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ChatGPT: 11% dos departamentos jurídicos de empresas usam ou planejam usar IA

Profissionais acreditam que a ferramenta pode ajudar na elaboração de contratos e na pesquisa jurídica

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Crédito: Jonathan Kemper/Unsplash

O lançamento do ChatGPT em novembro de 2022 foi estrondoso: a tecnologia logo de cara atraiu milhões de pessoas curiosas para interagir com uma inteligência artificial (IA) capaz de conversar, tirar dúvidas e gerar textos coerentes. Entusiastas foram rápidos em apontar como a ferramenta chegava para mudar de maneira drástica a forma com que os humanos trabalham e interagem entre si.

Nos departamentos jurídicos das empresas não foi diferente. Um em cada dez membros usa ou planeja usar tecnologias como o ChatGPT em suas operações legais. Cerca de 75% dos profissionais acreditam que a inteligência artificial pode ajudá-los a ganhar tempo na redação e revisão de contratos, enquanto 69% pensam que ela pode facilitar a pesquisa jurídica.

Os dados são de um estudo feito pelo Thomson Reuters Institute, que, em abril, ouviu 587 membros do departamento jurídico de empresas nos Estados Unidos, Reino Unido e Canadá. Quase todos os entrevistados (95%) estão cientes de que essas ferramentas existem e a maioria (82%) acredita que elas podem ser usadas para o trabalho legal. A maior dúvida hoje é se inteligências artificiais generatias como o ChatGPT deveriam ser usadas ou não: só 54% dizem que sim.

“A percepção de risco parece ser o principal obstáculo na adoção de ferramentas de IA generativa nos mercados profissionais. Cerca de 70% dos entrevistados demonstraram essa preocupação, sugerindo que o medo pode estar bloqueando uma adoção mais ampla”, disse ao JOTA Adrián Fognini, diretor executivo da Thomson Reuters para América Latina.

Na pesquisa, os profissionais apontaram que suas principais preocupações são relacionadas a questões de precisão, confidencialidade de dados e segurança. “O ChatGPT gera toneladas de informações, por isso é realmente difícil saber se elas vêm de fontes confiáveis que podem ser verificadas”, apontou Wei Zhao, consultor jurídico geral da Segway.

Por ora, a aceitação de ferramentas de inteligência artificial é maior no departamento legal das empresas do que nos escritórios de advocacia, onde só 3% afirmam já usar e 2% dizem que planejam adotar a ferramenta. Quase um terço (31%) dos participantes da pesquisa que disseram estar interessados em usar o ChatGPT afirmam que querem começar a trabalhar com a tecnologia dentro dos próximos seis meses – em comparação, só 5% das advogados de escritórios disseram o mesmo.

Embora haja uma abertura para o uso interno do ChatGPT nos departamentos jurídicos, 23% dos entrevistados acreditam que a ferramenta não deveria ser usada para trabalho legal feito pelos escritórios de advocacia terceirizados. Um diretor jurídico sênior disse, por exemplo, que consideraria uma fraude se um escritório externo usasse IA para reduzir o tempo de escrita de um documento e ainda cobrasse o mesmo valor. “Uma possível razão para isso é uma maior necessidade de controle até que o cenário esteja mais claro”, diz Fognini.

Para algumas empresas, enquanto não há diretrizes de como usar essas ferramentas de forma segura, é melhor não fazê-lo. A Samsung é um caso emblemático: em maio, após descobrir que alguns funcionários tinham compartilhado dados sensíveis com a IA, a empresa proibiu todos de usarem o ChatGPT e similares. Na pesquisa, 10% dos entrevistados disseram que sua companhia também baniu o uso da tecnologia.

Se os riscos forem minimizados e a confiança aumentar, Fognini acredita que a inteligência artificial pode ser uma grande aliada dos advogados, escritórios e empresas – sem roubar empregos. “Se os negócios e a inteligência artificial trabalharem juntos, isso permitirá que as pessoas se concentrem no que são boas – construindo relacionamentos e cuidando dos clientes”, afirma o diretor.