Opinião e Análise

Flavia Aragão Feitosa Carneiro

Manuela Simões Falcão Alvim de Oliveira

Vivian Falcão

Trabalhando de casa, assim como tantas privilegiadas nesse momento enlouquecido que estamos vivendo, passo parte do dia tentando resgatar meu fone de ouvido das mãos da minha bebê. Interessadíssima naquele objeto tão utilizado pela mãe, que parece ser muito importante, ela vem engatinhando e já prontamente estica a mãozinha: “dá”, pede ela. “Nossa que linda, trabalhando! É a Bebê CEO!”, são as frases que ela escuta, quando com os olhinhos brilhando coloca o tal do fone.
Parece bobagem, mas quero que minha filha cresça em um mundo onde o número de mulheres nas posições de liderança seja igual ao número de homens, assim como já acontece em algumas maravilhosas, justas e diferenciadas empresas.
<a href="https://conteudo.jota.info/poder-contato?utm_source=Banner%20site&amp;utm_medium=Artigos&amp;utm_campaign=CTA_Poder_materias"><img class="size-medium wp-image-292717 aligncenter" src="https://www.jota.info/wp-content/uploads/2021/01/jota-pro-poder.jpg" alt="" width="688" height="688" /></a>
Sabemos que o movimento de empoderamento feminino precisa de voz e de oxigênio, para que seu fogo nunca se apague. A nova geração, espero, já está vindo com o código diferente: desde o primeiro ano de vida, as crianças já sabem que podem ser o que quiserem, inclusive CEO, se assim desejarem.
Mas como tentar equilibrar o mundo que temos e continuar transformando essa realidade que já é melhor que ontem, mas pode ser muito, mas muito melhor amanhã?
A pandemia escancarou as duplas, triplas, jornadas das mulheres. Aumentou suas responsabilidades, somado a todo o medo e insegurança.
É o tal do “Hell Office”. Além do trabalho, das quinhentas e infindáveis reuniões, da nova dinâmica e dos novos sistemas de comunicação, agora estão sem a já antes estabelecidas redes de apoio e precisam acompanhar aulas on line dos filhos, arrumar a casa, preparar a comida e dar banho até em saco de batata palha para higienizar!
Gente, é muita coisa! Claro, não são todos os cenários em que a mulher vive só, que não tem ajuda da família, ou que não conta com apoio emocional. Mas enquanto existir uma única mulher que se sinta sozinha e sobrecarregada, nossa luta vai continuar, e precisamos reverberar esse discurso, para que as pessoas entendam: Não existe mulher perfeita! Não existe a profissional que precisa dar conta de 100% do trabalho, que seja a companheira sempre bem-humorada, a mãe sempre paciente, a dona de casa exemplar!
O que existe? Seres humanos, cansadas, esforçadas, empenhadas em transformar o seu ambiente, dedicando toda a sua energia para construir algo melhor.
A excessiva cobrança, a exigência, e a tão dolorida falta de amor próprio que nos faz aceitar o inaceitável.
Existem mulheres que precisam de ajuda, que precisam de tempo, pois o clichê é verdadeiro: “A vida necessita de pausas”.
O mercado de trabalho é inclemente. A mulher da nova era pandêmica está sendo dispensada por “não ter mais foco no trabalho” – não é falta de foco senhoras e senhores, é excesso de pressão, é falta de tempo, é medo!
São tantas situações...
A grávida que prefere se arriscar em um ônibus lotado e sair mascarada para trabalhar, a correr o risco de perder o sustento da sua família.
As professoras que, de grupo de risco ou não, seguem firmes e fortes na árdua missão de educar a população.
As mães que já não sabem mais se ensinaram a lição de matemática para o chefe ou se apresentaram a versão final do Power Point ao filho!
Falta empatia.
O mundo está de pernas para o ar. Se a vida não está fácil para os superiores, imagina como está para os subordinados!
Então te convidamos, leitor, homem ou mulher (sim, nós também cobramos umas às outras) a relembrar dos antigos hábitos: Ainda se lembram de como é calçar sapatos? Pois calcem nossos sapatos, sintam nossos calos, o aperto da ponta dos dedos e tenham o equilíbrio necessário para dar conta de tudo, no nosso melhor estilo malabarista, sem cair do salto alto.
Não! Não queremos que sejam condescendentes conosco. Queremos apenas que a balança seja equilibrada, reconhecendo que a briga pelos direitos das minorias, nelas incluindo as mulheres, existe porque é necessária para nossa sobrevivência mental!
Queremos condições justas para promoções no emprego, queremos tempo disponível ao trabalho proporcional ao necessário para manter a sanidade, e para manter as vidas que dependem de nós, queremos paz.
