Opinião e Análise

Vinicius Rodrigues Vieira

“Não somos senhores da razão. Temos que lidar com a correlação de forças no Congresso Nacional”, reconheceu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao comentar na tarde desta quinta-feira (6) o fato de que a reforma tributária, <a href="https://www.jota.info/tributos-e-empresas/tributario/reforma-tributaria-e-aprovada-em-1o-turno-na-camara-dos-deputados-07072023">aprovada horas depois por 382 deputados</a> em votação em 1º turno na Câmara, é expressão da democracia no país. Contra a reforma, somaram-se <a href="https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/07/06/reforma-tributaria-veja-como-votou-cada-deputado.ghtml">118 votos, dos quais 75 (64% do total) vieram do PL</a>, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O isolamento de Bolsonaro, que tentou persuadir seu partido e outros segmentos à direita a fechar voto contrário à matéria, ficou evidente perante a contribuição de seu pupilo, o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos), para finalizar a proposta que foi à plenário. Bolsonaro chegou a falar em particular com Tarcísio, num encontro que teria sido tenso, e, <a href="https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2023/07/06/tarcisio-e-interrompido-por-bolsonaro-e-vaiado-em-reuniao-do-pl.htm">perante a bancada do PL, humilhou sua criatura ao dizer que o governador não entende de política</a>.
Estaria Bolsonaro com medo de passar o bastão da (extrema) direita para Tarcísio? Sem poder concorrer em 2026, o capitão parece não querer competidores em seu campo político em 2030, quando o atual governador de São Paulo pretende concorrer ao Planalto. Porém, a dinâmica de poder dentro do Congresso não necessariamente reflete o termômetro das ruas.
Viu-se sinal de fraqueza de Bolsonaro quando sua inelegibilidade não despertou qualquer manifestação significativa de seus eleitores. Mas não se ouviu silêncio análogo em 2018 quando Lula foi preso pela Lava Jato, à exceção, claro, do entorno do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde o agora presidente realizou um comício para expor a arbitrariedade da Justiça e angariar apoio político antes do cárcere?
Não obstante o otimismo indisfarçável do PIB e da grande imprensa com a pretensa capacidade de Tarcísio encarnar uma direita civilizada, o fato é que a criatura ainda depende do criador. Basta Bolsonaro caracterizar o pupilo como um traidor que ele terá o mesmo destino de Sergio Moro (União Brasil) — competitivo para cargos no Legislativo, mas sem força para chegar ao Planalto.
Para dormir tranquilo até 2030, basta Bolsonaro perguntar: quantos votos têm Gilberto Kassab (PSD), secretário de Governo de Tarcísio e, para desespero da extrema direita, arquiteto da tentativa de mover o governador para a centro-direita tendo em vista a eleição presidencial do fim desta década? A quintessência da moderação pragmática na política nacional é um craque nos bastidores, mas não agrega um voto sequer numa eleição majoritária. Em vez disso, Kassab é o representante-mor da (velha) política, que o capitão e seus seguidores ainda ambicionam destronar em nome do combo bala, Bíblia e boi.
A direita moderada, portanto, ainda depende da extrema direita para chegar ao poder. Caso logre tal objetivo, ainda assim será indistinguível dos radicais, cujo objetivo é refundar a nação em bases religiosas e tradicionalistas, numa agenda anti-iluminista.
Mais fácil Lula e seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, capitalizarem com a reforma tributária que Tarcísio ou mesmo o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), destronar Bolsonaro do posto que ele ocupa independentemente de qualquer sentença judicial: o nome mais carismático e forte que a direita brasileira produziu na história.
Antissistema, o <a href="https://www.jota.info/tudo-sobre/bolsonarismo">bolsonarismo</a> não é um fenômeno institucional, mas sociológico. Isso é o que a maioria dos analistas parece fazer questão de ignorar — talvez para se dizerem mais uma vez surpreendidos caso o Brasil volte para as mãos da extrema direita depois do atual ciclo presidencial. Parafraseando Lula, é impossível ignorar a correlação de forças na sociedade — hoje bastante receptiva à agenda bolsonarista.

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JOTA

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