Em mais um episódio da guerra psicológica por trás dos questionamentos às urnas eletrônicas, Jair Bolsonaro (PL) volta a colocar dúvidas sobre o sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com uma rejeição que dificulta seus planos eleitorais, ele usa, mais uma vez, os militares para aumentar a insegurança institucional.
Até um documento com perguntas e respostas sobre a votação eletrônica, atribuído às Forças Armadas, começou a circular, obrigando o tribunal e seus ministros a uma reação.
Fica cada vez mais evidente que a eleição deste ano certamente terá um terceiro turno – muito conturbado, com sérios problemas na transição – qualquer que seja o resultado.
Também foi relevante nesta semana a viagem de Bolsonaro ao Leste Europeu. Muito menos expressivo pelo significado diplomático, já que o Brasil não é tão relevante para essa tensão entre Rússia e Ucrânia, e mais pelo aspecto político da agenda do presidente.
Existe hoje uma disputa nos bastidores pelo comando da estratégia de Bolsonaro na campanha e essa missão, com escala na Hungria e repleta de declarações que enaltecem alguns valores ultraconservadores e da extrema-direita, mostram que o grupo ideológico do governo tenta recuperar espaço frente ao grupo mais pragmático, liderado pelo centrão.
É fundamental ficar de olho nessa briga interna, que envolve dois personagens fundamentais para entender as chances de Bolsonaro na eleição: o filho Carlos, que viajou com o pai e tomou a frente da comunicação do governo nesse período, e Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido ao qual Bolsonaro está filiado. Esse é um ponto de atenção.
Ainda vale destacar o ressurgimento de uma candidatura na terceira via. O governador Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, praticamente definiu sua saída do PSDB para ingressar no PSD e concorrer ao Planalto.
Derrotado por João Doria nas prévias tucanas, Leite tende a absorver uma campanha praticamente pronta, com respaldo em parcela do empresariado e time de economistas montado, o que ajuda na sua consolidação. O desafio é transformar essa consistência em votos, o que está longe de acontecer.
Na prática, a eventual candidatura de Leite impacta nos planos do PT pra tentar liquidar a eleição no primeiro turno. Isso porque o partido que Gilberto Kassab é presidente nacional vai ganhar tempo e valorizar mais seu passe para uma eventual composição com Lula – que seria decisiva nesse xadrez de 2022.
As análises completas de Fabio Zambelli, analista-chefe do JOTA, sobre a semana para o governo estão disponíveis também no perfil do JOTA no Instagram (@jotaflash) às sexta-feiras.