Nesse sentido, a Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados criou um grupo de trabalho para analisar projetos de leis em tramitação na Casa que pretendem minimizar os impactos econômicos da pandemia da COVID-19 na vida das mulheres<a href="#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a>.
<blockquote class="jota-article__eye">Além disso, na última terça-feira (30), o Senado aprovou lei que estabelece multa por discriminação caso empresas adotem salários diferentes para trabalhadores homens e mulheres que exerçam atividades idênticas na mesma função. O PLC 130/2011 levou 11 anos para ser pautado e agora segue para sanção presidencial.</blockquote>
A boa notícia é que o PL insere na Consolidação das Leis do Trabalho-CLT, um artigo que prevê multa de até 5 vezes o valor da diferença salarial verificada em todo o período da contratação por discriminação salarial entre os sexos, resultando em mais uma tentativa de acabar de vez com a desigualdade salarial no mercado de trabalho, direito garantido há mais de 30 anos na CF.
Podemos citar também, o <a href="https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/142631" target="_blank" rel="noopener noreferrer">Projeto de Lei (PL) 3.418/2020</a>, apresentado pela Senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP), o qual visa ampliar o prazo da Licença Maternidade por até 180 dias durante a pandemia. No caso dos homens, a licença paternidade pode ser estendida por até 85 dias. A intenção é favorecer o isolamento dos pais para proteger os recém-nascidos<a href="#_ftn2" name="_ftnref2">[2]</a>, mas acabará contribuindo para que as mulheres não se sintam ameaçadas ao deixarem seus postos de trabalho, para gozarem de sua licença maternidade.
No cenário atual, as empresas correm risco de perder mulheres na liderança – e futuras líderes, já que estudos apontam que 1 em cada 3 mães consideram deixar o mercado de trabalho ou reduzir suas carreiras por causa do COVID-19, sendo este, um dos fatores que está dando causa a um retrocesso de 30 anos na participação feminina no mercado de trabalho, dizem os especialistas<a href="#_ftn3" name="_ftnref3">[3]</a>.
Com objetivo de amenizar esses impactos, as empresas podem criar/ajustar estratégias internas para que menos mulheres tenham que escolher entre a maternidade e o emprego, tornando assim o ambiente de trabalho mais inclusivo. Mudanças legislativas são necessárias, mas, antes disso, elas podem começar internamente, com evolução cultural no dia a dia das empresas.
Assim, da próxima vez que tiver que cobrar um trabalho de uma mulher, que ficar tentado a fazer uma ligação fora do horário de expediente, que inconscientemente quiser despejar nela suas frustrações, pois sabe que ela aguentará, pare, repense, RESPEITE.
Se remarmos todos juntos para o mesmo lado, chegaremos a lugares incríveis. Lá a vista é linda e o ar é puro. Pode tirar a máscara, vamos respirar.
<hr />
O episódio 54 do podcast Sem Precedentes discute o julgamento da 2ª Turma do STF, que decidiu que Moro foi parcial em suas decisões no caso do tríplex do Guarujá contra Lula. Ouça:
https://www.youtube.com/watch?v=Xm3qid_RRA4
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<a href="#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a><a href="https://www.camara.leg.br/noticias/687947-grupo-vai-analisar-projetos-para-superar-impacto-economico-da-pandemia-entre-mulheres/">https://www.camara.leg.br/noticias/687947-grupo-vai-analisar-projetos-para-superar-impacto-economico-da-pandemia-entre-mulheres/</a>
<a href="#_ftnref2" name="_ftn2">[2]</a> <a href="https://www12.senado.leg.br/noticias/audios/2020/06/projeto-amplia-licencas-maternidade-e-paternidade-durante-pandemia#:~:text=O%20projeto%20de%20lei%20(PL,para%20proteger%20os%20rec%C3%A9m%2Dnascidos">https://www12.senado.leg.br/noticias/audios/2020/06/projeto-amplia-licencas-maternidade-e-paternidade-durante-pandemia#:~:text=O%20projeto%20de%20lei%20(PL,para%20proteger%20os%20rec%C3%A9m%2Dnascidos</a>.
<a href="#_ftnref3" name="_ftn3">[3]</a> <a href="https://www.mckinsey.com/featured-insights/diversity-and-inclusion/women-in-the-workplace">https://www.mckinsey.com/featured-insights/diversity-and-inclusion/women-in-the-workplace#</a>

mães

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JOTA

Pandemia escancarou as duplas, triplas, jornadas das mulheres

O tal do hell office

Pandemia escancarou as duplas, triplas, jornadas das mulheres. Aumentou suas responsabilidades, somado a todo o medo e insegurança