Opinião e Análise

Warley Brant Pimentel

Durante a campanha eleitoral de 2022, o então candidato <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/lula">Lula</a> dizia que, se voltasse à Presidência, faria melhor que nos governos anteriores. Embora a fala pareça uma promessa de futuro, ela era, na verdade, um convite à memória.
Tratava-se de evocar no brasileiro, principalmente das classes médias e populares, a lembrança de um país no qual o crescimento econômico vinha acompanhado de uma melhoria nos níveis de consumo. Retomando o passado, Lula afirmava que, em seu governo, o combate à fome e o bem-estar ocupariam lugar central.
Passados quase seis meses de <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/governo-lula">Lula 3</a>, os resultados na economia, ainda tímidos, começam a se fazer notar: a estimativa do mercado para a inflação em 2023 vem sendo reduzida – 5,12%, de acordo com os números divulgados pelo Banco Central no último dia 19 −; o dólar também está em queda, situando-se abaixo de R$ 5; as expectativas para o crescimento do PIB se mostram mais otimistas que no princípio do ano: passaram de 1,84% para 2,14%; para completar o pacote, o governo vem conseguindo reduzir o preço dos combustíveis, que alcançaram os índices mais baixos desde 2021.
Para um começo de mandato, e após uma economia devastada pelo governo Bolsonaro, é preciso reconhecer que o quadro é promissor. O cenário político, no entanto, não reflete a melhora dos dados econômicos. Segundo pesquisa divulgada pelo Ipec em 9 de junho, o índice de pessoas que consideram o governo Lula ótimo ou bom é de 37%, porcentagem menor que a avaliada nos primeiros meses dos mandatos anteriores – 43% em junho de 2003; 50% em junho de 2007.
Além disso, as sucessivas derrotas em disputas com o Congresso, como no PL das Fake News e a perda do poder do Ministério dos Povos Indígenas para demarcar terras, complicaram ainda mais a situação de Lula.
É fato que o Congresso ganhou força na última década. Isso vem ocorrendo pelo menos desde o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e ficou ainda mais evidente nos governos Temer e Bolsonaro – este último entregou o orçamento às mãos de Arthur Lira para continuar no cargo.
No entanto, se o protagonismo do Congresso é notório, ele agora se insere em um movimento que ainda não se fez tão perceptível: o bolsonarismo vem perdendo lugar no antagonismo ao governo. Diante da possível perda de direitos políticos de Jair Bolsonaro, a extrema direita precisará se articular para 2026; enquanto isso, Lira vai aos poucos ocupando esse espaço de oposição, bastante disposto a exercer a expertise do <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/centrao">centrão</a>: fazer das políticas públicas um balcão de negócios. Recebeu de Bolsonaro o orçamento; não quer menos de Lula.
Governar em 2023 significa se movimentar em um mundo diferente do de 2003 ou 2007 e Lula sabe que caminha em um campo minado. Não pode repetir os erros do mensalão, mas não tem uma base aliada consolidada como tinha no PMDB; precisa reafirmar o valor da democracia; mostrar que defende o meio ambiente e construir políticas públicas que não sejam predatórias, além de zelar pelos indígenas. Esses foram valores fundamentais para que o presidente reunisse em seu entorno um amplo espectro político, da centro-direita à esquerda.
Pois bem, nas últimas semanas, <a href="https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/democracia-em-transe/ao-abracar-ditaduras-politica-externa-de-lula-enfraquece-lideranca-do-brasil-02062023">Lula fez palanque para o ditador venezuelano Nicolás Maduro</a>, mostrou pouca resistência às pressões do centrão para avançar sobre a pauta ambiental e enfraquecer o Ministério dos Povos Indígenas e, agora, pôs na mesa uma proposta para exploração de petróleo na foz do Amazonas – erros que podem custar caro.
É preciso considerar, ainda, que o enfraquecimento do bolsonarismo não necessariamente refletirá numa maior aceitação a Lula. Pelo contrário, o índice de 27% de rejeição, em pesquisa divulgada pela Genial/Quaest em 21 de junho, indica uma porcentagem praticamente igual ao índice de pessoas que aprovavam o governo Bolsonaro no último ano – adesão que não será fortemente afetada pela inelegibilidade do ex-presidente.
Frente a isso, cabe considerar que o governo Lula 3 está apenas no começo. Mudanças econômicas demoram para serem sentidas, mas o presidente terá mais tempo para se readequar ao novo tabuleiro político. A essa altura, ele já se deu conta que o jogo está bem mais difícil que nos primeiros mandatos. É preciso parar de dar cabeçadas e melhorar sua comunicação, chamar os setores progressistas novamente para o diálogo e reafirmar para Lira que a Nova República não optou pelo parlamentarismo. Quem sabe, assim, os indicadores de popularidade começam a acompanhar a melhoria na economia?

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JOTA

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