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Por que o preço da gasolina está tão alto no Brasil?

Confira os motivos e o que alguns dos pré-candidatos à Presidência já disseram sobre o assunto

preço da gasolina 2022
Crédito: Erik Mclean / Pexels

Os consumidores têm sentido no bolso o peso das sucessivas altas nos preços da gasolina desde o ano passado. O combustível ficou mais caro em todo o país e muitos motoristas se questionam por que a gasolina está tão cara? A resposta para essa pergunta envolve diferentes fatores. Neste texto, você saberá o que impacta no preço da gasolina e o que alguns dos pré-candidatos à Presidência da República em 2022 já disseram sobre a alta dos combustíveis.

Para entender os motivos dos reajustes é preciso esclarecer que embora o Brasil seja um grande produtor de petróleo, o preço do barril é cotado no mercado internacional e em dólar. Dessa forma, o preço sofre influência de questões econômicas e geopolíticas. Um exemplo disso é o conflito na Ucrânia, que fez o preço internacional do petróleo disparar em março de 2022.

A importação de derivados de petróleo também influencia no preço da gasolina. Mesmo o país sendo autossuficiente na produção, é preciso comprar petróleo do exterior devido às características do óleo extraído aqui e à estrutura de refinarias do país. Segundo a Petrobras,  94% do petróleo refinado nas refinarias da empresa tem origem nacional.

De acordo com a consultoria Global Petrol Prices, o Brasil ocupa a 99ª posição em um ranking de 170 países em relação ao preço da gasolina. Segundo o levantamento, elaborado em 9 de maio, o litro do combustível é vendido no país, em média, a US$ 1,41 (R$ 7,30). O estudo aponta que a gasolina mais barata do mundo é comercializada na Venezuela a US$0,02 (R$ 0,11), onde é subsidiada pelo governo, e a mais cara em Hong Kong US$2,89 (R$ 14,94).

Preço do barril de petróleo

O preço do barril de petróleo no mercado internacional é um dos principais influenciadores no valor da gasolina consumida no Brasil.

Em 2020, quando os países entraram em confinamento, o preço do petróleo caiu devido à falta de compradores. Já em 2021, conforme as restrições impostas pela pandemia foram diminuindo, a demanda por petróleo voltou a subir e os preços também.

Com o início do conflito na Ucrânia, em fevereiro de  2022, e as sanções impostas à Rússia, houve novamente um aumento no valor do petróleo. Para se ter ideia do impacto, o barril começou 2022 sendo negociado a US$ 73,52 e em 7 de março, atingiu US$ 139,13.  Em 10 de maio, o barril era negociado por US$102,46.

Por que o preço da gasolina aumenta?

O economista do Observatório Social da Petrobras Eric Gil Dantas explica que é a Petrobras quem controla os preços da gasolina na maior parte das refinarias brasileiras, e ela define os valores a partir da Política de Paridade Internacional (PPI). O sistema, adotado em 2016 pelo governo de Michel Temer (MDB), se baseia nos custos de importação do petróleo, que incluem transporte rodoviário e taxas portuárias como referências para o cálculo dos combustíveis.

Gil Dantas comenta que a variação do dólar influencia diretamente no cálculo dos preços dos combustíveis da Petrobras. “Um dos motivos que fez o preço aumentasse tanto no Brasil, para além da variação dos preços do petróleo, foi a deterioração cambial do real frente ao dólar”.

Após sair da refinaria, a gasolina A é vendida para as distribuidoras, que são responsáveis pela mistura com o Etanol Anidro (uma obrigação legal), resultando na gasolina C. Essa gasolina, que tem 73% de gasolina A com 27% de Etanol Anidro, é comercializada com os postos de revenda e, por fim, é vendida ao consumidor. Ou seja, o preço da gasolina nos postos de combustíveis é composto por todo o processo da cadeia de comercialização.

Composição do preço da gasolina

O preço final da gasolina é composto pela produção da Petrobras nas refinarias, impostos federais e estaduais (ICMS, PIS/Pasep e Cofins, e Cide), custo do etanol anidro obrigatório e as margens da distribuição e revenda.

