O novo embaixador do Brasil na Arábia Saudita, Sérgio Bath, quer ajudar a acelerar possíveis formações de joint venture entre sauditas e brasileiros na área de fertilizantes.
Com a invasão da Ucrânia pela Rússia, o segmento foi atingido, com altas de preços e risco de desabastecimento, o que pode afetar a produção agrícola no Brasil e ter novos impactos inflacionário no setor de alimentos.
A Arábia Saudita é um grande fabricante desse tipo de insumo, com empresas como a Sabic, e o embaixador vê potenciais benefícios para os dois países ao fomentar cooperação empresarial nessa e em outras áreas. Bath acredita que o BNDES terá papel importante nesse processo.
Ele afirma que já há um time multidisciplinar trabalhando em uma estratégia de investimentos em três etapas. A primeira visaria a aquisição de plantas hibernadas ou ociosas no Brasil, com capacidade de produção imediata. A segunda fase atua nas plantas em construção ou em fases avançadas de projeto e a última será destinada a projetos novos.
“Já temos alguns investidores estrangeiros interessados no projeto. Estrategicamente é um projeto muito importante para o Brasil e outras nações que buscam a segurança alimentar num futuro não muito distante”, salientou. Segundo ele, a fase um pode atrair entre US$ 700 e 900 milhões e as fases dois e três, mais de US$ 2 bilhões em investimentos.
Por outro lado, Bath aponta um grande potencial de crescimento de mercado para produtos brasileiros serem ofertados ao país árabe, inclusive de agrícolas.
Ele lembra que há quatro principais itens na pauta de exportações brasileira para lá: frango, açúcar e melaço, carne bovina e soja. Mesmo assim, a fatia de mercado do país é relativamente pequena: o Brasil é o 13º fornecedor para o reino saudita.
“Além de consolidar os ganhos nesses setores, entendo que seria importante promover a diversificação da pauta de exportações e identificar novos nichos de mercado para produtos brasileiros, disse, citando oportunidades em frutas, sucos de frutas, castanhas, derivados de ovos, mel, grãos, cafés crus especiais, pescados e alimentos industrializados.
O embaixador, que hoje é cônsul-geral na Austrália, também aponta que é possível ampliar a participação de manufaturados e de produtos de maior valor agregado na pauta de exportações.
Nesse sentido, outro foco de atenção que o novo comando da representação brasileira deve ter é na área de Defesa, o qual tem havido tendência de queda no comércio de produtos brasileiros para os sauditas desde 2018.
Ele lembra que o reino planeja investir US$ 20 bilhões no setor até o final da década com o objetivo de produzir localmente 50% de suas necessidades de produtos e serviços de Defesa. A ideia, explica, é reforçar a parceria estratégica e ajudar nas negociações tocadas pelo ministério da Defesa brasileiro no âmbito de acordo de cooperação já existente entre os países.
Além disso, há interesse em atrair os sauditas também para investimentos na área de semicondutores, por meio do fundo de investimento público daquele país. E, como não poderia deixar de ser, Bath quer atrair para o Brasil investimentos do país árabe na área de refino de petróleo.
Questionado sobre os problemas do reino saudita com democracia e direitos humanos, Bath se vale da retórica clássica do Itamaraty. “A tradição diplomática do Brasil sempre foi de judiciosa observância do princípio da não-intervenção, da não ingerência nos assuntos internos dos outros países”, disse. “Aqueles países que desejam questionar este ou aquele aspecto da sociedade de outro país podem perfeitamente fazê-lo nos foros multilaterais competentes, inclusive mediante o recurso ao engajamento construtivo”, completou.