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Área de tecnologia é ‘oceano azul’ para advocacia, diz presidente de entidade global

Advogado peruano Rafael Torres, da ALL, avalia que área ainda é pouco explorada e pode ter um grande potencial de valor

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Membros da ALL / Crédito: Divulgação

A área de tecnologia não é só promissora para empreendedores e financistas. Na visão de Rafael Torres, sócio do escritório peruano Torres y Torres Lara e presidente da Alianza Internacional de Firmas de Abogados (ALL), o setor é um “novo mundo, um oceano azul” também para as bancas de advocacia.

Oceano azul é um conceito de estratégia empresarial que trata da exploração de segmentos onde há um alto potencial de valor e menor concorrência. Para Torres, do ponto de vista do mercado legal, negócios relacionados a blockchain, criptomoedas, fintechs e regulação tecnológica se enquadram nessa ideia.

“Devemos e estamos já, todas as firmas, tentando nos posicionar no mercado,” porque “há pouca competição, pouca especialização. Queremos ser os primeiros e os principais especialistas, não só no cenário nacional como também internacional,” afirmou o representante durante o primeiro encontro presencial da ALL.

A entidade é uma aliança internacional de escritórios de advocacia, todos de caráter multidisciplinar e para a prestação de serviços corporativos. O anfitrião foi o escritório Nelson Wilians Advogados, sediado em São Paulo, que representa o Brasil na associação.

Além dele e do Torres y Torres Lara, fazem parte da ALL os escritórios Lagos Maclean Abogados (Chile), Perez del Castillo (Uruguai), IHL (Panamá), EJASO ETL Global (Espanha), CRS Advogados (Portugal), Brick Abogados (Colômbia), Cevallos, Casals Balseca & Bilbao Abaogados (Equador), Tavares & Tavares (México), Harper Meyer LPP (EUA), Carnelluti Law Firm (Itália), Lazo de la Vega (Bolívia) e Lex Artis Legal Studio (El Salvador).

Marcel Daltro, diretor do Nelson Wilians e quem capitaneou o encontro, afirmou que a “união desses escritórios de advocacia tem como objetivo ampliar suas expertises, fomentar a troca de experiências jurídica e aumentar a oportunidade de negócios”.

A aliança possui outros escritórios em processo de ingresso e espera atingir o número de 30 associados nos próximos meses.

O próximo encontro será na Espanha, no ano que vem.

Meios alternativos de solução de conflitos em alta

De acordo com Marco Lazo de la Vega, sócio-fundador do escritório boliviano que leva seu nome, um dos segmentos que também tem chamado atenção é o da arbitragem internacional. Quando questionado sobre qual era a situação financeira das bancas de advocacia em sua região, ele disse que seu escritório teve “sorte” porque a tecnologia ajudou o setor.

“Um dos problemas complicados da burocracia da arbitragem antes da pandemia era a questão das viagens, dos árbitros, a viagem para fazer audiências, testemunhais e periciais. Isso realmente foi um fator que burocratizava e atrasava o processo,” contou.

Com a pandemia de Covid-19, continuou, centros de arbitragem internacionais começaram a realizar todo o procedimento arbitral via plataformas digitais, uso que se mantém até hoje.

No México, segundo Benjamin Ponce, sócio do Tavares & Tavares, uma alternativa que tem funcionado é a mediação. O advogado afirmou que são concedidas licenças para mediadores públicos e privados e que o método ajuda a reduzir os problemas com a judicialização excessiva.

“Também ajuda a evitar que haja uma ou duas partes que acabam tendo prejuízos em seus negócios se, no final das contas, eles concordaram em algo e alguém não pôde cumprir ou não soube administrar o negócio. Temos que ajudá-los com a mediação para chegar a um bom acordo e evitar mais prejuízos,” declarou.

Litigiosidade é consequência do acesso ao direito?

Nuno Cruz, do CRS Advogados, ponderou que a existência de muitos litígios não é necessariamente algo negativo. “É um sinal, um indicador, da consciência do direito das pessoas e do acesso ao direito. E acesso ao direito, pela população, pelas empresas, é importantíssimo e é um bom indicador.”

O advogado defendeu que o problema, na realidade, está na falta de modernização no meio judicial, na forma como estão organizadas as soluções para dar resposta a esse acesso ao direito.

“Uma Justiça lenta, independentemente do resultado, é sempre injusta. Portanto, é importante ter uma Justiça que funcione, e ela só funciona se for célere,” concluiu.