Opinião e Análise

Vinicius Rodrigues Vieira

O presidente <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/lula">Luiz Inácio Lula da Silva</a> (PT) corre o risco de repetir seus antecessores à direita e empoderar os militares—que andam em baixa perante a opinião pública—com a operação de Garantia da Lei e Ordem (GLO) estabelecida nos principais portos e aeroportos do país com o objetivo de combater o crime organizado. <a href="https://www.brasildefato.com.br/2023/11/01/governo-federal-anuncia-glo-em-portos-e-aeroportos">Estão previstas ações</a> para os portos de Santos (SP), Rio de Janeiro e Itaguaí (RJ), além do Aeroporto Internacional de Guarulhos e o Galeão. A GLO também se estende a pontos de fronteira mais vulneráveis, como Foz do Iguaçu.
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À diferença de <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/michel-temer">Michel Temer</a> (MDB) e <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/jair-bolsonaro">Jair Bolsonaro</a> (PL), porém, Lula não tem o menor interesse em trazer as Forças Armadas de volta ao jogo político depois do golpe fracassado de 8 de janeiro—promovido, sim, por bolsonaristas, mas que não teria chegado a ameaçar as sedes dos Três Poderes, se não tivesse havido leniência de militares com manifestantes que se aglomeraram em frente a quarteis exigindo que as eleições presidenciais de 2022 fossem anuladas. Inclusive, em seus dois primeiros mandatos (2003-2011), <a href="https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/11/01/entenda-por-que-o-governo-diz-que-o-atual-decreto-de-garantia-de-lei-e-da-ordem-e-diferente-dos-demais.ghtml">o atual presidente chegou a decretar 39 operações do tipo</a>. Já sua sucessora, <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/dilma-rousseff">Dilma Rousseff</a> (PT), instituiu 27 GLOs. Ironicamente, Temer e Bolsonaro fizeram um menor uso do instrumento (17 e 9 respectivamente). A média de Temer, porém, é maior. Em seu curto mandato, houve uma GLO a cada 56 dias, superando todos os presidentes dos últimos 20 anos.
No entanto, cabe levantar a hipótese de que foram as GLOs dos governos petistas de 2003 a 2016 combinada com o envio de tropas para liderar a missão de paz da ONU no Haiti a partir de 2004, os pilares do retorno dos militares à política. Segundo essa visão, já debatida em círculos de poder do centro para a esquerda, o PT teria sem querer chocado o ovo da serpente que culminou com aquele que, na prática, talvez tenha sido o único golpe desferido desde o fim da ditadura militar: o famoso e <a href="https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/11/01/entenda-por-que-o-governo-diz-que-o-atual-decreto-de-garantia-de-lei-e-da-ordem-e-diferente-dos-demais.ghtml">infame tuíte do então comandante do Exército em 3 abril de 2018</a>, general Eduardo Villas Bôas, colocou uma espada no pescoço dos ministros do <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/stf">Supremo Tribunal Federal</a> (STF), que julgaria no dia seguinte a ordem de prisão de Lula, então já condenado em segunda instância no caso do triplex do Guarujá.
"Asseguro à nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais", escreveu Villas Bôas na rede social hoje denominada X. Com a Suprema Corte tendo autorizado a prisão de Lula, o atual presidente—que liderava a corrida eleitoral daquele ano—<a href="https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2018/Setembro/tse-indefere-pedido-de-registro-de-candidatura-de-lula-a-presidencia-da-republica#:~:text=TSE%20indefere%20pedido%20de%20registro%20de%20candidatura%20de%20Lula%20%C3%A0%20Presid%C3%AAncia%20da%20Rep%C3%BAblica,-Ministros%20vedaram%20a&amp;text=O%20Plen%C3%A1rio%20do%20Tribunal%20Superior,Presid%C3%AAncia%20da%20Rep%C3%BAblica%20em%20outubro.">acabou por ter o pedido de sua candidatura indeferido em setembro</a> pelo <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/tse">Tribunal Superior Eleitoral</a> (TSE). Bolsonaro foi eleito em meio a uma onda antissistema e a comoção causada pelo atentado de Juiz de Fora, em que lhe foi desferida uma facada. Os militares, <a href="https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/11211/1/NT_Presenca_de_militares_Publicacao_Preliminar.pdf">que segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) já ocupavam cada vez mais cargos em funções civis desde o governo Rousseff</a>, passaram a oscilar entre o papel de senhores da República até serem cooptados pelo bolsonarismo, como os eventos do ano passado e começo de 2023 sugerem.
A GLO vai até maio de 2024. Sua extensão não será conveniente para ninguém exceto para os partidários da extrema-direita e expoentes do crime organizado. Não duvidem do poder dos últimos em cooptar forças de segurança, nem da capacidade dos primeiros em reativarem seus contatos na máquina pública — civil e militar — caso uma nova oportunidade de golpe surja. Com Donald Trump tendo chances significativas de voltar à presidência dos Estados Unidos, o principal entrave internacional para a autocratização do Brasil tende a cair por terra. 
Menos de um ano depois da terceira posse de Lula, parece que a esquerda já esqueceu que sem as potências ocidentais e, em menor escala, os vizinhos latino-americanos democráticos, o golpismo bolsonarista-militar teria rendido frutos. As vivandeiras de quartais apenas esperam solo fértil e ventos externos favoráveis para que voltem a vicejar às custas da democracia e do Estado de Direito.

lula glo nos aeroportos

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JOTA

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