-executivos da Odebrecht no Peru para o Ministério Público Federal brasileiro relatam doações ilegais para campanhas de políticos de todo o espectro político e propinas em troca de benefícios em licitações e superfaturamento de projetos. A Odebrecht participou de cerca de quarenta projetos em três diferentes governos no Peru (Ollanta Humala, Alejandro Toledo e Alan García), que envolveram cerca de US$ 12 bilhões em gastos públicos. A empresa, que colabora com a Justiça peruana e fechou um acordo com o país em fevereiro de 2019, confessou ter desembolsado US$ 29 milhões em propina entre 2005 e 2014.
De acordo com o delator Jorge Henrique Simões Barata, ex-diretor da Odebrecht no Peru, a ordem para doar para Humala chegou por meio de Marcelo Odebrecht, que atendia a um pedido do PT. “Em um determinado momento, eu recebi uma ligação do doutor Marcelo Odebrecht dizendo que iríamos apoiar a campanha do senhor Ollanta Humala. (…) Pedindo que a gente contribuísse com US$ 3 milhões na campanha. (…) Veio do Partido dos Trabalhadores. Tudo isso, a gente foi sabendo depois. Ele (Marcelo Odebrecht) falou [relata diálogo]: ‘É pra fazer’. Rapaz, mas não pode. Por que que nós vamos aportar a um candidato que não é um candidato adequado pro país? Não é um candidato adequado pra empresa. Qual a lógica disso? Ele falou: ‘Barata. Faça, escute e execute.'”
Toledo é acusado de ter recebido US$ 20 milhões de propina em troca de favorecer a empresa na licitação de dois trechos da rodovia Interoceânica, que cortaria o país, ligando o Brasil ao Pacífico, além da linha um do metrô de Lima, e de trechos de rodovias em Callao, Cusco e Carhuaz. Também foram alvos da delação de Jorge Barata o ex-vice-ministro das Comunicações Jorge Cuba Hidalgo e o ex-presidente Alan García, que também teria recebido dinheiro ilegal para sua campanha.
Último a ser atingido pela delação, Pedro Pablo Kuczynski, o PPK, renunciou ao cargo de presidente do Peru, ao se ver acuado pela acusação de ter recebido dinheiro da Odebrecht e por vídeos que mostravam intermediários seus negociando favores em troca do apoio contra um processo de impeachment em 2017. Em dezembro de 2017, documentos remetidos ao Congresso peruano pela Odebrecht mostraram que a empresa repassou US$ 782 mil para uma firma de consultoria de PPK. Com sua renúncia, assumiu o vice, Martín Vizcarra.
Além de Barata e Odebrecht, o ex-diretor da empreiteira na América Latina, Luiz Antonio Mameri, também relatou em sua delação como funcionava o esquema de propinas da empresa no Peru. O executivo admitiu que autorizava os pagamentos ilegais e determinava como eles iriam ocorrer.
OBRAS COM POSSÍVEIS IRREGULARIDADES
+ Linha 1 do metrô de Lima
+ Trechos da Rodovia Interoceânica
+ Ampliação da Rodovia Costa Verde