  • Petrobras: 36%
  • Custo Etanol Anidro: 13%
  • ICMS: 27%
  • CIDE, PIS/Pasep e Cofins: 10%
  • Distribuição e revenda: 14%

Eleições 2022: O que os pré-candidatos à Presidência já disseram sobre o preço da gasolina

O que Jair Bolsonaro (PL) disse sobre o preço da gasolina

Bolsonaro já criticou a política de paridade de preços da Petrobras, mas afirmou que não vai interferir no modelo. “Para mim, particularmente falando, é um lucro absurdo que a Petrobras tenha num momento atípico como esse. Não é uma questão apenas interna nossa. Não estou satisfeito com o reajuste, mas não vou interferir no mercado”, disse em março de 2022.

O presidente defende como solução implementar um subsídio para os combustíveis de forma “excepcional”, sem propor mudanças a longo prazo. Na última semana, depois de um novo aumento do diesel, Bolsonaro trocou o ministro de Minas e Energia.

O que Lula (PT) disse sobre o preço da gasolina

O pré-candidato do PT já sugeriu acabar com o modelo atual de preços da Petrobras e investir em refinarias para diminuir importação dos combustíveis. “Por que o preço da gasolina está tão caro? Porque a gente acabou com a BR  [distribuidora] e agora tem quase 400 empresas importando gasolina dos Estados Unidos, importando em dólar, livre de pagamento de imposto e é por isso que o preço está R$ 7, R$ 8. Vamos abrasileirar os preços, não existe explicação da gasolina ser em dólar”, disse Lula em entrevista a blogueiros de esquerda.

O que Ciro Gomes (PDT) disse sobre o preço da gasolina

Pré-candidato pelo PDT, Ciro gomes já fez duras críticas à política de preços dos combustíveis e indicou que, se eleito, vai modificá-la, ao desatrelá-la ao valor do dólar. “A política de preços da Petrobras é um verdadeiro assalto. Bolsonaro é, sim, culpado pelos preços dos combustíveis. E a vinculação dos combustíveis brasileiros ao dólar tem como principal finalidade transformar a Petrobras em uma empresa odiada pelo povo e levar dinheiro para o bolso de barões e acionistas interessados na sua privatização”, disse.

O que João Doria (PSDB) disse sobre o preço da gasolina

O ex-governador de São Paulo já disse que não concorda com uma eventual intervenção na política de preços da estatal. Segundo ele, “é uma medida populista e equivocada”. Ele defende um fundo de compensação para baratear o valor dos combustíveis e a privatização da Petrobras. “Eu, se eleito presidente da República, vou privatizar a Petrobras. Mas não vou fazer um monopólio público virar um monopólio privado. Ela será modelada para ser dividida em quatro, talvez em até cinco empresas, para que haja competição entre essas empresas, uma outorga muito pesada para a população brasileira”, disse Doria, ao podcast No Ringue.

O que Simone Tebet (MDB) disse sobre o preço dos combustíveis

A senadora Simone Tebet, pré-candidata pelo MDB, afirmou que intervir na Petrobras é um caminho que não dá certo. Durante um evento da XP Investimentos, ela expôs seu pensamento em relação à intervenção. “Eu tenho dito muito isso: não há 2023 se nós não sobrevivermos a 2022, com responsabilidade, com critério, obviamente jamais fazendo o que o governo Dilma fez, intervindo na Petrobras”.

O que Eduardo Leite (PSDB) disse sobre o preço dos combustíveis

O ex-governador do Rio Grande do Sul se posicionou contra a mudança na regra de cobrança no ICMS dos combustíveis e disse que a medida é uma cortina de fumaça para o real problema dos combustíveis. “O caminho certo é uma reforma tributária mais ampla para poder descomplicar o país, gerar um ambiente econômico melhor, para que tenhamos de forma permanente a solução, e não tentar resolver no curtíssimo prazo e gerar um problema a longo prazo”, disse Leite em entrevista ao Valor.