Opinião e Análise

Pedro de Hollanda Dionisio

A reputação de uma instituição regulatória é formada pelas diferentes impressões a respeito de sua capacidade técnica, de sua relevância política, da qualidade de suas intenções e da honestidade de seus membros<a href="#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a>. Trata-se de um ativo intangível composto pela imagem da entidade junto a diferentes audiências, como agentes econômicos regulados, autoridades políticas, acadêmicos, veículos de mídia, servidores públicos e outros segmentos da população.
A reputação do Banco Central foi tradicionalmente forjada pela opinião de especialistas da área. A sua relevância para o bom funcionamento da economia nacional e a eficiência de suas políticas públicas não costumava ser objeto de debate entre a parcela da população que pouco compreende dos meandros técnicos do sistema financeiro. As exceções ao longo da história brasileira, como a repercussão da proposta de lhe conferir autonomia durante as eleições presidenciais de 2014, parecem confirmar a regra.
O Banco Central ostenta uma imagem privilegiada entre os integrantes das instituições financeiras reguladas, jornalistas especializados e outros atores relevantes do mercado. De maneira geral, tais audiências compartilham da compreensão de que o banco tem cumprido seu papel institucional com competência e integridade. A reputação construída pelo BC é um dos fatores responsáveis pela baixa ocorrência de intervenções políticas e de órgãos de controle em suas atividades-fim e pelo respeito que, em geral, os agentes regulados têm por suas normas e orientações.
Dois recentes eventos, no entanto, parecem ter ampliado as audiências envolvidas na construção da imagem do Banco Central. O primeiro foi o lançamento no final de 2020 de uma plataforma de pagamentos instantâneos apelidada de Pix. A política teve adesão maciça dos brasileiros e seu sucesso parece ter causado um impacto positivo na credibilidade da instituição perante uma audiência mais ampla, a ponto de a ferramenta ter sido expressamente mencionada nos debates para a eleição presidencial de 2022.
O segundo fato foram as recentes <a href="https://www.jota.info/opiniao-e-analise/analise/lula-ve-briga-com-bc-como-ativo-politico-contra-heranca-maldita-de-bolsonaro-07022023">manifestações críticas por parte do atual presidente da República</a> e de outros atores políticos relevantes a respeito da responsabilidade do Banco Central pela elevada taxa básica de juros do país, fator que atrapalharia o crescimento nacional. Apesar de o mérito das críticas ser objeto de divergência entre especialistas, não há dúvida de que elas encontraram eco em boa parte da população brasileira.
O Banco Central, como qualquer outra entidade pública, conta com sua reputação institucional para atenuar intervenções políticas e de órgãos de controle em suas atividades e para obter a adesão dos agentes econômicos às suas políticas regulatórias. Ainda é preciso tempo para se saber se os eventos que ampliaram as audiências do BC serão capazes de modificar a reputação construída ao longo dos seus quase 60 anos de existência e quais impactos a possível mudança terá em sua atuação.
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<a href="#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> CARPENTER, Daniel. Reputation and Power: Organizational Image and Pharmaceutical Regulation at the FDA. Princeton: Princeton University Press, 2010, p. 33.

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JOTA

Relevância e eficiência de políticas do Banco Central não costumavam ser objeto de debate entre leigos na população

A reputação do BC e a ampliação de suas audiências: mudanças à vista?

Relevância e eficiência de políticas do Banco Central não costumavam ser objeto de debate entre leigos na população