Ao lado de Jair Bolsonaro e dos líderes aliados na Câmara e no Senado, o ministro Paulo Guedes (Economia) procurou atenuar o desgaste político que vem sofrendo há algumas semanas associando o anúncio da prorrogação do auxílio emergencial com o que chamou de "retomada da agenda de reformas do governo federal".
Guedes foi derrotado na extensão do 'coronavoucher', que desejava evitá-la para acelerar a criação do programa Renda Brasil.
As soluções apresentadas por sua equipe, que previam extinção de projetos consagrados politicamente como o Farmácia Popular, o Abono Salarial e o Seguro-Defeso, foram bombardeadas de forma uníssona no Planalto.
Ante o impasse com os representantes do Congresso e das alas militar e "desenvolvimentista" da administração federal, o ministro vinha procurando uma agenda positiva para demonstrar a resiliência de seu programa liberal na área econômica.
Com Bolsonaro virando 'porta-voz' da reforma administrativa e divulgando a entrega do projeto ao Legislativo para quinta-feira, o "Posto Ipiranga" demonstra como será a sua trajetória na Esplanada: assimilar que nem todas as batalhas serão ganhas, desde que se mantenha no horizonte a perspectiva de implementação do receituário reformista.
A reforma administrativa, mesmo valendo para os novos servidores, terá entraves para avançar com a velocidade esperada entre os congressistas, que dificilmente aprovarão no curto prazo qualquer medida que contraria suas bases às vésperas da eleição municipal. Trata-se, portanto, de uma proposta que não terá efeito prático imediato.
O simbolismo do anúncio, feito agora há pouco na frente do Palácio da Alvorada, tem efeito mais expressivo na demonstração de alguma articulação entre os representantes do Parlamento e do governo no endereçamento das pautas de curto e médio prazos.
A mensagem política é objetiva: os compromissos com a responsabilidade fiscal e o enxugamento do Estado estarão preservados conceitualmente, mas atrelados a medidas de alcance social, com ampla aprovação popular e que mantenham ativa e satisfeita a nova base de apoio bolsonarista.
O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), sintetizou o recado: “a partir de agora, as medidas vão ser debatidas com os líderes do Congresso antes de serem anunciadas”.