“É preciso ter um processo de governança de inteligência artificial (IA). Não é só um problema de tecnologia da informação, é um problema da empresa como um todo”. A frase foi dita por Cezar Taurion, diretor de estratégia da consultoria de inovação Redcore, no segundo dia do 24º Congresso IBGC, relizado nesta quarta-feira (18/10) em São Paulo.
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O especialista foi convidado a discutir como deve ser a governança das empresas diante do crescente uso de inteligência artificial. Para ele, é preciso que executivos e conselheiros entendam que a inteligência artificial vai muito além de ferramentas como o Chat GPT. “É legal querer fazer algo com IA, mas a estratégia não pode ser apenas ‘quero fazer algo com Chat GPT’. Os líderes precisam olhar com mais seriedade as opções existentes no mercado”, diz Taurion.
Sobre o papel dos conselhos de administração, especificamente, o diretor defende que cabe aos conselheiros tanto impulsionar o uso da inteligência artificial nas empresas como ajudar os executivos a colocar em prática uma abordagem estratégica. “O desafio para as empresas é não ser afoito com a tecnologia, mas também não ficar na inação”.
Ana Zamper, fundadora da consultoria ByAZ e membro da comissão de inovação do IBGC, afirmou que a IA vai ser tão revolucionária para os negócios como foi o carvão e a eletricidade. Por isso, na visão da consultora, é preciso que os altos executivos percam o medo e entendam como a tecnologia funciona. Até porque, com o Chat GPT, muitos funcionários podem usar a inteligência artificial sem orientação ou suporte dos gestores. “As empresas têm políticas de compras, de contratação de funcionários e precisam ter também para o uso de IA nos negócios”, disse.
Segurança digital
O consenso entre os palestrantes que participaram do segundo dia do Congresso do IBGC é que mesmo temas técnicos, como cibersegurança, não eximem os conselheiros de sua responsabilidade. Para Fernando Alberto, vice-presidente do conselho de administração do Grupo Fleury, os conselheiros precisam se informar o suficiente para conseguir entender o posicionamento da empresa sobre segurança digital e cobrar que as estruturas de seguranças estejam bem montadas.
“Todas as empresas sofrem milhares de tentativas de ataques por dia, de diferentes formas. Isso afeta a reputação da empresa, expõe informações sensíveis dos clientes, é um assunto que tem que dar mesmo dor de cabeça para o conselho”, diz Alberto.
Segundo o conselheiro, as empresas precisam ter um conjunto de estratégias prontas para entrar em ação no caso de um ataque cibernético. No caso do Grupo Fleury, que sofreu um ataque no começo de 2023, Alberto disse que a empresa percebeu que tinha como melhorar seu plano de contingência e continuidade dos negócios durante ataques para minimizar o impacto nos pacientes. “Sabemos que a questão não é se seremos atacados, é quando seremos atacados. Por isso é importante ter um conjunto de medidas preparadas”, disse.
Já Glória Guimarães, presidente do conselho de administração do AYO Group, defendeu que nem toda empresa precisa ter um conselho especializado em segurança cibernética. Para ela, é mais importante que os conselheiros saibam quem tem esse conhecimento e estejam a par das maiores vulnerabilidades das companhias. “Um ataque cibernético pode afetar negativamente o preço das ações de uma empresa de capital aberto por até dois anos, é importante estar atento”.
Saúde mental: de quem é a responsabilidade?
Durante a tarde, o Congresso propôs a discussão de outro tópico bastante atual: a saúde mental e o burnout no ambiente de trabalho. Fatima Macedo, presidente e fundadora da consultoria Mental Clean, abriu o painel falando sobre como a discussão sobre o tema ainda é recente. A especialista lembrou que o estigma em torno de doenças mentais e o medo de ter sua imagem profissional afetada é algo que impede cerca de 70% das pessoas adoecidas de buscar tratamento. Para ela, a falta de acesso a conhecimento, cuidado e tratamento dificulta muito a prevenção do adoecimento mental nas empresas.
Mesmo em empresas que oferecem ferramentas de suporte, como terapia online e plano de saúde, nem sempre a saúde mental dos funcionários está em dia, como comentou João Kohn, diretor geral da empresa de benefícios Betterfly Brasil. Segundo ele, isso ocorre por causa de uma falta de letramento emocional, que dificulta que as pessoas percebam que estão passando por períodos ansiosos ou depressivos. “Não adianta ter serviços como terapia disponíveis se a pessoa não entender que precisa de ajuda”, disse o diretor.
Kohn disse que percebeu que a saúde mental costuma ser vista pelas lideranças empresariais sob a ótica das consequências que causa para a companhia: pedidos de demissão e faltas. Para o especialista, se quiserem resolver o problema, gestores e membros do conselho de administração precisam focar também nas causas do adoecimento em si. “Acredito que o que causa os problemas de saúde mental nos funcionários também causa boa parte das ineficiências operacionais e comerciais que as empresas têm”, afirmou.
Macedo concorda que os gestores e conselheiros precisam estar a par das causas dos problemas ambientais que estão adoecendo os funcionários. Para ela, é importante parar de responsabilizar os indivíduos pelo seu adoecimento e olhar para a dinâmica de trabalho da própria organização. “O conselho pode ajudar os gestores a identificar e fazer as modificações necessárias nos aspectos tóxicos do ambiente de trabalho”, defende a consultora.