O senador Humberto Costa (PT-PE), titular da CPI da Covid, defendeu a convocação dos ex-ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Fernando Azevedo e Silva (Defesa), além do ex-Secretário Especial de Comunicação Social Fabio Wajngarten e de Paulo Guedes, ministro da Economia.
Na avaliação do petista, todos devem explicações sobre a aquisição de insumos e vacinas, o uso de laboratórios das Forças Armadas para a produção de cloroquina, o desestímulo do governo ao isolamento social e o fato de o governo não ter usado todo o dinheiro do Orçamento de Guerra destinado à pandemia.
“Nossa principal tese é de que o governo Bolsonaro adotou uma estratégia de considerar que o melhor caminho para superar a pandemia seria o desenvolvimento da chamada imunidade natural, ou imunidade de rebanho”, disse o senador. “Quanto mais gente fosse contaminada, isso iria promover uma produção de imunidade, e com isso haveria o controle da pandemia, sem precisar gastar dinheiro com hospital, sem precisar fechar a economia, sem precisar comprar vacina”.
Costa elogiou a escolha de Renan Calheiros (MDB-AL) para a relatoria da CPI. “O senador Renan é uma pessoa altamente capacitada para desempenhar esse papel. Ele é experiente, conhece bem o regimento, é bem articulado, é bem-preparado. Acho que ele tem tudo para fazer um bom trabalho”, falou.
Veja a entrevista na íntegra com o senador Humberto Costa:
Quais nomes o senhor avalia como primordiais a serem ouvidos além dos ex-ministros da Saúde?
Do governo eu acho importante ouvir o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Ele foi um dos principais responsáveis pelas nossas dificuldades na aquisição de insumos e vacinas, porque construiu uma guerra política e ideológica, especialmente contra a China, o maior produtor de insumos de saúde no mundo. Isso nos criou problema.
Temos que ouvir o Fábio Wajngarten, que foi responsável pela Secretaria da Comunicação. Não só porque disseminou uma série de notícias falsas como, formalmente, desestimulou as ações de isolamento social e prevenção. E também pagou aos blogueiros para fazer publicidade do uso desses tratamentos precoces.
Temos que convocar o ex-ministro da Defesa [Fernando Azevedo e Silva], porque ele é responsável pelos laboratórios das Forças Armadas que foram usados para a produção da cloroquina.
Também temos que chamar o ministro Paulo Guedes, afinal de contas o governo não gastou todo o recurso que foi disponibilizado pelo Congresso Nacional no Orçamento de Guerra para o enfrentamento à covid. Além do mais, queremos saber até que ponto ele influenciou essa decisão do governo de fazer a imunidade de rebanho para fazer a economia [voltar a girar].
Como fazer para a ampliação do escopo da CPI, com investigação de estados e municípios, não se tornar ferramenta de dispersão de foco da base governista para blindar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido)?
Esse adendo à CPI era totalmente necessário. Porque, na CPI, quando você estabelece uma conexão entre o fato principal da investigação com outros fatos correlatos, você tem que investigar. Então, fatalmente, a gente iria bater na investigação de estados e municípios. Não só por causa da questão econômico-financeira, mas especialmente porque tem corresponsabilidade de estados e municípios.
Entendo que nós vamos chegar a bons termos no sentido de que a CPI vai se debruçar sobre tudo o que lhe disser respeito. Sem perseguir ninguém, mas também sem blindar ninguém.
É obvio que o governo pretende desviar o foco da CPI, não quer que ela se atenha à investigação sobre o governo, vai querer diluir as responsabilidades. Por essa razão vai querer, com certeza, sujar o processo. Mas vamos fazer de tudo para que isso não aconteça.
Qual o principal ponto que o senhor quer esclarecer na CPI e que vai nortear os questionamentos que serão realizados na comissão?
Nossa principal tese é de que o governo Bolsonaro adotou uma estratégia de considerar que o melhor caminho para superar a pandemia seria o desenvolvimento da chamada imunidade natural, ou imunidade de rebanho, pela difusão do vírus. Quanto mais gente fosse contaminada, isso iria promover uma produção de imunidade, e com isso haveria o controle da pandemia, sem precisar gastar dinheiro com hospital, sem precisar fechar a economia, sem precisar comprar vacina.
Essa tese, se ela for confirmada, configura um crime doloso. Então a nossa principal preocupação vai ser a de investigar se essa tese realmente tem substância. A mim me parece que tem.
O senhor considera que também é necessário investigar o uso de tratamento preventivo que é defendido pelo presidente com o uso de cloroquina e ivermectina?
Sim, temos que fazer isso. Primeiro porque expôs milhares de pessoas a riscos importantes. Esses medicamentos usados assim têm um efeito iatrogênico, ou seja, eles causam mal. Segundo, porque implicou em gastos públicos com isso. O governo importou esses remédios, o governo mandou os laboratórios oficiais produzirem esse remédio. O governo pagou para que blogueiros fizessem publicidade do uso desses medicamentos. O governo tirou dinheiro do Orçamento para fazer isso.
Então, é óbvio que a gente vai ter que investigar isso de uma maneira pormenorizada. Inclusive, investigar órgãos de regulamentação de profissionais de áreas da saúde que estimularam esse uso, falaram de uma autonomia dos médicos de receitar remédios que não têm qualquer prova científica de que atuem para enfrentar a covid-19.
Como avalia a escolha do senador Omar Aziz para a presidência e, possivelmente, Renan Calheiros para a relatoria?
Eu acho que o critério utilizado que foi utilizado é o que, efetivamente, se usa. Se leva em consideração a proporcionalidade pelos tamanhos das bancadas.
O bloco do MDB tem o maior número de senadores, naturalmente teria a possibilidade de escolher entre a relatoria ou a presidência. A escolha deles foi da relatoria. O nome indicado foi o de Renan Calheiros. O senador Renan é uma pessoa altamente capacitada para desempenhar esse papel. Ele é experiente, conhece bem o regimento, é bem articulado, é bem-preparado. Acho que ele tem tudo para fazer um bom trabalho.
E o presidente foi escolhido por conta da segunda bancada maior ser o PSD. O PSD indicou o nome dele [Omara Aziz] e esperamos que ele cumpra a contento essa função. 