Opinião e Análise

Vinicius Rodrigues Vieira

As lamentáveis agressões verbais e físicas cometidas contra a família do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes corroboram a visão expressa dias antes pelo seu colega Luís Roberto Barroso sobre o bolsonarismo. Em 12 de julho, Barroso havia falado no congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) que “nós derrotamos a censura, nós derrotamos a tortura, nós derrotamos o bolsonarismo, para permitir a democracia e a manifestação livre de todas as pessoas".
Em virtude da má repercussão de sua fala em círculos à direita, Barroso esclareceu no dia seguinte que a expressão bolsonarismo tinha sido empregada por ele <a href="https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/07/13/barroso-diz-que-se-referiu-a-extremismo-golpista-em-fala-no-congresso-da-une.ghtml">para se referir ao golpismo dos atos de 8 de janeiro.</a> Porém, o ministro não extrapolou suas funções institucionais ainda que tenha querido considerar como bolsonaristas o conjunto dos eleitores que, em 2022, votaram pela reeleição de Jair Bolsonaro (PL) ao cargo de presidente da República.
Ainda que muitos dos 58 milhões de cidadãos que digitaram 22 na urna eletrônica tenham-no feito por estarem imbuídos de sentimento antipetista e antilulista, a escolha que fizeram implicava no sacrifício do Estado democrático de Direito no Brasil. Todos os movimentos golpistas que Bolsonaro fez ao longo de seu mandato e que apenas se intensificaram após sua derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sugerem que a escolha pela reeleição em 2022 foi, sim, um ato consciente de eleitores que estavam dispostos a renunciar à democracia pelas mais diversas razões, inclusive o objetivo de bloquear o retorno da esquerda ao Palácio do Planalto.
O episódio sofrido por Moraes, esposa e filhos no Aeroporto Internacional de Roma expressa a visão de mundo mais antiliberal da população que, muito embora possa não ser "bolsonarista raiz", relativiza os atos da extrema direita em nome de um suposto bem maior — neste caso, a suposta restauração da moralidade na condução do país. A tolerância da direita para com seus extremistas ficou evidente na pesquisa AtlasIntel realizada logo após o 8 de janeiro: <a href="https://www.cnnbrasil.com.br/politica/atlasintel-para-38-ataques-no-df-se-justificam-em-algum-nivel/">38% dos entrevistados afirmaram que as ações golpistas em Brasília justificavam-se em algum nível</a>.
À direita, a defesa da lei e da ordem traz implicitamente o pressuposto da responsabilidade individual, o qual devia ser mui caro a todos os adultos: cabe a cada um responder por suas ações. A aplicação dessa lógica aos eleitores de Bolsonaro — sejam eles de extrema direita ou não — implica na inevitável conclusão de que eles fizeram, sim, uma escolha consciente, haja vista que depois de quatro anos de governo havia evidências abundantes do que nos aguardaria num eventual segundo mandato do ex-presidente: um processo de autocratização do Brasil, aos moldes do que se passa na Turquia de Recep Tayyip Erdoğan, que interveio no Judiciário, no sistema político e prendeu opositores, inclusive acadêmicos, artistas e jornalistas.
Espera-se que, sob o devido processo legal, essa lógica de responsabilização individual leve os agressores de Moraes e sua família a serem punidos por seus atos intimidatórios. Se o bolsonarismo não pode ser controlado pelo debate racional, que a lógica da lei aprovada e exercida democraticamente prevaleça para domar os instintos mais primitivos de seus apoiadores mais fanáticos, assim como daqueles que sem alternativa à direita chegaram ao ponto de quase reeleger um notório golpista para a Suprema Magistratura da Nação.

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JOTA

Extrema direita e seus apoiadores ditos moderados devem ser responsabilizados sob o império da lei

Agressões contra Moraes corroboram visão de Barroso sobre bolsonarismo

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