Alexandre Leoratti
Foi repórter do JOTA em Brasília. Fez parte da equipe de Tributário, com foco na cobertura do Carf, PGFN e Receita Federal. Antes de atuar em Brasília, também foi repórter do JOTA em São Paulo
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes afirmou que o sistema político-eleitoral está “extremamente viciado” e voltou a defender o financiamento privado de campanha. As declarações foram feitas durante um evento sobre as reformas da educação, trabalhista e eleitoral, nesta segunda-feira (06/03).
Mendes lembrou que mais de 500 mil candidatos participaram do último pleito nas eleições municipais e questionou: "como financiar tudo isso com financiamento público?”.
O ministro também criticou a decisão do STF de proibir a doação de empresas no processo eleitoral. "Foi uma decisão insincera. Nenhum senador, deputado,vereador, presidente teria chegado à eleição sem doações de pessoas jurídicas”, afirmou.
"Primeiro temos que saber qual é o sistema eleitoral para depois fazer os ajustes”, disse o ministro, acrescentando que a decisão do STF de proibir doações privadas foi “simbólica”.”Todos aplaudem quando falam em banir as empresas do sistema, o problema é saber agora como fazer o financiamento de maneira normal”, criticou.
Mendes também criticou a infindável discussão a respeito de uma reforma eleitoral sem qualquer desfecho prático. "Há algum tempo falamos em fazer reforma eleitoral e acabamos fazendo isso de maneira mais ou menos cosmética”, disse.
Segundo Mendes, que também preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apesar de alguns aprimoramentos no sistema, citando a introdução do segundo turno nos municípios com mais de 200 mil eleitores , o sistema político eleitoral possui o mesmo modo de votação proporcional para vereadores, deputados estaduais e deputados federais." Remonta a 1932, não fizemos nenhuma alteração, pelo contrário, pioramos”, afirmou.
Para o ministro a permissão das coligações nas eleições proporcionais foi um dos motivos do agravamento do sistema eleitoral. Além disso, Mendes também culpou decisões do STF, como a inconstitucionalidade da cláusula de barreira. " Aqueles partidos que já se preparavam para fundir, voltaram à existência solo”, disse o ministro, acrescentando que a decisão foi uma "trapalhada do Judiciário”.
A cláusula de barreira foi derrubada pelo STF em 2006. A regra restringia a atuação de partidos políticos que não tivessem votação suficiente para obter representação no Poder Legislativo.
Eleições 2018
Mendes também falou sobre as eleições de 2018. O ministro alertou sobre as faltas de regras para o próximo período eleitoral e chamou atenção para o exíguo tempo para a realização de reformas no processo eleitoral.
Mendes considerou um avanço a aprovação pelo Senado de uma emenda constitucional que restringe a formação de coligações. A emenda ainda precisa passar pela aprovação da Câmara. Segundo Mendes, a aprovação “tem que ser feita até setembro ou outubro devido ao prazo de um ano para entrar em vigor”.
Mendes finalizou a palestra opinando sobre possíveis soluções para o sistema eleitoral brasileiro e defendeu que novas experiências sejam colocadas em práticas no Brasil, como por exemplo, o voto distrital. "Se avançarmos com a questão da proibição das coligações e da cláusula de barreira acho que seria um grande ganho”, disse.