Opinião e Análise

Gabriela Rollemberg

Maíra Recchia

<p>A conquista de mulheres por espaços de poder não é uma tarefa fácil. Ao contrário, é exaustiva e trabalhosa em todo e qualquer meio que ela aconteça.</p>
<p>O mesmo se dá nos escritórios ou mundo corporativo da advocacia.</p>
<p>Apesar de sermos maioria nos quadros da Advocacia Nacional, apenas 29% dos postos de comando nos escritórios são ocupados por mulheres, sendo muito maior o número de estagiárias e advogadas juniores do que sócias ou advogadas seniores.</p>
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<p>E para além da diferença nos postos de liderança, existe ainda franca diferença também salarial, com mulheres ganhando pelo menos 35% menos que homens, demonstrando que além da questão cultural, o sexismo é latente, mesmo com o número expressivo de mulheres na advocacia.</p>
<p>Os desafios a serem transpostos nessa caminhada de inclusão são imensos e é por isso que costumamos dizer que tem sido exaustivo ser mulher em um “<em>mundo que sempre pertenceu aos machos</em>”, conforme nos ensina Simone de Beauvoir.</p>
<p>As mulheres que se aventuram a ocupar seus espaços de destaque, liderança, gestão e posição ainda sofrem macro e micro machismos quando são peremptoriamente interrompidas em suas falas, quando ainda ouvem explicações intermináveis sobre coisas óbvias e quando são excluídas de reuniões ou programações estratégicas dos escritórios.</p>
<p>Sofremos igualmente quando nas contratações ainda perguntam se a mulher tem ou pretende ter filhos, pergunta essa jamais feita aos homens. E há estudos dizendo que precisamos inclusive nos vestir de maneira mais masculina para galgarmos espaço nas mesas de tomada de decisão.</p>
<p>Outros desafios se reproduzem no próprio exercício da profissão, quando ainda somos barradas na entrada dos fóruns por conta do nosso vestuário, quando sofremos algum tipo de desrespeito na sala de audiência ou assédio nos lugares que frequentamos.</p>
<p>E por fim, um dos fatores que ainda impedem o desenvolvimento ou ascensão de mulheres como sócias nos escritórios de advocacia é a desigualdade nas responsabilidades domésticas, já que trabalhamos 80% a mais que homens no trato familiar, em especial no cuidado com os filhos.</p>
<blockquote class="jota-article__eye"><p>A discrepância salarial, o ambiente ainda predominantemente masculino e a discriminação de gênero formam o chamado teto de vidro que impede a ascensão de mulheres no topo da pirâmide na Advocacia.</p></blockquote>
<p>Ser mulher advogada em uma sociedade de advogados inspira maior responsabilidade. Somos mais cobradas, algumas vezes mais enfrentadas e na trajetória de trilhar um caminho de sucesso dentro da profissão, somos obrigadas a nos impor duplamente para demonstrar o óbvio: competência e talento não vêm dentro de ternos, gravatas e abotoaduras.</p>
<p>É certo que pesquisas recentes evidenciam que uma maior diversidade de gênero na direção das empresas funciona como uma alavanca de performance, aumentando não apenas a lucratividade, mas a criação de valor para o negócio. Essa mesma lógica se aplica às sociedades de advogados, evidenciando a necessidade premente que os escritórios criem políticas de inclusão reais, implantando boas práticas de parentalidade, e, com isso, obtendo vantagem competitiva significativa no mercado. Assim, será possível que a paridade seja realidade no ambiente que deveria ser o primeiro a zelar pela igualdade de oportunidades.</p>
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JOTA

Apesar serem maioria na advocacia brasileira, apenas 29% dos postos de comando nos escritórios são ocupados por mulheres

Competência e talento não vêm dentro de terno e gravata

Apesar serem maioria na advocacia brasileira, apenas 29% dos postos de comando nos escritórios são ocupados por mulheres