Márcio Falcão
Ex-editor do JOTA
Preso na Lava Jato, o ex-deputado Eduardo Cunha partiu para o contra-ataque e decidiu desqualificar a delação premiada do doleiro Lúcio Funaro, apontado como operador do PMDB da Câmara. Funaro fez implicações especialmente ao presidente Michel Temer e seu grupo político que foram usadas na segunda denúncia oferecida pela Procuradoria Geral da República por obstrução à Justiça e organização criminosa.
O ex-deputado afirmou que a colaboração do doleiro representa o "ponto máximo da desmoralização do instituto da delação premiada, onde basta concordar com qualquer coisa que a acusação encomendar para obter infinitos benefícios" e saiu em defesa de Temer.
"Desminto e desafio a provar as supostas referências sobre terceiros a mim atribuídas, incluindo ao presidente Michel Temer, onde tudo que ele atribui declara que ouviu dizer de mim, o que é uma absoluta mentira", escreveu.
Funaro afirmou que o presidente tinha conhecimento dos desvios praticados pelo grupo político e cobrava inclusive repasses. Segundo o doleiro, Eduardo Cunha redistribuía propina a Temer, com "110% de certeza".
Cunha e Funaro disputaram com os investigadores quem iria fechar primeiro o acordo de colaboração premiada. Os procuradores avaliavam que os dados se repetiam nas duas propostas e que Cunha falava menos do que sabia e era seletivo na proposta de delação. Os procuradores da gestão Janot também dizem ter avaliado que a delação de Funaro teria mais provas concretas.
Leia a íntegra da carta:
Com relação a Delação do Sr. Lúcio Funaro tenho a esclarecer:
1. Repudio com veemência o conteúdo e se trata de mais uma delação sem provas que visa a corroborar outras delações também sem provas, onde o delator relata fatos que inclusive não participou, não tinha qualquer possibilidade de acesso a informações, salvo por interesse da acusação em dar credibilidade a outros delatores.
2. As atividades criminosas confessadas pelo Sr. Lucio Funaro foram feitas por sua conta e risco, não cabendo agora para buscar benefícios atribuir a outros sem provas a participação e cumplicidade com os seus ilícitos.
3. Desminto e desafio a provar as supostas referências sobre terceiros a mim atribuídas, incluindo ao presidente Michel Temer, onde tudo que ele atribui declara que ouviu dizer de mim, o que é uma absoluta mentira.
4. Chegamos ao ponto máximo da desmoralização do instituto da delação premiada, onde basta concordar com qualquer coisa que a acusação encomendar para obter infinitos benefícios, a exemplo do que ocorreu com Joesley Batista, que somente após vazamento dos áudios que teve a delação contestada.
5. É preciso apurar as delações conduzidas pelo Sr. Marcelo Miller, bem como as delações conduzidas pelo advogado do Sr. Funaro, que consegue advogar para um delator e na sequência conduzir as delações dos delatados pelos seus clientes.